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Quando os primeiros raios de sol entraram pelas janelas, Rose ainda permanecia ali, sentada em um canto do quarto. Ela tentava não chorar, mas não conseguia. Como não choraria? A única coisa que ela mais temia na vida era perder seu irmão. Ele era a pessoa que ela mais amava. Tudo o que Rose fizera desde o momento em que se tornou Rainha fora para proteger seu irmão, para lhe garantir uma vida boa e feliz. Agora que ele se fora, o que ela faria? Nada mais importava.

Deu ordens para ninguém incomodá-la, a não ser que houvesse uma emergência. Não queria ver ninguém, ou conversar com ninguém. Estava se preparando para o que ela sabia que seria a coisa mais difícil que teria que fazer, enterrar seu irmão.

Quando alguém da família real morre, seu corpo fica sendo velado durante dias para que todos tenham a chance de prestar uma última homenagem. O corpo de Daehan provavelmente já estaria no grande salão, mas Rose não queria vê-lo agora.

Não soube quanto tempo passou em seus aposentos, sem permitir a entrada de ninguém. Nem mesmo de suas servas levando suas refeições. Ela não tinha apetite, sentia um embrulho enorme em seu estômago. Não conseguiria comer nada.

Ouviu batidas em sua porta, mas antes que pudesse mandar seja lá quem estivesse batendo embora, uma voz soou:

– Vossa Majestade, eu sei que não queria ser incomodada, mas algo importante aconteceu. – Era George, ele havia ficado no Castelo nos últimos dias, reforçando a segurança e tentando descobrir o que de fato havia acontecido dias atrás. – Capturamos um dos invasores. Ele tentou fugir pelas florestas, mas não conseguiu ir muito longe.

Rose caminhou rapidamente para abrir a porta.

– Onde ele está?

Rose seguiu George por entre os corredores. Tentava se manter calma, mas sabia que perderia a cabeça quando ficasse frente a frente com aquele invasor. Em sua cabeça passavam cenas dos últimos acontecimentos misturadas com pensamentos, não tão amigáveis, sobre o que ela faria com o homem capturado. Perguntou à George onde estava o Robert, ela não o tinha visto nos últimos dias. Pensava que ele, assim como ela, não estava bem o suficiente para voltar à suas obrigações, afinal, ele amava o Daehan como a um irmão.

– Também não o vi, Majestade. Mandarei alguém o procurar. – George garantiu.

Em um dos corredores passou por Thomas, mas não falou nada. Ele estava indo na direção contrária, para os aposentos dela, para saber como Rose estava. Ele estava extremamente preocupado, Rose não deixava seus aposentos e, de acordo com algumas servas que Thomas interrogou, ela também não estava se alimentando, mas ao vê-la andando rapidamente com passos firmes e expressão de poucos amigos, decidiu seguir ela e George.

Chegaram às masmorras, Thomas nunca havia ido lá antes. Mesmo tendo passado um ano no Castelo. Não gostava. Sabia que todos àqueles homens ali presos, haviam feito algo de errado, mas não deixava de se sentir mal, apesar de que agora muitas das celas estavam vazias. Quando o castelo foi atacado, os presos foram libertos pelos assassinos e conseguiram escapar. Alguns foram recapturados, porém nem todos foram encontrados pelas patrulhas de Ennord. Paul e seus capangas foram alguns dos que conseguiram fugir.

Viraram à direita no último corredor e já puderam ouvir gritos vindos de uma cela no final daquele comprido corredor de pedra fria e úmida. George abriu a grande porta de madeira, dando passagem para Rose. Thomas entrou logo em seguida e a cena que viu embrulhou seu estômago.
Havia um homem preso por correntes nos pulsos e tornozelos, ele estava vestindo apenas uma calça de tecido rasgada. Havia cortes e ferimentos ao longo de todo o seu corpo. E Thomas entendeu o porquê de àquela ser a única cela que não era trancada por grades, e sim por uma porta de madeira. Era uma cela de tortura.

– Vejam só, a Rainha de Ennord. – O homem falou com desdém ao ver Rose. – Eu faria uma reverência, mas estou impossibilitado agora.

Rose se aproximou daquele homem.

– Não precisa, só quero fazer algumas perguntas. – falou simples. Qualquer outra pessoa que visse aquela cena poderia pensar que Rose estava sendo amigável, mas Thomas a conhecia o suficiente para saber que a expressão calma dela mostrava exatamente o contrário. Rose era educada e cordial, fazendo com que as pessoas acreditassem que ela estava sendo simpática ou bondosa, o que claramente ela não estava.

– Deixe-me adivinhar, você vai me torturar até que eu conte? – O homem sorriu, ele não parecia estar com medo. – Não vai funcionar, eu já fui torturado por muitas pessoas.

Dessa vez foi Rose quem sorriu. Um sorriso largo, mas não era como se ela tivesse achado aquilo engraçado, era um sorriso de quem havia aceitado um desafio. Um sorriso de satisfação.

– Mas você nunca foi torturado por mim. – falou baixo, quase um sussurro, ainda sorrindo e estendeu à mão direita para um dos guardas que havia ali. Ele prontamente a entregou uma tocha acesa, como se já estivesse esperando por isso.

O coração de Thomas acelerou, ele sabia o que Rose iria fazer em seguida.

Rose aproximou a tocha do corpo daquele homem e a encostou em uma de suas pernas. O homem gritou de dor. E rapidamente aquela cela foi tomada por um cheiro tão horrível de carne sendo queimada, que Thomas precisou levar uma das mãos ao nariz para cobri-lo, ele provavelmente vomitaria se passasse mais tempo ali. Os sons dos gritos do homem se misturavam ao som terrível que a carne fazia sob o calor do fogo.

Rose afastou a tocha da perna do homem com uma calma beirando o absurdo, como se não estivesse torturando uma pessoa.

– Quem mandou vocês? – perguntou calmamente, mas o homem continuava se negando a responder. – Tudo bem. – Ela deu de ombros. – Eu tenho todo o tempo do mundo.

Voltou a aproximar a tocha dele. Dessa vez, na outra perna.
E mais uma vez aquele cheiro insuportável voltou a tomar o local. Thomas se perguntava por quanto tempo mais aquilo duraria.

– Se eu te contar, eu vou morrer da mesma forma! – O homem gritou e Rose afastou a tocha novamente. – E se não te contar, você me mata. De qualquer forma eu já estou morto.

Rose sorriu.

– Mas eu não vou matar você. – falou, fazendo tanto Thomas quanto aquele homem a olharem espantados e confusos. – Por que mataria? Não, é fácil demais. Não teria graça, não é? Eu vou vir aqui, todos os dias e vou continuar queimando cada centímetro da sua carne. Vou embora e mandar meus melhores médicos cuidarem de você, e quando você estiver melhor eu volto. E faço tudo de novo. Quando você começar a esquecer de mim, quando você pensar que acabou, eu volto. Pode acreditar, você vai me implorar para matá-lo.

A Rainha de Ennord: O Confronto dos Grandes ReisOnde histórias criam vida. Descubra agora