Capítulo 36

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THOMAS

Encarei o vampiro em minha frente atônito. Eu queria desmenti-lo, mas nenhuma desculpa saia de minha boca e apenas fiquei o fitando por um tempo:

_C-como você sabe? - Perguntei atordoado.

_Eu seria um idiota para não perceber os sinais. - Respondeu com indiferença.

_Merda. - Enterrei meu rosto em minhas mãos o sentindo ruborizar - Eu fui tão óbvio assim?

_Eu me admiro por Leo não ter o descoberto. - O príncipe se sentou cuidadosamente no canto oposto do colchão.

_Por favor, não conte a ninguém. - Pedi - Não quero que nossa amizade seja ainda mais arruinada.

_Não tenho intenção de contar o seu segredo, mas você não acha que vossa amizade já não está péssima o suficiente?

_Entendo o que quer dizer, mas não sou capaz de consertar as coisas. - Me lamentei - Não é nada fácil aceitar que Leo não precise mais de mim.

_Isso é algo que só você pode aprender. - Ele se levantou - Não é exatamente uma solução efetiva, mas posso lhe ajudar a esquecer um pouco de seus problemas - Disse sugestivo.

Senti novamente meu rosto corar devido a provocação do vampiro:

_Não esperava que você fosse sugerir algo assim. - Evitei encará-lo.

_Só estou dizendo isso pois estou entediado. - Ele caminhou até a porta - Você poderá me encontrar em meus aposentos.

_Não entendo o por quê de ser tão legal comigo.

_Não precisamos de uma desculpa, apenas peço para que não interfira na felicidade de meu irmão.

Dito isso, o vampiro saiu do quarto fechando a porta atrás de si e me deixando sozinho. Fiquei encarando o lugar em que ele estava por alguns minutos, tentando processar tudo o que havia me falado.

Quando a noite chegou, decidi colocar o plano que Raphael havia me transmitido em ação. O objetivo praticamente consistia em fazer com que Sol ingerisse o pó azul que ele havia me entregado. Para isso, eu deveria o diluir em algo que o vampiro fosse beber.

Felizmente, ninguém prestava atenção em mim pelos corredores e, por isso, foi muito fácil chegar até a sala onde eles armazenavam o sangue. O líquido havia acabado de ser coletado e logo o mordomo retornaria para levá-lo até Sol, então eu precisava ser rápido. Peguei o tubo de ensaio em que continha o sangue de Leo e misturei o pó que estava guardado em um saquinho. Coloquei o tubo de ensaio de volta no lugar e sai da sala evitando fazer qualquer barulho.

Meu coração estava disparado enquanto eu andava pelos corredores. Eu ainda não acreditava que eu era capaz de drogar alguém apenas para ter meu amigo de volta, mas não tinha nenhum arrependimento. Se eu apenas pudesse ter nossa amizade de volta, então tudo valeria a pena.

Percebi que estava prestes a passar diante do quarto de Leo e, por instinto, parei em frente a sua porta. Queria bater e saber se o rapaz estava bem, mas sentia que se fizesse isso, perderia toda a coragem de seguir com o plano.

Porém, de modo súbito, a porta do quarto se abriu e eu dei de cara com meu melhor amigo:

_Oh! _Oh! - Nós nos assustamos.

_Thomas! - Falou - Não esperava te ver aqui.

_Eu vim me desculpar pelo meu comportamento durante esses dias. - Menti - Eu realmente não queria lhe preocupar.

_Ah! C-certo. - Ele hesitou por um momento.

_Você não está conseguindo dormir?

_Ultimamente estou passando vários dias em claro.

_Acho que isso é um pouco minha culpa. - Dei um sorriso desajeitado, me sentindo envergonhado - Já que nós dois não conseguimos dormir, que tal bebermos um pouco? Como nos velhos tempos.

_Eu adoraria.

Desse modo, nos reunimos frente a frente no balcão de mármore da cozinha e começamos a beber. Eu tentava fingir que estava tudo bem, mas por dentro sentia uma enorme insegurança de que meu plano não fosse dar certo. Era um alívio poder conversar com Leo assim como costumávamos a fazer, mas não conseguia parar de pensar no que havia feito.

Leo decidiu que era melhor parar de beber e ir para cama, mas eu disse que ficaria por ali por mais um tempo. Assim que ele saiu, me debrucei miseravelmente sobre o balcão de mármore gelado. - Só mais um pouco! Se eu conseguir suportar só mais um pouco, então todo esse pesadelo iria acabar!

Tirei as latas de cima do balcão e arrumei a cozinha antes de sair. Pelos corredores, eu caminhava distraído, pensando no que estaria acontecendo entre Leo e Sol naquele momento. - Será que a droga já havia feito efeito? Ou será que meu plano falharia? - Não conseguia parar de ter esses pensamentos até notar onde estava.

Talvez, por impulso, meu corpo tenha me levado até aquele lugar, mas não era como se eu tivesse cabeça para continuar. No entanto, a porta em minha frente se abriu com um estalo e, de trás dela, o segundo vampiro surgiu:

_Não é isso que está pensando. - Falei apressadamente.

O vampiro se escorou no batente e cruzou os braços enquanto me analisava:

_Está pálido. - Comentou - Parece que acabou de ver um fantasma.

Eu estava nervoso por causa do plano, então era claro que eu aparentava estar mal. Porém, não podia contar a verdade para o vampiro parado em minha frente, pois ele me mataria na mesma hora:

_Deve ser por causa dos ferimentos que ainda estão doloridos. - Falei.

_Está mentindo. - Sua resposta me pegou de surpresa e fez meu coração disparar. Um passo em falso e eu acabaria com a cabeça cortada no mesmo instante. - Mas não desejo saber dos seu motivos, não há coisa mais desinteressante do que os problemas das outras pessoas.

_D-desculpe, vossa majestade. - Respondi nervoso.

_Não vai entrar?

_C-como?

_Estou perguntando se não irá entrar em meu quarto. Por acaso veio até aqui apenas para desperdiçar meu tempo?

Engoli seco. Estava com medo de que ele pudesse fazer alguma coisa comigo caso eu rejeitasse sua proposta:

_D-de jeito nenhum, vossa majetsade.

Hesitante, entre de vagar em seus aposentos e, como o barulho da porta sendo fechada atrás de mim, me senti ainda mais tenso.

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