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As lágrimas que escorriam pelo rosto de Rose pingaram no papel em suas mãos trêmulas. Ela soltou o ar que não havia percebido que prendera e então, foi como se uma compota tivesse sido aberta. Não conseguiu parar de chorar, não com aquela carta em mãos, não depois de ler o que seu irmão havia escrito.

Repentinamente perdeu as forças em suas pernas, caindo sentada no meio de seu quarto. Não tentou levantar-se. Permaneceu ali, com o pergaminho em mãos que tremiam violentamente e com as lágrimas molhando cada vez mais o seu rosto. Levou a carta até seu peito, segurando-a firme contra si, como se as palavras fossem sair do pergaminho e abraçá-la de volta. Queria poder estar abraçando ele, mas isso nunca mais aconteceria. Queria ao menos sentir seu irmão naquela carta, a carta que ele escrevera para se despedir, porque sabia que morreria.

Rose imaginou o que deveria ter passado pela mente de seu irmão durante esse tempo em que ficava cada dia mais doente. O que ele deveria ter pensado enquanto escrevia aquela carta? Tivera medo? Daehan escreveu que não estava triste, mas seria impossível não estar, estava morrendo. Ele era tão jovem, e precisou aceitar um destino tão triste e trágico, tentando seguir com sua leveza habitual. Daehan nunca quis preocupar Rose, e sempre tentava ao máximo fingir que não estava tão mal quanto estava realmente. Não funcionava, Rose conseguia perceber, conseguia ver a verdade por trás da máscara de felicidade que ele insistia em usar, mas nem todos conseguiam. Daehan conseguiu esconder sua condição de muita gente.

Ele poderia ter dito a verdade. Poderia ter se despedido de todos, deixá-los ciente do que provavelmente aconteceria, mas não quis. Não queria que as pessoa sentissem pena dele, ou o vissem como frágil, porque nunca fora. Daehan, em vez disso, continuou com seu jeito divertido, contando sua piadas e fazendo as pessoas à sua volta felizes. Ele nunca quis deixar as pessoas amava tristes. Nunca quis deixar Rose triste.

A carta não era o que Rose temeu que fosse. Daehan não a culpou por nada, não disse que a odiava por algo, ou demonstrou infelicidade. Pelo contrário, mesmo tendo que lidar com uma situação complicada, Daehan garantiu que era feliz.

Rose chorou. Ultimamente era a única coisa que parecia fazer. Odiava isso, tudo isso, mas como poderia evitar?

Queria, mais do que nunca, ouvir a voz de seu irmão. Tinha medo de se esquecer. Se esquecer do rosto dele, da voz... Tinha medo de que as lembranças fossem se apagando aos poucos, até que a memória do Daehan se tornasse algo vago, como um sonho do qual você não se lembra muito bem. Com medo de que tudo o que restasse do Daehan fosse um retrato em uma sala fria e um quarto repleto de objetos largados ao esquecimento. Foi assim que se sentiu quando sua mãe morreu e, infelizmente, as preocupações de Rose se tornaram reais. Com o passar dos anos, as memórias que tinha com sua mãe se tornaram vagas e confusas, se misturavam e Rose não conseguia diferenciar mais quando aconteceram ou se de fato aconteceram. Muitas vezes precisou ir a sala do trono e olhar para o quadro da Rainha Anna, para conseguir lembrar das feições de sua mãe.

Mas com Daehan não seria assim. Daehan era a pessoa a quem Rose mais amou em toda a sua vida. Ela teve vinte e um anos com Daehan ao seu lado, isso não seria perdido. Ela se lembraria dele todos os dias, mesmo que fosse doloroso lembrar. Mesmo que parecesse que não suportaria, mesmo que em alguns momentos, esquecer soasse uma ideia melhor, não faria. Não poderia. Lembrar-se do Daehan era exaltar sua vida, sua existência. Era uma forma de agradecer por ele ser seu irmão, e por tê-la permitido conviver com ele durante toda a sua vida.

Daehan nunca seria esquecido.

Ficou ali sentada por horas. A carta aberta estava no chão ao seu lado, perto de sua mão direita. As lágrimas escorriam, secavam e voltavam a escorrer. Seus olhos já deveriam estar inchados, mas não tinha importância. Nada nunca mais teria importância.

A Rainha de Ennord: O Confronto dos Grandes ReisOnde histórias criam vida. Descubra agora