Davi
Quando voltei pra sala, tive que interpretar um verdadeiro ator, para que a Rosa não percebesse o meu real sentimento naquele momento.
Ódio.
Fingi costume, e até sorri forçadamente, e apesar de não parecer muito convencida a minha resposta à sua pergunta: "Tudo bem?"
Ela não insistiu.O clima na sala era o mesmo de quando eu saí, aparentemente, ninguém ouviu o que aconteceu na cozinha.
Minha mãe, ainda com o rosto meio inchado do choro, serviu o jantar com um sorriso estampado no rosto.
A velha veio em seguida sentar a mesa também, e me olhava com o mais puro desprezo.
Eu, por outro lado, tentava parecer normal,
Pelo bem da minha mãe e da Rosa, porque se dependesse de mim, pratos iriam voar.
Mas, em alguns momentos, eu me pegava olhando profundamente nos olhos da minha avó, me perguntando: Como eu posso ter o mesmo sangue e sobrenome que essa ela?Todos estavam conversando entre si, meu pai tentou amenizar o clima contando umas piadas ruins, mas minha avó interrompeu.
—Chega dessas piadas, pelo amor! —ela disse ranzinza. —Rosa, o seu pai também conta piadas ruins assim?
Chega a ser inacreditável... Ela envolveu a Rosa na conversa só para me desafiar.
Rosa sorriu, meio sem graça.
—Eu não conheci meu pai, senhora.
—Oh não? É filha de mãe solteira?—perguntou e em seguida bebeu seu vinho lentamente.
—O "meu pai" abandonou a gente quando eu ainda estava na barriga, fui criada pela minha mãe sozinha, ela é o meu maior orgulho e inspiração de mulher.
—A mãe da Rosa é muito guerreira, e criou uma mulher tão guerreira quanto ela. —Eu reforcei as palavras do meu amor, e sorri pra ela.
—Guerreira...imagino.—A velha me fuzilou com o olhar— E me diz Rosa, em qual favela mora?
—Mãe, por favor. —minha mãe sussurrou.
Eu já estava prestes a levantar pra ir embora, estava de saco cheio, quando a Rosa me surpreendeu respondendo a pergunta de cabeça erguida.
—Não moro, e nem nunca morei em favela, senhora. Moro aqui mesmo nesse bairro.
—Jura? Que interessante...E em que você trabalha?
—Eu trabalho com venda de diversos tipos de doces, inclusive essa sobremesa que a senhora está comendo, foi eu que fiz.
—Oh.. leva jeito. E.. você estuda? Faz faculdade? Caso não... Já pode trabalhar pra mim, lá em casa, querida.
Rosa sorriu, mas não um sorriso sincero.
—Passei em primeiro lugar na faculdade de Direito. Acho que não vai dar pra te ajudar, querida. —sorriu.
Minha avó quis estender essa conversa, que parecia mais uma entrevista, mas eu não permiti. Não queria que a Rosa se sentisse mal com aquelas perguntas, apesar de que todas as respostas que a Rosa estava dando, deixava minha avó de queixo caído.
Terminamos o jantar, e finalmente a velha foi embora da minha casa. Eu não aguentava mais. A partir de agora, sei que sou o neto mais odiado de todos, mas eu não ligo.
O importante foi que consegui passar por isso sem cometer um crime.No caminho de volta pra casa da Rosa, ela me disse o que eu mais temia.
—Sobre sua avó...—ela sorriu, tentando procurar as palavras certas. —Ela não gostou muito de mim né?
—Ela é assim, infelizmente. —eu disse sério.
—Você quis dizer racista?
Não tinha mais palavra certa do que essa.
Assenti com a cabeça.
—É.. eu senti no ar, desde que ela pisou na sua casa. —Rosa confessou.
—Eu quis morrer e matar ela ao mesmo tempo quando soube disso.
Eu ia te levar embora, mas meu pai insistiu, e eu só fiquei porque não queria estragar o aniversário da minha mãe... Eu achei que você não perceberia e...—Calma.. —ela disse. — Não precisa se justificar tanto. Eu sei como pessoas como ela agem, são anos passando por isso e provavelmente essa não é a última vez.
Eu só consigo sentir pena dela...
E orgulho de mim, porque passei por cima de uma racista hoje. —ela sorriu.Sorri.
A Rosa é forte e me inspira muito.
—Quero casar com você. —Eu disse antes de agarrá-la e dar um beijo.
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Na semana seguinte, em resposta aos ataques que a Rosa e o Cadu sofreram por sua cor, Nos Insanos incentivamos os nossos seguidores a irem todos em uma competição nossa, com cartazes antiracistas, em forma de mostrar para todos que quisessem olhar, que estamos juntos nessa e se precisar fazer barulho... Vamos fazer.
Ganhamos a competição, e o melhor, Cadu e Rosa se sentiram abraçados, e isso melhorou os meus dias.
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INSANOS - Sequência Imperdível de Maria Macho
Teen FictionApós ganharem o concurso Skateboard league, Os Insanos ganharam mais visibilidade no mundo do skate, consequentemente, mais pessoas entraram em suas vidas, porém, nem tudo é um mar de rosas, muitos problemas irão surgir no meio do caminho, será que...