LEO
Assim que entramos na casa, fomos recebidos com olhares perturbados dos funcionários:
_Vossa majestade! - Alfred veio rapidamente a nosso encontro, com uma expressão ansiosa - Procuramos você por todas as partes e não o encontramos! Por onde andou? Estávamos preocupados!
_ Desculpe Alfred, eu acabei esquecendo de lhe avisar de que começaria a trabalhar com o humano.
Não esperava ver o vampiro se desculpar com os seus funcionários daquela maneira, talvez a viajem de ônibus tivesse afetado a sua mente, ou ele estava deixando claro que apenas não possuía nenhum respeito por mim:
_Claro, vossa majestade. Apenas não estamos acostumados a tais comportamentos, peço humildemente que nos avise na próxima vez que o senhor for sair da mansão.
_Não se preocupe Alfred, a culpa foi minha por ter saído tão de repente. Eu certamente vos avisarei da próxima vez.
Pela sua frase pude concluir que o vampiro planejava continuar a me seguir por ai e ignorar minhas suplicas:
_A sala de doação já está pronta. - Alfred informou.
_Obrigado, Alfred. Irei me lavar primeiro e depois nos encontraremos lá.
_Como desejar, vossa majestade.
Desta forma, fiquei livre para tomar um banho e me arrumar em meu quarto. Pouco tempo depois, Alfred veio me buscar e me conduziu até a sala onde eu iria doar meu sangue. Havia uma cadeira disposta no centro e uma mesa de metal ao lado, com vários utensílios médicos sobre. Me sentei desjeitosamente na cadeira enquanto Alfred se preparava para tirar meu sengue.
Nesse meio tempo, Sol surgiu pela porta. Ele usava uma calça de pijama azul clara e uma camiseta branca, pelo seu corpo descia um robe azul de cetim, lhe concedendo a elegância de um príncipe, e seus fios dourados estavam presos em um coque desajeitado sobre sua cabeça. Era certo que sua aparência delicada pudesse confundi-lo com alguém gentil, mas eu já conhecia sua personalidade arrogante e não mais me enganaria pela sua graça:
Sol não disse uma palavra e apenas ficou nos observando enquanto Alfred inseria a agulha em minha pele. Eu senti como se fosse uma leve picada e no momento em que a seringa se enchia com meu sangue, eu senti uma sutil quentura no local:
_Concluímos por hoje. - Informou Alfred após colocar o curativo sobre a ferida da agulha. - Iremos repetir essa prática todas as noites, então não se esqueça de tomar seus remédios. - Ele apontou para a pilula sobre a bancada de metal.
_Obrigado, Alfred. - Agradeci enquanto pegava o comprimido e o copo de água.
Enquanto eu ingeria o remédio, Sol se aproximou e me estudou atentamente:
_Eu vim até aqui na expectativa de te ver chorar, mas não tive tanta sorte. - Falou.
Coloquei o copo sobre a mesa e me levantei para encara-lo:
_Desculpe te desapontar, vossa majestade, mas há coisas mais assustadoras dentro dessa casa do que uma agulha.
Ele deu um passo em minha direção, diminuindo drasticamente a distância entre nós. Ele fitava meus olhos com frieza e eu era capaz de sentir o frio que seu corpo exalava por causa da proximidade de nossos corpos, me causando calafrios. No entanto, mantive minha postura ereta e não vacilei perante a sua presença. Eu não daria este gosto a ele:
_Espero que você não esbarre em nada desse tipo durante sua vivencia aqui. - Falou.
O vampirou virou suas costas para mim e saiu da sala sem fazer nenhum barulho, me deixando apenas com a sensação fria de seu corpo.
Eu não consegui dormir direito naquela noite. Não por causa do que Sol havia falado, mas sim por saber que teria que repetir todo aquele processo diariamente até o fim da minha vida. Me levantei da cama silenciosamente e me direcionei até a cozinha para buscar um copo de água. Era tarde e não havia nenhum segurança pelos corredores, o que me deixava um pouco aliviado, apesar de saber que suas presenças ainda estavam ali.
Enquanto caminhava em um dos corredores, escutei alguns murmúrios e no momento em que passei por uma esquina avistei três garotas conversando e dando risinhos. Ele estavam vestidas apenas com langeries e uma delas cobria seu corpo com um lençol de seda rosa.
Passei rapidamente pela esquina sem fazer nenhum barulho, para que elas não se assustassem com a minha presença e me achassem um pervertido.
Eu estava começando a achar que as pessoas que moravam naquela casa eram mais problemáticas do que eu pensava e, é claro, eu não gostaria de descobrir quais eram seus limites.
Assim que terminei de beber um pouco de água, coloquei meu copo sobre a pia e voltei o litro de água para a geladeira, de onde eu havia o pegado. Mas enquanto eu o colocava cuidadosamente dentro do refrigerador, uma voz ecoou atrás de mim:
_Não está conseguindo dormir?
Me assustei com aquele som e bati minha cabeça em um dos repartimentos da geladeira:
_Oh, meu! Me desculpe se o assustei. - Me virei para encarar a voz que vinha de trás e me defrontei com o segundo príncipe sentado sobre o balcão de mármore.
_Vossa majestade! - Me curvei, ainda sentindo pontadas de dor em minha cabeça - Eu não esperava lhe ver aqui.
_Eu vim descansar um pouco antes de retornar as minhas atividades.
Não me diga que suas atividades estavam envolvidas com aquelas mulheres seminuas que encontrei nos corredores!
_Sinto muito se lhe importunei de alguma forma. - Falei.
_De modo algum. - Ele sorriu lindamente - Mas me conte, por que está acordado a essa hora?
_Eu fiquei com sede e vim tomar um pouco de água.
_Por a caso sua insônia tem alguma coisa a ver com o nosso pequeno Sol?
Vacilei com a pergunta que o príncipe havia acabado de fazer. Por parte, porque eu sabia que no fundo isso podia ser verdade.
_Eu apenas preciso me acostumar com a mudança que minha vida deu de uma hora para a outra. Tenho certeza que logo estarei melhor. - A última parte era mentira, mas não podia deixa-lo perceber que eu tinha preocupações em viver em sua casa.
_Acho que pode ser difícil tais mudanças para os humanos, uma vez que suas vidas sejam tão curtas. - Disse pensativo - Mas quero te deixar ciente de que você tem muita importância para todos nós, menso que não seja por motivos comuns.
_Tenho certeza que sim, vossa majestade. - Eu estava louco para acabar aquela conversa, para que eu pudesse me deprimir pela minha vida em meu quarto.
_É estranho. - Disse absorto - Nunca vi Sol sair de casa por espontânea vontade. Nem se implorássemos para dar um passeio ele aceitava sair de seu quarto. Ele viveu muito tempo trancado sem se interessar em conhecer o mundo lá fora. Mas então você apareceu e algo pareceu se iluminar sobre ele e, sem pensar sobre, ele te seguiu até o mundo exterior. - Ele me fitou com um olhar gentil, sua beleza era hipnotizante até mesmo para mim - Leo, posse lhe pedir um favor?
_Claro, vossa majestade.
_Por favor, ensine Sol a viver novamente.
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Private Blood
FantasyEm um mundo onde humanos e vampiros podem coexistir em harmonia, o detetive policial Leo Fide deseja apenas ser capaz de viver sua vida com paz e tranquilidade, após ter passado por uma experiência traumática em sua infância. Contudo, sua comum exis...