Capítulo 28

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LEO

O que eu poderia dizer? Era evidente o quão magoado Thomas estava naquele momento e não podia tirá-lo a razão, eu estive mentindo para ele por todo aquele tempo, o enganado e desconsiderado a confiança que tínhamos um no outro. Não havia mais desculpas, a verdade tinha sido revelada e, mesmo me esforçando tanto para não envolve-lo em toda a bagunça em que minha vida tinha virado, não consegui o protege-lo da minha própria farsa:

_Desculpe, Thomas. - Falei - Eu sei que será difícil de me perdoar e sei que estraguei toda a nossa amizade, mas só fiz tudo isso para te proteger de toda a confusão que se tornou minha vida.

Fez-se um silêncio, Thomas encarou o chão do carro enquanto apoiava os braços sobre os joelhos e Sol não ousou olhar para nenhum de nós dois, apenas ficou calado observando a janela:

_Eu sabia que isso iria acontecer. - A voz rouca de Thomas refletiu dentro do carro - Desde o dia em que soube que um dos príncipes queria te ver, eu sentia um anseio em meu coração. Eu deveria ter ido com você, se eu tivesse apenas seguido o meu coração, as coisas não teriam acabado dessa maneira. Se eu apenas tivesse tido a coragem de te contar a verdade desde o início...

Ele parou de falar e engoliu aquelas palavras finais com esforço. Eu não entendia o que Thomas estava querendo dizer, mas sabia que ele era a última pessoa que tinha culpa pelo que aconteceu. 

Estiquei minha mão e a pousei sobre a cabeça baixa do garoto. A acariciei com gentileza, sentindo o nostálgico toque do seu cabelo entre meus dedos:

_Não se repreenda assim tão duramente. - Falei - Eu fui o único a contar mentiras, então você pode apenas ficar bravo comigo. Está tudo bem se quiser me xingar ou me bater, eu mereço isso, então apenas desconte em mim tudo o que está te fazendo mal.

_Pfft... - Senti seu corpo tremer sobre minha mão. Ele estava rindo. Pensei que aquilo fosse algum sinal de esperança, mas em pouco tempo, sua lágrimas começaram a pingar sobre o carpete. 

Eu desejava abraça-lo, o segurar com força entre meus braços e enxugar cada uma das suas lágrimas. No entanto, apenas recolhi minha mão e me ajeitei em meu banco:

_Nos leve embora, Sol. - Pedi.

O vampiro não se queixou e dirigiu silenciosamente até a mansão em que morava. Alfred foi quem nos ajudou a levar Noé para repousar em um quarto:

_Ora, e quem são todas essas pessoas? - Disse o segundo príncipe.

Ele caminhava com os braços cruzados em nossa direção e já esta vestido com seu traje de dormir. Naquela noite, seu cabelo cumprido estava completamente solto e uma tiara de pano felpuda impedia que suas mechas caíssem sobre seu rosto:

_Nós falhamos em nossa missão. - Sol respondeu com frieza.

_Oh, meu! Você se machucou? - O príncipe correu até seu irmão e o inspecionou com preocupação.

_Eu e Leo estamos bem. - Sol afastou o mais velho. - Mas não conseguimos proteger nossos amigos. Preciso que me ajude a cuidar do humano.

Sol apontou para Thomas, o qual estava sendo apoiado por mim. De repente, a expressão do vampiro ficou séria e, sem demora, correu em nossa direção:

_Ligue para um médico. - O segundo príncipe ordenou enquanto passava o braço livre de Thomas sobre seu ombro - Iremos cuidar dos primeiros socorros, mas precisamos ter certeza de que não há mais nada de errado com ele.

Sol confirmou com a cabeça e desapareceu em um segundo:

_Parece que você apanhou bem feio, humano. - Disse a Thomas.

_Eu falei... Que podia cuidar disso sozinho... - O garoto tentou pronunciar, mas parecia que já estava prestes a desmaiar.

_Certo, certo. - Disse o vampiro - Leo, eu posso leva-lo sozinho.

_Não! Eu preciso ficar junto dele...

_Você irá ajudar mais se for tomar um banho agora. - Senti minhas bochechas corarem - Não se preocupe, eu irei cuidar bem dele, então apenas vá descansar, seu dia parece ter sido bem difícil.

Eu queria opor-me ao vampiro, mas meu corpo estava gritando de fraqueza. O príncipe tinha razão, eu só os atrapalharia se ficasse por perto no estado em que estava:

_Eu conto com sua ajuda, vossa majestade.

Deixei Thomas aos cuidados do segundo príncipe e avancei até meu quarto. Ao entrar,  joguei minhas roupas sujas no chão e segui direto para o chuveiro. À medida em que a água quente percorria minha pele, eu refletia sobre tudo o que havia acontecido naquela noite. - Havíamos falhado em nossa missão. Não tivemos nem tempo de localizar o assassino e logo nos deparamos com alguém que poderia ser tão ruim quanto. A pior parte foi quando defrontei-me com meus amigos sendo feitos de refém, tudo por causa da minha própria incompetência. 

Thomas... Eu havia o magoado novamente e sentia que ele não seria mais capaz de me perdoar outra vez . Era difícil enfrentar aquela realidade. O sentimento de culpa parecia estar corroendo todo o meu corpo e eu repetia a mim mesmo que o mais importante era sua segurança. No entanto, era fato de que nossa amizade nunca mais poderia voltar a ser a mesma. Eu estava ciente disso e por isso minha tristeza era tão grande.

Logo que terminei meu longo banho, enrolei a toalha branca em volta do quadril e sai do banheiro com calma. Naquele instante, a pessoa que sentava em minha cama ergueu seus olhos e me fitou com cautela. 

_Você está bem? - Sol perguntou.

_Honestamente? - Me aproximei dele - Não.

_Já finalizamos os primeiros socorros de Thomas. - Informou - O médico virá amanhã de manhã para examinar sua condição, mas aparentemente não há nada com o que precisamos nos preocupar.

_Obrigado, Sol.

Sentei-me ao lado dele e repousei minha cabeça em seu ombro. Os fios molhados do meu cabelo começaram a pingar sobre as vestes do vampiro, mas ele não reclamou e apenas o cariciou com gentileza:

_Hoje foi uma falha completa. - Comentei.

_Não foi sua culpa, não estávamos preparados para enfrentar um vampiro tão poderoso quanto Vance.

_Se o assassino fizer mais uma vítima por minha causa...

_Nós iremos encontra-lo antes disso! Mesmo que não possamos mais entrar no "Bloody Mary", definitivamente encontraremos outro jeito

Levantei minha cabeça e fitei o vampiro, pois não esperava que realmente fosse dizer algo gentil para me animar. Sua presença parecia estar pouco a pouco me deixando menos deprimido.

_Você é verdadeiramente incrível, Sol. - Declarei.

_Humano tolo, você realmente não consegue esconder suas ambições? - Ele tocou levemente meu nariz com seu dedo e deu um pequeno sorriso.

_Você não tem ideia do quanto desejo de tocar nesse momento. 

Aproximei meu rosto do seu enquanto o encarava apaixonadamente. Sol não demonstrou incomodo mesmo quando minha respiração toucou suavemente sua pele, mas ficou em silêncio por um tempo:

_Que garoto levado. - Pronunciou - Eu terei que ensiná-lo a como se comportar corretamente.

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