Daehan virou-se lentamente para a voz que o chamava. Ele vestia seus trajes comuns, mas estava com os pés descalços. Rose congelou por um instante, até que correu, tão rápido quanto suas pernas a permitiam, e se atirou contra o corpo de seu irmão, o abraçando firme. Daehan ainda possuía o mesmo calor de sempre.
Seus olhos instantaneamente marejaram.
Rose estava surpresa. Em choque. E, acima de tudo, feliz. Quantas vezes imaginou-se naquela cena? Abraçando o seu irmão? Quantas vezes chorou e gritou por saber que nunca aconteceria? Mas aconteceu. Ali estava ele. Ali estava ela. Ali estavam eles, juntos. Se pegou imaginando se Daehan apareceria em algum momento. Vira Lucy e vira sua mãe, a possibilidade de ver seu irmão não parecia estar tão distante assim, mas enquanto andava mais e mais naquela floresta, sozinha, pensou derrotada que talvez ele não estivesse ali.
Mas estava.
Rose apertou mais seus braços em volta do pescoço de Daehan, o que fez com que ele soltasse uma risada abafada, mas ele também não parecia disposto a separar o abraço.
– Como que isso é possível? – Rose sussurrou. – Eu estou sonhando, não é?
Daehan, dessa vez, soltou seus braços que a envolviam, minimamente, apenas para encará-la. Rose o olhou como se Daehan fosse sua própria salvação. O perdão para seus crimes. A redenção para seus pecados. Seus olhos vidraram no rosto dele, admirados, brilhantes. Daehan estava exatamente igual quando em vida.
– Você foi atacada, e foi ferida gravemente. – Daehan explicou, falando pela primeira vez. Sua voz fez o coração de Rose acelerar e sua respiração ficar entrecortada, seus ombros subiam e desciam com intensidade. A mesma voz.
Estava o ouvindo. Estava ouvindo seu irmão depois de tanto tempo. Às vezes, Rose tinha a sensação de que havia se passado muito mais tempo do que realmente se passara desde a morte do Daehan, e isso não tornava nada mais fácil, muito pelo contrário.
Era bom ouvi-lo de novo.
– Eu lembro, eu estava na estrada, o Thomas estava lá também... – Sentiu uma repentina fisgada em seu abdômen, olhou para o local, mas nada estava diferente. – Então quer dizer que eu estou morta? – ela conseguiu falar em meio ao turbilhão de emoções que sentia. As lembranças do ataque ainda voltavam aos poucos, sem muita clareza, mas lembrou de sentir uma dor forte na barriga e de sangrar, bastante. Lembrou também da última cena que viu antes de perder a consciência: olhos azuis. Os de Thomas. Voltou a abraçar seu irmão, não pararia de abraçar Daehan nunca mais. – Não importa, não tem problema. Eu estou bem agora. Você está aqui, agora vai ficar tudo bem.
Se a morte for isso, então é muito melhor do que eu achei que seria, Rose pensou.
Daehan acariciou o topo dos cabelos dela.
– Você não morreu, Rose. Não ainda, e é por isso que você não pode ficar aqui. – Daehan falou gentil, como se soubesse o que se passava na mente da irmã, e Rose o encarou confusa. – E eu estou aqui para convencê-la.
– O quê?
– Não é a sua hora. – Ele sorriu minimamente. – Você precisa voltar.
– Voltar para onde?
– Casa. Precisa acordar e voltar para sua vida.
– Por quê? – ela indagou, agora não estava confusa, apenas não aceitava o que Daehan estava propondo. – Não é como se eu tivesse desistido, Daehan. Eu não tentei nada contra a minha vida, por mais que o pensamento tenha me ocorrido. Você mesmo disse, eu fui ferida, não há nada que alguém possa fazer agora, é o curso natural. Fui ferida e morta. Simples. Eu não viverei para sempre. Uma hora isso iria acontecer, não é? Da mesma forma que aconteceu com você.
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A Rainha de Ennord: O Confronto dos Grandes Reis
RomanceApós o ataque ao Castelo, Rose toma uma decisão que mudará completamente a vida de todos e Thomas se vê em uma situação complicada, onde ele terá que escolher entre seguir seu coração ou a razão, indo contra a mulher que ama. [Livro dois]