Capítulo Dezesseis. 🌹

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Thomas estava no seu terceiro dia de encarceramento, era assim que ele agora se referia ao seu tempo ali, e começava a pensar que não aguentaria mais um dia sequer naquelas condições. Era tudo tão monótono e repetitivo que ele queria gritar. As empregadas vinham, deixavam suas refeições, limpavam seu quarto e saíam em completo silêncio. Isso acontecia umas três vezes por dia.

Naquele dia fez a mesma coisa que havia feito nos outros dois dias anteriores: nada. Não havia nada para fazer ali que ele já não tivesse feito centenas de vezes antes, e isso tornava o tempo que passava ali ainda mais torturante, parecia que as horas demoravam a passar, e os dias haviam se tornado mais longos.

Quando a empregada que viera trazer seu almoço estava prestes a sair dos seus aposentos, levando as louças com o que sobrara da refeição do café da manhã, ele chamou sua atenção e pediu para que ela entregasse um bilhete para Hames. No bilhete Thomas pedia para que Hames viesse ao seu encontro com urgência. A empregada apenas confirmou com um aceno e saiu, em silêncio. Thomas se questionou se ela sabia falar, pois não tinha ouvido um chiado sequer escapar de seus lábios em nenhum momento.

Estava ansioso, e cada hora que se passava, desde o momento em que a empregada deixara seus aposentos, fazia Thomas se questionar onde diabos estaria o Hames, já que ele não havia aparecido ou enviado alguma mensagem em resposta. E em sua mensagem, Thomas disse que era urgente.
Thomas chegou a duvidar de que aquela empregada tivesse realmente entregado a mensagem para o soldado, e se ela não tivesse o feito, ele com certeza faria uma reclamação, quando pudesse, afinal, ele ainda era um lorde e membro do Conselho. Mesmo que as empregadas estivessem seguindo ordens de não deixá-lo sair, e de não dirigir a palavra a ele, Thomas esperava que elas pudessem pelo menos entregar mensagens dele para Hames. Era o mínimo.

Como a sua percepção de tempo estava bastante imprecisa dentro daquelas quatro paredes de pedra, Thomas não soube por quanto tempo ficou esperando pela aparição de Hames, que aconteceu quando já era noite, depois que outra empregada viera deixar o seu jantar. Thomas havia começado a perder as esperanças de que Hames apareceria, e estava ficando um tanto irritado. Também estava começando a ficar sonolento, mas quando ouviu batidas em sua porta, e a voz de Hames ecoando no corredor, despertou-se em um milésimo de segundo.

Correu para perto da porta, esperando ser aberta, e ficou lá parado.

– Estou entrando. – Hames anunciou, e Thomas conseguiu ouvir o som da fechadura da porta sendo destrancada. Hames apareceu no campo de visão de Thomas, alguns segundos depois. – Nossa, você está péssimo! – Hames falou, analisando Thomas dos pés a cabeça. – Como é possível que você, trancado nesses aposentos tão confortáveis, se pareça mais cansado que os soldados na guerra?

Thomas revirou os olhos.

– Não estou conseguindo dormir direito.

– Pois eu ultimamente estou dormindo feito uma pedra. – Hames falou, entrando no quarto e fechando a porta atrás de si.

– Mas você não está trancado contra a sua própria vontade. – Thomas falou ríspido e Hames apenas deu de ombros. – Onde você estava? Não conhece o significado da palavra urgente?

– Calma aí, irritadinho, a culpa não é minha. – Hames levantou ambas as mãos, em sinal de rendição. – Estou tão ocupado que mal tenho tempo de ir ao banheiro. Rose deixou apenas mais dois soldados da guarda real aqui, além de mim, o que não seria problema nenhum se a pessoa quem estivesse responsável pelo reino fosse o Príncipe Daehan, como costumava acontecer. Normand, apesar de ser o tesoureiro real, não é um rei e está longe de saber comandar um reino como esse. Acho que Rose já sabia disso, todo mundo sabe disso. E ele também sabe, por isso está aterrorizado. Tem medo de que alguém tente atacar o Castelo mais uma vez, já que a maioria dos soldados daqui foram com a Rainha, e tem ainda mais medo de cometer algum erro grave e ter que lidar com a Rose quando ela retornar. – Hames falou com tanta rapidez que perdeu o fôlego. Thomas o encarava com o cenho franzido.

– Parece cansativo. – Thomas comentou com empatia.

– Nem me fale. – Hames caminhou até a pequena mesa onde a refeição de Thomas havia sido colocada, pegou uma maçã da bandeja e deu uma mordida bem grande, fazendo o sumo da fruta escorrer pelos cantos dos seus lábios até seu queixo. – E então? Qual era a urgência?

– Eu quero sair daqui. – Thomas falou com autoridade e Hames o encarou com confusão.

– De novo esse assunto? – O soldado suspirou impaciente, limpando seu queixo com as costas da mão esquerda. – Já conversamos sobre isso, não posso libertar você, Thomas.

– Não, eu quero sair do Castelo. Da Capital. – Thomas fez uma pausa e respirou fundo. – Eu quero ir embora, voltar para a fazenda dos meus pais.

Hames o encarou espantado, não se dando ao trabalho de tentar esconder o choque em seu rosto ao ouvir aquelas palavras ditas por Thomas.

– O quê? – ele tossiu e começou a dar fortes batidas no meio do seu peitoral, pois o espanto havia sido tão grande ao ponto de fazê-lo se engasgar com um pedaço da maçã. – Você está de brincadeira, não é?

Thomas negou com um aceno.

– Rose disse na carta que você me deixaria partir, se eu quisesse. Pode lê-la se não acreditar em mim, seria um pouco desconfortável já que é uma carta pessoal, mas eu deixarei você a ler.

– Não precisa. – Hames falou, depois de se recompor, parecendo ainda espantado e confuso. – Ela me disse a mesma coisa antes de partir, só não achei que você escolheria ir embora. Nunca imaginei essa possibilidade, sendo sincero.

Thomas deu de ombros, meio cabisbaixo.

– Eu não posso fazer nada trancado aqui, Hames. Acho que voltar para a fazenda dos meus pais vai ser melhor do que continuar aqui preso sem poder ir para lugar nenhum ou me encontrar com alguém além de você, sem ofensas. – Thomas percebeu que havia feito exatamente o que Hames fazia com frequência: falar “sem ofensas” depois de ter dito algo que poderia ofender alguém. – Só os deuses sabem quando a Rose retornará, e se ela retornará. Eu não vou ficar aqui esperando dias para saber o que vou encontrar quando o exército voltar de Oris.

– Você vai desistir? – Hames indagou, havia parado de comer a maçã, mas ela ainda estava em sua mão. – Depois de tudo o que aconteceu, você está desistindo?

– O que você espera que eu faça, Hames? – Thomas não se exaltou dessa vez, ele continuava calmo. Talvez estivesse cansado demais para argumentar ou discutir, afinal, Hames era apenas um soldado que ele havia se aproximado nas últimas semanas por causa dos treinamentos. A situação com Rose não o envolvia, ele estava apenas seguindo ordens. – Eu estou cansado. Para você é fácil, você só precisa seguir ordens. Mesmo que não concorde, você as segue, porque você é um soldado. Mas eu não sou, como você disse. Eu não consigo. Eu não quero mais isso. Essa vida. – Thomas gesticulou com os braços, indicando aquele grande e confortável quarto, que havia se transformado em sua prisão pessoal no últimos dias. – Não quero ter que discordar da Rose outra vez e ser trancado novamente. Não quero ficar em segurança em meus aposentos confortáveis e aquecidos enquanto a mulher por quem eu sou perdidamente apaixonado sai para uma batalha da qual pode não voltar com vida, sem que eu possa fazer nada a respeito. Eu não vou continuar me torturando assim.

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A Rainha de Ennord: O Confronto dos Grandes ReisOnde histórias criam vida. Descubra agora