Vitor
Maria e eu fomos imediatamente pro hospital.
Minha mente estava tão perturbada, que não consegui ir dirigindo, tivemos que chamar um motorista de aplicativo.
Assim que chegamos, fui direto pro quarto da Thainá.
Mas a enfermeira informou que ela tinha mudado de quarto, e que agora estava na sala vermelha.
A enfermeira nos levou até outro andar, no quarto onde a Thainá estava agora, meus pais estavam sentados nesse corredor, quando me viu, minha mãe veio me abraçar.
Estava chorando.
-O que está acontecendo? -eu perguntava, mas ninguém me respondia.
Isso só me deixava mais ansioso.
Até que minhas perguntas tiveram respostas, quando a Doutora saiu pra conversar com a gente.
-Bom, eu vou direto ao ponto porque acho que é isso que querem. -disse. -Na noite passada, Thainá teve uma parada cardíaca, conseguimos reanimá-la. Depois disso ela teve 3 convulsões seguidas, tivemos que entubá-la de novo. Quando a tiramos, fizemos alguns testes com informações dadas pelos pais, mas ela não lembrava de muitas coisas, mais especificamente de toda vida dela antes do câncer. Ela também perdeu o movimento das duas pernas. Consegue ouvir e falar, mas não sente as pernas e nem o braço esquerdo. Os remédios são muito agressivos, a partir de ontem ela só é alimentada através de sondas. Ela sente muita dor, está sendo medicada o tempo inteiro para que a dor não acabe com ela...mas repito, os remédios são muito agressivos e pesados. Ela perdeu peso, o que não é um bom sinal, chamei todos vocês aqui porque... Acho que a hora da despedida chegou.
Eu já estava chorando, mas a última frase me matou por dentro.
O choro abafado da minha mãe no ombro do meu pai, deixava aquele cenário ainda mais horroroso.
Eu caí no chão, de tanta dor.A Maria estava ali comigo, me abraçando no chão também.
-Eu não quero que ela vá, não quero. -eu repetia pra Maria.
-Eu sei. -ela dizia, e me abraçava forte.
Ficamos ali por bastante tempo, até eu me acalmar um pouco.
A doutora chamou toda a família para entrar no quarto juntos, mas eu não quis.
Queria entrar lá sozinho, e falar com ela sozinho.
Meus pais entraram juntos.
Minutos depois, Os Insanos chegaram lá pra me dar assistência, cada um deles com um ombro amigo, e um abraço.
Eu não tinha forças, mas de alguma forma a presença de todos ali me ajudou, sabia que não estava sozinho.
Quando meus pais saíram da sala, e era a minha vez de entrar, senti como se tudo estivesse em câmera lenta.
Olhei pros Insanos sentados lado a lado, me olhando com lágrimas nos olhos.
Pros meus pais que estavam com o olhar vazio.
Pra médica com o olhar de pena.
E entrei, sentindo cada centímetro do meu corpo estremecendo.
Tainá estava deitada da cama, parecia tão pequena e frágil como eu nunca vi.
Ela olhou nos meus olhos, também estava chorando.
-Irmão. -ela disse tão baixo como um suspiro.
Eu a abracei.
-Você viu o seu presente? -perguntou com dificuldade.
-Sim. -respondi sem soltá-la. -Eu vi. E eu adorei.
Eu não conseguia parar de chorar.
Conseguia sentir o toque da mão dela, nas minhas costas.-Calma... -ela dizia. E de alguma forma a voz dela realmente me acalmou.
Olhei nos fundos dos olhos dela.
-Eu preciso ir agora... -ela disse.
Fiz que não com a cabeça.
Ela mandou eu me aproximar.
Eu me abaixei perto dela.
Thainá passou sua mão direita sob meu rosto suavemente.
-Você nunca estará sozinho. Jamais. -ela disse olhando nos meus olhos. -Você é o meu preferido, meu menino, meu irmão, meu protegido, meu bebê. Eu jamais vou deixar você sozinho, eu te prometo.
Ela dizia e eu só chorava mais.
-Thaitai, meu coração dói tanto, essa ferida nunca vai fechar se você for.
-Vai fechar, pode demorar um pouquinho, mas vai. Eu preciso ir, também estou sofrendo, e é por isso que eu vou, ou você acha que eu mereço sofrer?
Fiz que não com a cabeça.
-Sem você eu não quero viver. -eu disse.
-Você vai viver e vai viver intensamente. Por mim. -ela sorriu. -Vai cuidar do papai e da mamãe. Vai ter filhos com olhinhos verdes que nem os seus, não é a sua vontade? E você vai contar pra eles como a tia deles foi incrível.
Você vai ser um skatista muito famoso, e você vai viajar muito. Você vai a todas as festas e você vai tirar fotos sorrindo. Você vai comer besteiras de vez em quando e tomar sorvete na sorveteria do Maikin, um de cada sabor como você me ensinou, Você vai ser muito feliz e eu vou estar feliz te vendo feliz.-Eu te amo tanto. -foi tudo que eu consegui dizer.
-Eu te amo. -ela disse. -Mas eu preciso ir. Mas eu só vou conseguir ir, sabendo que você entendeu... Não quero que sofra tanto.
-Eu também não quero que você sofra.-eu disse chorando.
Ela apertou minha mão.
-Me deixe ir. -ela disse chorando. -Diz pra mim que vai entender se eu for.
Eu não conseguia responder.
Até que ela fez uma expressão de dor extrema.
Começou a gritar e se contorcer. Parecia uma cena de terror.
Gritei pela enfermeira que rapidamente veio aplicar um remédio na veia dela.A outra enfermeira me tirou de dentro do quarto, até que elas resolvessem o que estava acontecendo.
Eu presenciei cada segundo.
O quanto a minha irmã estava sofrendo.
E eu não queria que ela vivesse assim.
Não mesmo.Quando vi ela gritar de tanta dor, entendi o porquê dela ter que ir... Pra não sofrer mais.
Quando a médica me liberou pra voltar pro quarto, eu já tinha tomado minha decisão.
Com a respiração ofegante, eu ajoelhei do lado da cama dela.
Segurei sua mão.
Os olhos já vermelhos da Thainá acompanhavam cada movimento meu em silêncio.
-Eu te deixo ir. - eu disse sentindo a dor que eu achava que era a pior do mundo.
Mas estava enganado.
A pior dor do mundo, foi ouvir o aparelho de batimentos cardíacos passar de um bip alternado, para um som continuo indicando que minha irmã acabara de morrer.
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INSANOS - Sequência Imperdível de Maria Macho
Teen FictionApós ganharem o concurso Skateboard league, Os Insanos ganharam mais visibilidade no mundo do skate, consequentemente, mais pessoas entraram em suas vidas, porém, nem tudo é um mar de rosas, muitos problemas irão surgir no meio do caminho, será que...