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Rose estava de pé, em frente à janela, de costas para a porta de entrada dos aposentos. Thomas andou lentamente, se perguntando o que deveria falar. Se é que conseguiria falar alguma coisa.

Rose pareceu perceber a presença de Thomas, e virou-se para encará-lo.

– Olá, Thomas. – ela o cumprimentou cordialmente.

– Majestade. – Thomas curvou-se, também tentando manter o tom cordial em sua voz.

Rose o analisou de cima a baixo, parando sua atenção por um tempo maior na perna de Thomas.

– Como está a sua perna?

– Está quase curada, não foi tão sério. – Thomas respondeu sem jeito. – Acho que devo agradecê-la.

Rose ergueu uma sobrancelha.

– Me agradecer pelo o quê? Por não deixá-lo manco pelo resto da vida?

Thomas riu.

– É, por isso. – Ele encarou Rose por alguns segundos em silêncio, ela não parecia irritada, como ele imaginou que estaria. – E como você está? – sondou.

– Estou bem. – ela respondeu, mas Thomas não comprou aquela resposta.

– De verdade? Sei que não deve ter sido fácil executar o Robert.

Ela respirou fundo.

– Honestamente, achei que seria mais fácil. – Rose respondeu, voltando a virar-se para a janela. – Pensei que a raiva que eu estava sentindo pelo Robert tomaria o controle e faria o serviço, mas não foi bem o que aconteceu. Minha ira não foi o suficiente para matá-lo sem remorsos... Não se consegue apagar uma pessoa de sua vida, principalmente quando se conhece essa pessoa há tanto tempo, não importa quanta raiva sinta... Aquela flecha pareceu pesar cem quilos...

– É compreensível, ele era seu melhor amigo. – Thomas falou gentil, se aproximou mais e parou ao lado dela.

– Melhor amigo e traidor. Que sorte a minha, não é?

Se eu tivesse ouvido meu pai... ela pensou, lembrando de todas as vezes que o Rei Lucius havia lhe dito para não confiar em Robert. Ou “naquela ralé”, como o próprio rei costumava chamar.

– Acredito que Hames já tenha lhe dito o que eu pretendo dizer. A decisão que tomei. – ela começou e Thomas sentiu suas costas enrijecerem. – Eu sei porque fez o que fez, Thomas, e entendo, de verdade. Você salvou aquelas pessoas, e isso era algo que você, sendo quem é, faria, mas infelizmente a situação é complicada. É diferente. – Virou para encará-lo mais uma vez. – Você me desobedeceu, não apenas uma vez. Você ignorou ordens, me questionou, e o pior, lutou contra mim. Não posso mais ignorar isso, Thomas. Não posso fingir que isso não aconteceu. Você questionou minha autoridade diversas vezes, e eu, por muitas delas, deixei passar por causa dos meus sentimentos por você, mas não deixarei dessa vez. Não posso ter alguém no Conselho com um histórico de desobediência como o seu. Não é certo, e não é justo com os outros. Não posso ficar imaginando quais das ordens que lhe darei você desobedecerá. Não posso me questionar se você fará o que precisa fazer, e não o que deseja fazer. Não posso duvidar, Thomas, para o bem do Reino eu preciso ter a certeza de que todas as ordens serão seguidas, e você não me dá mais essa certeza.

– Sinto muito, Rose. – Thomas falou sincero. Não tinha muito mais o que dizer, tudo o que Rose falou era verdade.

– Eu sei que sente. Como eu disse, entendo o empasse em que estava naquele momento e é por isso que você não foi parar nas masmorras. Você não me enfrentou porque estava, de fato, contra mim, mas porque queria salvar aquelas crianças e apesar de saber que se você não tivesse feito o que fez, provavelmente eu teria matado todos eles, não é assim tão simples. Eu sou uma Rainha, não posso me esquecer disso e não posso cometer nenhum deslize, não posso mais relevar suas transgressões. Não posso e não quero continuar assim, tendo que passar por isso de novo, tendo que ponderar minhas decisões a seu respeito, ser mais uma vez parcial e branda por sua causa, por você. Tendo que relevar quando você quebrar uma regra ou desobedecer mais uma ordem. Não perdoarei você dessa vez, Thomas, mas não o odeio, longe disso. Você serviu bem o Conselho, e será recompensado por isso. Uma boa quantia em ouro, para lhe garantir um futuro confortável. – Fez uma pausa breve. – Volte para casa, leve Snow com você, foi um presente.

A Rainha de Ennord: O Confronto dos Grandes ReisOnde histórias criam vida. Descubra agora