Preso sobre a carroça não havia nada que pudesse fazer além de pensar, e isso era exatamente algo que ele tentava ao máximo não fazer. Sempre que fechava seus olhos, as cenas da batalha surgiam em sua mente. Os gritos; os corpos; os cheiros de suor, urina e sangue. A sensação que teve ao matar pessoas...Thomas conseguia visualizar os olhos de muitos deles. Acinzentados, azuis, pretos, verdes-claros, marrons... Os olhos, na maioria das vezes, eram as únicas partes dos inimigos que ele conseguira ver com clareza por entre o elmo, em meio à confusão do campo de batalha, mas era mais do que o suficiente para gravar em sua memória. Thomas lembrava de todos, tão vividamente como se estivessem em sua frente a todo momento.
Quando as noites chegavam, Thomas não conseguia dormir, e temia que nunca mais tivesse uma noite de sono pacífica sem os terrores que vira quando os exércitos se enfrentaram. Ainda podia ouvir os angustiantes pedidos de ajuda vindos de soldados fatalmente feridos, os quais nem ele – nem ninguém – pôde ajudar.
Thomas daria qualquer coisa para apagar tais imagens de sua mente. Ou pelo menos ter algo para se distrair, mas não havia distrações onde ele estava.
A viagem de volta estava sendo uns dias mais rápida que a de ida, mas não pareceu assim para Thomas, que amarrado sobre a carroça, sentia o tempo passar tão lentamente que pensava que enlouqueceria. Ele comia, dormia e passava todas as horas de seu dia sobre a carroça, saindo apenas quando precisava fazer suas necessidades e isso não poderia ser feito ali, na frente das mulheres e crianças. Só lhe era permitido tomar um banho a cada três dias e esse era um dos maiores problemas para ele. O calor da viagem o deixava suado, suas roupas ficavam úmidas e pegajosas contra sua pele e, para piorar, ele não podia se mover muito, tanto por falta de espaço, quanto pela sua perna que estava longe de se recuperar.
Em um determinado momento, durante o oitavo dia de viagem, quando Thomas fora retirado da carroça para fazer suas necessidades em meio à pouca vegetação disponível, o Robert também estava lá para esse mesmo propósito. O ferimento em sua perna não foi obstáculo suficiente para impedi-lo de caminhar até o antigo Conselheiro e dar-lhe um forte soco no rosto, que o faz cair sentado, tonto e visivelmente surpreso.
Pelo menos socar alguém Thomas ainda conseguia.
Robert levou cinco segundos para se recuperar e se levantou após isso, cuspindo sangue no chão de terra seca, e tentou avançar sobre Thomas, que também estava mais do que pronto para lutar – sua perna estava ferida, mas conseguia muito bem socar pessoas. Tinha esperado por esse momento havia muito, mas os dois foram segurados por soldados antes de alcançarem um ao outro.
– Isso foi pelo Daehan, caso não tenha ficado claro. – Thomas falou, enquanto o soldado o continha.
Por mais que Robert soubesse que merecia, ele não pôde deixar de ficar furioso com o Thomas. A verdade era que sua raiva não tinha nada a ver com o soco que recebera, mas com a Rose. Robert sempre conteve suas constantes vontades de iniciar uma briga com o Thomas, porque sabia que não poderia iniciá-la sem um motivo plausível – mesmo que a Rose fosse motivo o suficiente, ele não poderia simplesmente bater no Thomas por se envolver com a mulher por quem ele era apaixonado desde a adolescência. Naquele momento, Robert odiou o fato de ter soldados os impedindo de se enfrentarem. Ele nunca mais teria a chance de acertar as contas com o Thomas.
Thomas saíra na vantagem, de novo.
Robert e Thomas não voltaram a se encontrar em nenhum momento desde então, talvez as coisas tivessem ficado interessantes se isso acontecesse.
Seguindo viagem, a cada vilarejo, cidade e aldeia do Norte por onde o exército passava, os soldados gritavam as novidades para os moradores, anunciando que o rei deles estava morto e que agora Rose era a nova Rainha de Oris. Muitos cidadãos ficavam espantados, assustados e até tristes com a notícia, apesar de que a parcela de pessoas que pareceram ficar genuinamente tristes ao saber da morte de Joseph era bem pequena.
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A Rainha de Ennord: O Confronto dos Grandes Reis
RomansaApós o ataque ao Castelo, Rose toma uma decisão que mudará completamente a vida de todos e Thomas se vê em uma situação complicada, onde ele terá que escolher entre seguir seu coração ou a razão, indo contra a mulher que ama. [Livro dois]