27 - Fique

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Maria

—Por favor, fique aqui. —ele disse fraco, mais uma vez.

Eu estava tremendo da cabeça aos pés.
Estava com medo, e não sabia o que fazer.

As minhas alternativas não eram tão atrativas.
Estava de noite e eu teria que atravessar sozinha pro outro lado da trilha, e caso eu tivesse sorte, eu conseguiria ajuda de alguém na praia.

E Vitor detestava a ideia de eu ir, mesmo sabendo que está ferido.

Deixar ele morrer na minha frente definitivamente não era uma opção, mas ver ele implorar pra eu ficar ali com ele, fazia meu coração partir em pedacinhos.

Involuntariamente eu me abaixei ao lado dele, rendida.

Depois me deitei no chão com ele, de forma que ele fosse a concha menor.

Estava tremendo mais que eu, só que de frio.

—Me perdoa, isso é tudo culpa minha. —eu disse enquanto o abraçava.

Senti ele puxar minha mão pra mais perto do peito dele.

—Me perdoa por você estar passando por isso, eu fui teimoso. —ele disse.

—Me deixa ir procurar ajuda, você está ferido. —eu disse.

—Acho que aguento uma noite. Você não pode voltar sozinha, é perigoso.

—É perigoso pra você ficar aqui dessa forma também. —eu disse.

Ele segurou minha mão com mais força.

Ele é teimoso, e só há um jeito de sair daqui.

Quando ele finalmente dormir.

Então parei de conversar com ele, parei de contestar, para que ele pudesse dormir e eu ir atrás de alguém pra tirar a gente daqui.

Alguns minutos se passaram e ficava cada vez mais frio. Alguns barulhos de animais me deixavam com medo.

Porém, saber que meu namorado estava perdendo sangue a cada minuto, me deixava com mais medo ainda.

Quando ele finalmente dormiu, eu não precisei sair do lugar.

Ouvi passos densos e desesperados de aproximando com lanternas ligadas na nossa direção.

Uma mistura de alívio e desespero tomou conta de mim, quando vi Meus pais, e o pai do Vitor vindo na minha direção ao lado do senhor que vou a gente na praia.

Alívio porque Vitor vai conseguir ser atendido por um médio, e desespero porque eu não sabia o que viria a partir daqui.

—VITOR! —O pai do Vitor gritou indo na direção do filho. —O que aconteceu com você?!

Minha mãe estava chorando, veio na minha direção e me abraçou como nunca antes, bem forte.

—Ele tá queimando em febre. O Que aconteceu com ele, Maria? —O pai dele perguntou visivelmente alterado.

—Ele caiu, e prendeu o pé em uma das pedras. —eu disse no meio de choros e soluços. —Teve um corte no pé.

—Tenho que levar ele pro hospital. —O pai do Vitor o ergueu, e o apoiou.

Vitor já não estava mais tão consciente quanto há algumas horas atrás.

Não estava falando, sua aparência era cansada e ele parecia não me ouvir.

Minha mãe não me largou um minuto. Tive que observar o Vitor ser carregado pelo pai dele, enquanto os meus me enchiam de perguntas.

Eu não conseguia responder nenhuma.

Na minha cabeça, a cena dele sendo carregado passou em câmera lenta, enquanto meus pais discutiam com o pai do Vitor.

Em seguida, minha visão ficou turva, a voz dos meus pais abafada, e eu só lembro de ter caído.

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—Oi? Maria luz, acorde! Hora do remedinho! —Uma voz um tanto angelical me chamou. Cheguei a pensar que estivesse morta, mas era uma enfermeira jovem com uma bandeja nas mãos.

Abri os olhos com um pouco de dificuldade.

—Que remédio é esse? Por que eu tô aqui?

—Calma, você está aqui porque teve uma desidratação.um pouco grave, Mas está bem melhor agora. —ela sorriu e me entregou o remédio. —O remédio é pra te ajudar nisso.

Rapidamente um flashback apareceu na minha cabeça.

A cena do Vitor caindo, e da gente passando a noite no meio do mato reviveu na minha mente.

—Vitor. —eu disse. —O Vitor Menezes está aqui também?

Reparei que a enfermeira jovem estava um pouco retraída. Estava dando voltas na resposta, e no fim não respondeu nada.

—Está ou não? —perguntei de novo. —Por favor, me diz.

Minha mente já imaginou o pior.

Por que ela não queria me dizer se ele estava ali ou não?

—Já conferiu a pressão dela, Natália? —Uma outra médica, mais velha e mais séria perguntou pra enfermeira.

—Já sim, doutora. Está normal. —A enfermeira jovem disse.

—Muito bem.

Em seguida, a médica saiu da minha sala.

—Olha Maria, desculpa não ter te respondido. É que a doutora que estava aqui é minha supervisora, e ela é carrasca. Sou Natália, enfermeira estagiária.
E Sim, o Vitor Menezes está internado aqui também, pode ficar tranquila que ele está bem melhor que ontem.

—Como está o pé dele? Ele está consciente?

—O Vitor passou por uma pequena cirugia para fechar a ferida aberta, precisou levar alguns pontos, eu também estou cuidando dele, Ele está sim consciente e perguntou sobre você. —sorriu. —Sou uma boa ouvinte, sei que vocês são namorados e que estavam em uma "aventura".

Aventura essa que provavelmente nunca mais será repetida.

—Uma baita aventura. —eu disse.

—Seus pais estiveram aqui mais cedo, e os pais dele também, houve uma pequena discussão. —ela disse enquanto ajeitava o meu travesseiro.

—Meu Deus, eu não quero nem pensar como vai ser depois que eu sair daqui. —Confessei.

—Tudo vai se resolver. —ela sorriu.

—Queria poder falar com o Vitor. —disse.

A Natália me olhou por alguns segundos, acho que sentiu pena de mim, e logo arranjou uma solução.


Me deu um caderninho e uma caneta.

—Consegue escrever uma carta?

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INSANOS - Sequência Imperdível de Maria MachoOnde histórias criam vida. Descubra agora