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Quando os gritos de comando começaram a ecoar, não havia ao menos amanhecido, mas Thomas já estava de pé. Conseguiu dormir apenas duas horas na noite anterior, pois o medo e a angústia que sentia o fizeram ter pesadelos, dessa vez viu a Rose matar todos ali em meio à gargalhadas, inclusive ele.

Os soldados – os que ainda dormiam – rapidamente se levantaram com os gritos de seus superiores, e recolheram tudo o que tinham para recolher, guardando nas carroças que ficariam para trás, junto com os animais, o restante dos suprimentos, os trabalhadores que não eram soldados e os médicos – que eram os mais importantes de se proteger.

As tropas dos outros dois Generais esperavam um pouco mais à frente de onde eles estavam, e não demorou muito para que Rose e sua tropa os alcançassem. Agora ali havia dez mil homens, ou quase isso, e Thomas nunca vira tanta gente junta em toda a sua vida. Era como um mar de homens trajados de negra armadura. Um mar negro.

Thomas tinha mínimas esperanças de ver o Mark mais uma vez antes do início da batalha, até mesmo lutar ao lado de seu irmão, mas percebeu que estava sendo ingênuo; seria uma tarefa impossível naquele cenário; conseguir encontrar ou reconhecer qualquer um em meio à tanta gente seria um milagre. Hames ainda não havia retornado desde quando Rose o mandara ir para a cidade na noite anterior, e Thomas estava sozinho, para vestir sua armadura e se preparar para o ataque, o que conseguiu fazer depois de muito esforço e várias tentativas.

Quando os primeiros raios do sol começaram a serem vistos por entre as nuvens, todos os soldados de Ennord já estavam prontos pra batalha. Esperavam ordens bem próximos de onde iniciava as pequenas construções da cidade, sobre um relevo que não era alto o suficiente para ser considerado uma montanha, era uma pequena colina, mas que os concedia uma vista ampla do caminho até o castelo.

Thomas agora usava sua armadura, que era feita sob medida para ele, mas sentia-se como se ela estivesse o espremendo, como uma comida em lata de conserva. O sufocando. Na verdade, sentia que o ar estava ficando cada vez mais rarefeito, parecia não chegar ar o suficiente em seus pulmões. Olhava espantado e admirado todos aqueles soldados em seus lugares, vestidos em armadura negra, imóveis, recebendo ordens de seus comandantes e Generais.
Thomas ficara um pouco aliviado quando soubera – por conversas dos soldados – que os civis, que viviam no lado humilde da capital, haviam aceitado a oferta de Rose e deixado a cidade às pressas durante a madrugada. Eles sabiamente não estariam dispostos à morrer por um rei como o Joseph, que não lutaria por seu próprio reino. Thomas se questionou se todas as pessoas realmente iriam para Ennord e como conseguiriam chegar até lá; o exército levara todos aqueles dias para chegar em Oris, mas levavam alimento o suficiente para realizar a viagem. Será que toda aquela gente conseguiria chegar em Ennord a salvo? Será que todos realmente aceitaram ou restaram pessoas leais ao Joseph? As que ficaram, estariam mortas agora?

Espantou tais preocupações de sua mente, não era hora nem lugar para pensar em qualquer outra coisa que não fosse a guerra que agora estava mais próxima do que jamais esteve.

Em uma de suas mãos trazia um escudo que fora lhe dado, e que tinha a rosa vermelha estampada ao centro. Na outra, o elmo, mas ele não queria colocá-lo. Não ainda. O elmo também era de metal escuro, e possuía espinhos adornados em relevo nas laterais, que seguiam caminho até a parte de trás, onde as duas pontas se encontravam entrelaçadas. O formato ressaltado e pontudo lembrava bastante pequenos chifres de cervo, ou um tipo de coroa forjada sobre a placa lisa e curvilínea. Era um trabalho muito bem feito. Toda a armadura era um excelente trabalho. Sua espada estava guardada na bainha ao lado de seu corpo, e pensar que a usaria para ferir e matar alguém em poucas horas, fazia seu estômago embrulhar. Percebeu, tardiamente, que não havia treinado lutar simultaneamente com escudo, e torceu para que não fosse tão difícil quanto parecia. Conciliar ambas as mãos, uma atacando e outra bloqueando ataques inimigos, não era pra qualquer um, Thomas era ciente disso.

A Rainha de Ennord: O Confronto dos Grandes ReisOnde histórias criam vida. Descubra agora