61 - Não posso aceitar

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Vitor

Quase pulei de felicidade.

—Thaithai, você sabe quem sou eu? —perguntei.

Ela sorriu.

—Irmão. —ela disse com a voz baixa e um pouco rouca.

Eu quase caí pra trás.
Ela consegue falar!

—Doutora! Ela falou irmão, você ouviu?! Você ouviu?!!

Eu fiquei tão eufórico que abracei a doutora sem nem perceber, acordei a Maria e estava a ponto de sair correndo por aquele hospital acordando todo mundo.

Minha irmã estava falando.

—Amor, vem ver quem está acordada e falando. —eu disse empolgado e emocionado.

A Maria levantou em um só pulo e apareceu pra Thainá.

—Oi Thainá, você lembra de mim? —A Maria perguntou segurando a mão dela.

A Thainá abriu outro sorriso.

—Cunhadinha. —ela disse.

—Isso, sou eu, sua cunhadinha! — A Maria disse também emocionada, sorrindo a toa.

Ela me abraçou.

—Adivinha thaitai, estamos juntos de novo. —eu disse.

Ela abriu um sorriso, de alívio dessa vez.

Minutos depois os meus pais já estavam lá, e os Insanos também.

A doutora abriu uma exceção, porque precisava fazer alguns testes com a Thainá, pra ver se a memória dela estava 100%.

Ela acertou os nomes de todos os Insanos, e ainda lembrou o nome do Jairinho puro osso, essa é minha garota.

A médica pediu para que saíssemos da sala e deixasse que ela avaliasse a Thainá sozinha.

Os Insanos ao me verem abraçado com a Maria, deduziram que estava tudo bem entre a gente, finalmente.

—Maria Luz, quanta raiva eu passei contigo em minha filha. —disse João. —Mas já que você voltou a namorar o Vitinho, você vai voltar com os Insanos também né?

—As Cats vão me matar. —ela disse. —Mas sim, eu tô de volta.

—Quem se importa com as Cats?! —Cadu perguntou. —Tô feliz que você tenha voltado, Maria. Se você continuasse nas cats por mais um dia, eu ia passar a te odiar.

—Não ia não! —ela riu.

Ficamos um tempo ali conversando, até que os Insanos foram embora e ficamos só eu e a Maria.
Eu estava tão cansado da noite passada, que precisava de um longo banho, comida e um bom sono.

Quando eu já estava me preparando pra ir pra casa descansar, minha mãe me chamou.

—Filho, a doutora quer falar uma coisa com a gente antes de você ir pra casa. —disse.

Só pela voz dela, eu já sabia que tinha algo errado.

Antes de eu ir, a Maria me deu um abraço e disse que esperaria eu voltar.

A doutora nos encaminhou até a sala dela.

—Agora que estão todos aqui, posso falar. —iniciou.

Eu já estava nervoso.

—Eu sei que estão felizes porque a Thainá demonstrou uma melhora, conseguiu reconhecer a família e os amigos, conseguiu lembrar de coisas do passado, mas eu tenho que trazer vocês para a realidade.
A Thainá é uma mulher forte, mas o caso dela é muito grave, mesmo não tendo atingido a memória e a fala, o câncer vem devastando o cérebro dela aos poucos. Eu sinto muito em estar tendo que dar essa notícia pra vocês, mas eu preciso dizer a verdade, porque eu vi a esperança em seus olhos, Vitor.

É inacreditável. Eu me segurei pra não xingar aquela médica alí mesmo.

—Você viu a esperança nos meus olhos e fez questão de tentar acabar com ela na mesma hora né, doutora?

—Vitor... —Minha mãe me repreendeu. —A doutora tem razão.

—Tá de brincadeira, mãe?! Ela acabou de dizer pra gente perder as esperanças que a Thainá vai morrer, você não ouviu isso?!
Pai?! O senhor concorda comigo?

—Vitor.. eu sei que é difícil, filho. É difícil pra todos nós, mas uma hora você vai ter que aceitar que...

Não é possível que eles estejam aceitando isso.

—Quer saber? Eu tenho esperanças sim e vou continuar tendo, nem que por um milagre, mas eu acredito que minha irmã vai ficar bem. —eu disse antes de sair o mais rápido que pude daquela sala.

Passei que nem uma bala pela recepção, e só parei quando ouvi a Maria gritar o meu nome.

Ela me abraçou e só então eu consegui acalmar meus ânimos.

—Essa médica já tirou as esperanças dos meus pais, agora está querendo acabar com a minha também mas eu não vou deixar.

Ela me apertou mais ainda e ficamos em silêncio por alguns segundos.

—Vamos pra casa, você precisa descansar um um pouco. —ela disse segurando minha mão.

A Maria e eu fomos pra minha casa, eu consegui tomar banho e nós finalmente fazer uma refeição digna.

Eu entrei no quarto da Thainá, fiquei olhando as coisas dela por vários minutos.

Eu nunca vou aceitar isso.
Como eu posso aceitar que minha irmã vai viver até os 25, não vai terminar a faculdade dela, que ela estudou tanto pra passar; não vai conhecer os meus futuros filhos; não vai se casar, que era uma coisa que ela queria tanto; não vai me ver ganhar os concursos como sempre fez; Não vai cumprir a lista de desejos dela...eu não posso aceitar isso.

Olhando algumas fotos de quando a gente era criança, eu me perguntei se eu realmente aproveitei a presença dela durante todos esses anos.
Lamentei por quando éramos brigões e brigávamos por coisas tão pequenas, coisas de irmãos, mas eu me arrependo de cada momento em que eu não demonstrei que ela é especial demais pra mim.

—Não quero mais ficar aqui remoendo isso. —eu disse a Maria, que me observava da porta.

—Vamos pra minha casa. —sugeriu.

—E sua mãe? Ela me odeia, vai odiar mais ainda quando saber que a gente voltou.

—Uma hora, ela vai ter que saber, mas relaxa, ela não está em casa essa hora, e meu pai está trabalhando.

Concordei.

Nós fomos pra casa dela.

Ela tomou um banho, e nós ficamos na sala da casa dela,  assistindo um filme aleatório, abraçados.
Ela fazia carinho no meu cabelo.

O silêncio não era mais estranho, era confortante estar com ela, ainda mais que nesse momento minha vida está um caos.

Acho que estávamos tão cansados da noite passada, que não percebemos quando dormimos ali mesmo no sofá.

Só percebemos quando a mãe dela nos acordou aos berros.

—O que esse menino tá fazendo no meu sofá?!

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INSANOS - Sequência Imperdível de Maria MachoOnde histórias criam vida. Descubra agora