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Continuaram conversando por mais algum tempo, sobre diversos assuntos. Em uma dessas conversas Thomas descobriu que Hames tinha um irmão mais velho, que trabalhava com o seu pai em um estaleiro ao leste do reino, e que a sua mãe os havia abandonado quando Hames era apenas um bebê. Ele nunca a conheceu, nem ao menos sabia como era o rosto dela, mas Hames não parecia se importar com isso.

“Não preciso dela, nunca precisei.” Era o que ele sempre dizia.

O relacionamento dele com o pai e com o irmão era bom, na medida do possível. Ele os visitava algumas vezes ao ano, e os ajudava financeiramente, já que o estaleiro agora não lucrava tanto quanto costumava lucrar.

Ouvir Hames falar de sua família fez Thomas sentir saudades de casa. Fazia meses desde a última vez que ele viu seus pais, e fazia ainda mais tempo desde a última vez que se encontrou com o seu irmão mais velho. Pensava constantemente se ele ainda lutava no exército, e em como ele estaria lidando com a guerra que se aproximava.

Mark era cinco anos mais velho que o Thomas, e lutava por Ennord há oito anos. Ele participara da última batalha entre Ennord e Oris, e de outras pequenas disputas ao longo dos anos, estava acostumado a isso, mas Thomas não conseguia parar de se preocupar com o irmão. Pensou em escrevê-lo uma carta, mas não sabia para onde endereçar, ele nem ao menos sabia onde seu irmão morava.

Thomas ultimamente pensava muito sobre Mark, principalmente depois da morte de Daehan. Ele viu de perto como a Rose havia ficado devastada com a morte de seu irmão, e temeu que algo assim acontecesse com ele. Mesmo que ele e Mark não possuíssem um elo tão forte quanto Rose e Daehan tinham, Thomas ainda se preocupava com a segurança de seu irmão mais velho. Ele sempre se preocuparia. Ele até havia feito uma promessa a si mesmo de que quando a guerra acabasse, se ele sobrevivesse, tentaria se reaproximar de Mark, haviam perdido tempo demais.

Thomas entendia que o problema do Mark não era com ele, ao menos em parte. Mark não voltava para casa com frequência, pois em todas as vezes que voltara, houvera algum tipo de discussão com seu pai. Lorde Marcell passou muito de seu tempo depositando toda a sua atenção – para a tristeza de Thomas – em seu filho caçula. Queria que ele seguisse seus passos e continuasse com o negócio da família.

Mark não queria ser comerciante de tecidos, assim como Thomas também não. Ele sempre quis ser um soldado e quando decidiu entrar para o exército – na esperança de sair de casa e, em certo ponto, dar um pouco de orgulho para seus pais, percebeu que seu pai não ficara tão orgulhoso como ele pensou que ficaria. Na realidade, para Marcell não parecia ser nada muito grandioso, mesmo que ele próprio houvesse sido um guerreiro de Ennord em sua juventude, e se orgulhasse muito por isso. Sempre que tinha uma oportunidade, voltava a falar de seu tempo de glória no exército.

A verdade era que não importaria muito o que o Mark fizesse, ele nunca teria tanta atenção de seu pai quanto Thomas tinha.

Thomas sempre odiou aquela situação. Sempre odiou ter as expectativas de seu pai sobre si, e odiava mais ainda ver o quanto o Mark era ressentido com ele. Não era culpa de Thomas, e também não era culpa do Mark, mas Thomas entendia. Deveria ter sido muito difícil para Mark se esforçar o dobro para ter a atenção e o orgulho do seu pai e mesmo assim ficar na sombra de seu irmão mais novo.

Ao final do treinamento Hames se despediu, dizendo que infelizmente os resultados do dia não haviam sido tão bons assim e Thomas se deu por vencido. Ele não poderia fazer nada para mudar aquilo, pelo menos não naquele momento. Talvez com alguns meses de prática ele pudesse aprimorar suas habilidades e obter resultados melhores, mas ele não tinha esse tempo disponível.

Hames recolheu o arco e as flechas caídas por todo o terreno e seguiu para dentro do Castelo. Entregou os equipamentos a um dos novos soldados, do qual não sabia o nome, o dizendo para guardá-lo, e continuou na direção da Área da Rainha para se encontrar com Rose.

A Rainha de Ennord: O Confronto dos Grandes ReisOnde histórias criam vida. Descubra agora