Era madrugada e o sol ainda estava longe de nascer quando Thomas desceu as escadas, cruzando os corredores dos Castelo e caminhou na direção da saída. Ele se encontraria com Hames para o seu primeiro dia de treinamento.
Havia recebido um bilhete de Hames, trazido por uma empregada, mais cedo naquela noite, quando retornou do seu encontro com Rose. O bilhete dizia que os treinamentos começariam no dia seguinte, ou melhor, na madrugada, para que ele pudesse concluir todos os seus afazeres do dia sem atraso. Thomas respondeu o bilhete com outro, agradecendo.
Ele não sabia como seriam os treinamentos, nem se conseguiria concluí-los e ainda ter disposição o suficiente para realizar seus afazeres como membro do Conselho. Mas ele tinha que tentar, tinha que conseguir. Sabia que qualquer falha dele seria motivo suficiente para que Rose não o permitir entrar para o exército. Esse era o único ponto negativo de se envolver com uma Rainha, ele nunca conseguiria ir contra as decisões dela.
Hames sempre fora amigável com Thomas e sempre se que encontravam, na maioria da vezes quando Thomas ia para os aposentos de Rose, eles conversavam por alguns minutos. Tanto Hames quanto Bryn tratavam Thomas com gentileza, o que não era tão comum de acontecer com os outros. Muitos dos soldados de Ennord nem ao mesmo dirigiam a palavra à Thomas, apenas quando tinham algum recado de Rose para ele.
Talvez fosse pelo fato de Thomas não ser um soldado, e não ter se mantido próximo de nenhum deles além de Daehan e de Rose, mas, para Thomas, os soldados não pareciam muito receptivos. Ele também não poderia culpá-los, ele era, relativamente, um novato.
Hames já o esperava, pacientemente sentado em um dos bancos dos jardins. Eles estavam em uma parte mais afastada, já que os terrenos estavam ocupados por milhares de barracas de soldados, centenas de caixotes e carregamentos para a guerra.
– Bom dia. – Hames falou, quando viu Thomas se aproximando. – Bem, não é dia ainda.
– Bom dia. – Thomas cumprimentou com um sorriso.
– Você está pronto? – Hames perguntou sem rodeios.
– Sim, estou. Obrigado por estar fazendo isso.
– Eu serei o único a treiná-lo. – Hames parecia animado, diferente do que Thomas achava que ele estaria. Pensava que nenhum soldado gostaria de treiná-lo às vésperas de saírem para a batalha. – Você sabe que não temos muito tempo, com os preparativos para partirmos e tudo mais, por isso, talvez não tenhamos a possibilidade de treinar durante toda a semana, sem pausa, como é normalmente feito. Mas tentaremos fazer isso funcionar. Seus treinamentos também serão mais intensos, pois não temos tempo o suficiente para passar o dia inteiro treinando, já que estamos todos ocupados demais com os preparativos da guerra.
– Tudo bem. – Thomas garantiu. – O que você me disser para fazer, eu farei.
– Eu irei treiná-lo Thomas, mas apenas a Rainha decide se você entra ou não para o exército. – Hames lembrou. – Sim, você precisa se sair bem nos treinamentos, mas isso não lhe dará garantia de nada. No final, apenas a decisão de Rose importa.
Thomas concordou com um aceno.
– Eu sei, não se preocupe. – sorriu gentilmente.
– Ótimo. – dizendo isso, Hames levantou-se e estendeu uma espada, de verdade, para Thomas. – O primeiro dia de treinamento sempre é duelo de espadas, como você é o único treinando, vai lutar comigo.
– E você acha isso justo? – Thomas perguntou, aceitando a espada que Hames o entregou. – Você é um dos melhores soldados do exército.
Hames sorriu.
– Você sabe que eu já estive no seu lugar, certo? – perguntou, com um sorriso. – E adivinhe com quem eu lutei?
– Com a Rose. – Thomas falou e sorriu, não era difícil de imaginar isso acontecendo. – Você ganhou?
– Óbvio que não, ela me deu uma surra. – Hames comentou divertido. – Acho que o mundo funciona diferente para Rose, ela consegue derrubar qualquer um. Literalmente qualquer um. Mesmo sendo menor que eu, quando fiz meu primeiro treinamento, ela me derrubou com uma facilidade que me deixou espantado.
Sorriu e Thomas também.
– Quantos anos você tinha? – Thomas perguntou, ele lembrou-se que não sabia nada sobre o Hames além do nome e que ele era um dos guardas de Rose. – Há quanto tempo é um soldado?
– Quase nove anos. – respondeu orgulhoso. – Foi uns dois anos após a posse de Rose, o exército estava crescendo consideravelmente e todos na Capital ouviam boatos sobre os soldados. Ouvi uns boatos estranhos de que para ingressar no exército, os soldados eram obrigados a fazer coisas esquisitas. Eu tinha vinte anos.
– Que tipo de coisas esquisitas? – Thomas questionou curioso.
– Um ritual de sangue, algo do tipo. – Hames respondeu, provocando uma risada alta em Thomas. – Eu fiquei curioso, obviamente. A Rainha estava sempre se encontrando com os Guerreiros das sombras e todos achavam aquilo muito estranho. Quando eu ouvi sobre os boatos, tentei entrar para o exército.
– E então, os boatos eram verdadeiros? – perguntou Thomas e Hames sorriu.
– Infelizmente, não. Contudo, como eu já havia decidido ser um soldado, continuei afinal, não tinha nada para perder. No primeiro dia de treinamento, Rose apareceu. Ela treinou muitos dos soldados, mas eu não fui um deles, não a princípio. – Sorriu nostálgico, ele parecia ter boas lembranças de sua época de treinamento. – Quando eu a vi, e o George falou que eu lutaria contra ela, eu achei graça e comecei a rir porque, na minha cabeça burra e ingênua, não havia a menor possibilidade de lutar contra uma rainha mais nova e fisicamente menor que eu.
– Não acredito que você fez isso!
– Eu não sabia que a Rose era tão boa em duelos de espadas e em confronto físico. – Hames rebateu, se justificando. – Não demorou muito para eu perceber a idiotice que havia feito. Rose me derrubou em questões de segundos. Falou que eu deveria ser menos prepotente e saiu. Naquele momento, eu pensei que não teria a menor chance de me tornar um soldado, já que eu havia irritado a Rainha, mas estava enganado. No fim, ela me deu a oportunidade. Com os anos, veio a última batalha entre Oris e Ennord, sete anos atrás. Assim como as centenas de missões que ela me designava e as viagens pelos reinos que eu a acompanhava, então ela me tornou um membro de sua guarda pessoal, e me treinou. Eu obviamente fiquei lisonjeado, nunca me imaginei sendo protetor pessoal de uma Rainha.
– Você deve ser um dos soldados que a Rose conhece há mais tempo. – Thomas comentou.
– Sim. O Bryn veio um ano depois. – Hames falou, coçando levemente o queixo. – Os três já lutavam por Ennord quando eu cheguei.
– Os três? – Thomas perguntou, confuso.
– Sim, os generais. Ao todo são cinco, ou eram cinco. – Hames ficou mais sério ao falar. – Tirando a Rose, obviamente. São o George, Samuel, Hal e Daehan, um tempo depois. Quando eu entrei para o exército, o Daehan ainda não era um dos generais. George, Hal e Samuel foram os primeiros homens que decidiram entrar para o exército assim que Rose se tornou Rainha. Acho que tem uma questão afetiva nisso, talvez pelo fato deles terem sido os primeiros a acreditar nela. Quando Rose assumiu o trono, muitos soldados deserdaram, eles não queriam lutar por uma mulher. Grandes idiotas, obviamente.
Thomas também havia ficado mais sério com a menção ao Daehan.
– Tudo bem, chega de jogar conversa fora porque o sol vai nascer em poucas horas e, na situação em que estamos, qualquer minuto vale. – Hames se afastou de Thomas e ergueu sua espada, em sua mão esquerda. – Soube que você treinou com a Rose e o Daehan no último ano, então vai conseguir lutar comigo. – Sorriu.
Thomas girou a espada em sua mão direita, ele havia aprendido aquilo com a Rose, e a ergueu na direção de Hames.
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Eu aposto que vocês não esperavam por mim aqui nem tão cedo 🤡
Não se animem, ainda não voltei a escrever, mas estou me sentindo bem hoje e quis postar.Continuamos na torcida de que eu volte a escrever o mais rápido possível 😂
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A Rainha de Ennord: O Confronto dos Grandes Reis
Storie d'amoreApós o ataque ao Castelo, Rose toma uma decisão que mudará completamente a vida de todos e Thomas se vê em uma situação complicada, onde ele terá que escolher entre seguir seu coração ou a razão, indo contra a mulher que ama. [Livro dois]