Prólogo

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NARRADOR ONISCIENTE

O emérito rei Josué entregou a pequena princesa Anna no colo da já idosa rainha Maria.

Ela olhou para a pequenina princesa em seus braços e tudo que conseguiu sentir foi tristeza.

— Todos se impressionaram que ela já nasceu com tanto cabelo — comentou Josué.

— Você também, Josué. E seu filhos também.

— Mas ela é loura, como a senhora. E nem Augusto ou Dolores são louros.

Ela continuou a olhar para o bebê.

— Ela não vai me conhecer.
 
— Não diga isso, mãe.

— Mas é verdade, eu já estou pronta para partir dessa vida. E todos no palácio aguardam ansiosamente por isso. O tempo já me alcançou. E eu acho melhor assim, acho que já fiquei demais por aqui.

— Mãe...

— Estou sendo sincera, meu filho. Não são palavras de uma velha rancorosa. Eu prefiro que ela não me conheça. Ela não merece ter uma parente como eu. Nasceu há dois dias e já é odiada por muitos camellinos. E quanto mais crescer, mais será odiada. E ela me odiará por isso, por causa das consequências dos meus feitos.

— Eu não sei, não é tão simples assim ver o futuro. A senhora não imaginou tudo que aconteceu, eu não imaginei que teria que criar meus dois filhos praticamente sozinhos. Aposto como Augusto também teve e terá mais surpresas em sua caminhada. E essa menina, ela talvez tenha mesmo um destino mais difícil que o de todos nós, mas nada poderá nos responder agora quem ela será, e como lidará com tudo.

—Ela será a segunda governante mulher de Camellia. Será temida ou odiada, ou os dois. E não haverá outra culpada nessa história que não seja eu. Eu era amada no começo, consegui o trono por aclamação da população. E literalmente Deus e o mundo sabem o que eu fiz. E ela saberá também, e por isso você irá me prometer que nunca irá falar nada a ela.

— Claro que eu vou. Vou explicar tudo a ela, vou fazer com que conheça você de uma forma que ninguém conhece.

— Mas se fizer isso também vai contar do que você fez, não é? Consegue fazer isso? Quando nem ao seu filho, você revelou a verdade. Não quero que ela acredite que seu destino é ser como nós.

— Augusto não é. E não será.

— Como você disse, do futuro não sabemos. E essa menininha não merece viver no passado, principalmente um passado tão cheio de tormentos. Prometa, Josué, não deixe que ela fique apegada ao passado. Não há nada aqui para ela.

— Eu prometo, mãe. Mas ela vai acabar conhecendo só o que as pessoas vêem de você.

— Tudo bem por mim. Eu mereço ter minha imagem manchada pelas próximas gerações, isso será ideal para que não cometam os mesmo erros que nós.

Flor De Um Reinado: O Homem e a FlorOnde histórias criam vida. Descubra agora