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Rose estava parada na frente da grande árvore de cerejeira, em um local afastado nos jardins. Encarava com tristeza o local onde o Daehan havia sido enterrado. Havia flores e alguns objetos postos ali por Thomas, Jacob e algumas outras pessoas que visitavam o túmulo com frequência. Rose não era uma dessas pessoas.

– Oi, Dae. – Rose sussurrou, não era como se o Daehan pudesse ouvi-la, mas ela queria falar. – Desculpe-me por não ter vindo antes, eu não tinha forças pra isso. Bem, acho que também não tenho agora... Eu sempre falei para você ir embora porque eu não queria que você vivesse em um lugar como esse, e agora você está enterrado aqui. – Fez uma pausa. O vento balançava as folhas da árvore de cerejeira e bagunçava os cabelos de Rose. – Eu estou indo para guerra. Partirei ao amanhecer. Se você estivesse aqui, tentaria me convencer a não matar o Robert, mas você não está.

Aproximou-se da lápide de seu irmão e se abaixou, passando a mão sobre a pedra fria, retirando as folhas que haviam caído sobre ela. Imaginava o corpo de Daehan, metros abaixo, lembrando de quando o viu pela última vez. De quando o viu vivo e bem pela última vez.

Será que ainda se pareceria com ele? Ela questionava. Será que seus lindos cabelos escuros ainda estavam sedosos? E seus olhos? Amendoados e agora sem vida, que sempre foram lindos, mas que nunca voltariam a se abrir e brilhar junto com seu sorriso largo. Será que o irmão dela, exatamente como ela lembrava, ainda estava ali ou a terra havia feito o seu trabalho e corroído tudo? Desaparecido com tudo?

Rose daria qualquer coisa para vê-lo de novo. Queria abraçá-lo forte e não soltar nunca mais. Se pegou desejando que as histórias que ouvira quando criança fossem reais, as que contavam sobre criaturas mágicas que realizavam desejos. Ela pediria seu irmão de volta, não importando o preço que precisasse pagar.

Porém, ela não era mais uma criança havia muito tempo. Criaturas mágicas que realizavam desejos não existiam e ela nunca mais o veria. Teria que lidar com essa realidade aterrorizante e dolorosa para sempre, e sinceramente ela não queria ter que fazer isso.

– O Aron voltou. Você sempre teve esperanças que ele retornaria algum dia. – Rose continuou. – Ele me pediu para voltar ao exército, e eu não pude negá-lo isso. Eu vou fazer o que deve ser feito, Dae. Eu sempre faço o que deve ser feito, mesmo que não me orgulhe de fazer. – Encarou fixamente a lápide com o nome do seu irmão cravado e se questionou se uma vida inteira poderia ser resumida a um pequeno pedaço de pedra.

Daehan era gigante. Era bondoso, sempre ajudando todos que precisavam. Era teimoso, sim, e às vezes impulsivo, mas não era uma má pessoa, nunca seria, nem mesmo se ele se esforçasse para se tornar conseguiria. Rose sempre invejou o coração puro de seu irmão, porque ela achava lindo.

Achava lindo a forma que ele sempre procurava bondade em todos, mesmo que ela sempre o aconselhasse a não ser tão ingênuo em confiar tão rapidamente nas pessoas. Rose admirava Daehan por sua empatia para com todos, mesmo com àqueles que não a mereciam. A sua facilidade em fazer amigos e em mantê-los. A facilidade que tinha em fazer com que as pessoas gostassem dele. Você não conseguia não amar o Daehan, ele era alguém infinitamente amável, e fazia você ficar feliz por amá-lo. Ficar feliz por vê-lo feliz. Ficar feliz por conhecê-lo.

Daehan era como os primeiros raios de sol da primavera, que saí por entre as nuvens e aquece a pele, o coração e a alma, trazendo consigo a brisa fresca e o perfume das flores.

Daehan era felicidade. Pura e genuína. E, na opinião de Rose, nem o maior dos templos; o mais rico castelo ou a mais extensa muralha seria o suficiente para acomodar tamanha grandeza. Não seria o suficiente para resumir uma existência tão linda.

Se acreditassem em anjos, Rose diria que Daehan era um, mas ela não acreditava. Para ela, Daehan era uma pessoa onde o amor e a bondade comandavam quase todas as suas ações. Ele não era perfeito, obviamente, havia cometido erros e feito coisas das quais se arrependia, mas seus erros não superavam seus acertos, e seus defeitos não eram maiores que suas qualidades. Nem de longe.

Daehan não era perfeito, mas era melhor do que qualquer outra pessoa que Rose conhecia.

– Você sempre acreditou que existia um lugar para onde iríamos quando morrêssemos, e que todos nos encontraríamos em outra vida... Naquela época eu achava isso uma grande besteira, mas agora eu quero acreditar que seja verdade. Eu tenho que acreditar que é verdade porque eu não consigo suportar a ideia de nunca mais ver você. Eu realmente espero poder reencontrar você, Dae. E torço para que esse dia não demore a chegar. – falou aquelas palavras mais baixo. Ela sabia que se estivesse ali, ele a diria para não pensar daquela forma, para se manter firme, pois ela era forte o suficiente para superar qualquer coisa. Deixou que as lágrimas rolassem pelo seu rosto, pois ali ela não precisava fingir estar bem ou ser forte. Ali, em frente a lápide de seu irmão, ela poderia apenas chorar, o quanto quisesse. – Até mais, criança... Eu te amo mais.

Deixou aquele lugar, caminhando lentamente pelos terrenos do Castelo, tentando clarear seus pensamentos. Não sabia se visitaria o túmulo de Daehan outra vez, caso retornasse da batalha, não sabia nem se retornaria com vida, e isso não a incomodava ou a assustava. Cada vez que olhava o nome de seu irmão cravado naquela lápide, Rose desejava um pouco mais morte, porque para ela morrer deveria ser melhor do que aquela vida. A vida sem a pessoa que ela mais amava.

A Rainha de Ennord: O Confronto dos Grandes ReisOnde histórias criam vida. Descubra agora