47. Tenebrosa Escuridão

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ANNA

Voltar ao palácio de Hemero já me trazia embrulhos na barriga, aquele lugar sempre parecia muito pesado. Eu tinha que me acostumar, no entanto, seria minha casa dali em diante. Eu só esperava poder tirar João dali algum dia.
Achava difícil, mas se eu tivesse oportunidade, encontraria uma forma.

— Muito bem, Anna, deve saber, que agora que está aqui, são as minhas regras que devem contar.

— Tudo bem.

— A primeira é que esse garotinho não vai ficar sempre com você. Às vezes eu vou permitir que se vejam.

— O quê? O João vai ficar comigo.

— Olha como você rapidamente se contradiz, já falei que aqui são as minhas regras.

— Eu vou ficar com a minha mãe — João reclamou.

James lhe deu um tapa e eu quase parti para cima dele.

— Você está ficando louco?

— Claro que não, minha Anna, mas esse garoto tem que aprender obediência. Vocês dois, na verdade.

Senti uma raiva me invadir, raiva que nunca senti antes. Eu me abaixei para falar com o João, que parecia segurar o choro.

— Está tudo bem. Você confia em mim?

— Confio.

—Então faça o que lhe mandarem fazer, está bem?

— Por que nós estamos aqui com ele?

— Porque precisamos estar, não chore, nós não vamos ficar longe.

— Tudo bem — ele me abraçou.

Um guarda de James se aproximou e saiu com João.

— Você vem comigo — ele me puxou. — Eu quero te contar um história. Na verdade, eu quero te contar a minha história. Já que vamos nos casar, é importante que nos conheçamos melhor, não é? Estou disposto a te contar as minhas vergonhas.

Nós caminhamos pelo palácios e fomos para, o que me surpreendeu, a área dos empregados. Andamos por um longo corredor, passando por vários empregados a quem ele não se dirigia, mas todos paravam para reverenciá-lo. Chegamos ao fim do corredor, em um setor mais escuro. Havia uma pequena porta ali, ele abriu revelando um quartinho minúsculo e apertado. Havia uma pequena cama apenas, e a outra porta ainda menor, que provavelmente dava a um banheiro.

— Sabe que lugar é esse?

— O quarto de Thomas — não precisei pensar muito para entender aquilo.

— O quarto do nosso priminho — ele disse e eu o olhei surpresa. — Não vamos mais fingir nada, nós dois sabemos que é ele. O nosso Thom, Anna, morava no pior quarto desse palácio, um quarto pior que o do mais esquecido dos empregados. Quando meu pai ficava com raiva dele, tracava-o aqui por um, dois, às vezes até três dias. Às vezes, no terceiro dia, torcíamos para que já estivesse morto. Quero lhe mostrar outro lugar.

Ele me puxou e subimos as escadas para o andar de cima. Ele abriu outra sala, onde havia uma mesa, algumas cadeiras e um quadro.

— Aqui era onde eu recebia tutoria, aulas de várias áreas do conhecimento — ele apontou para entrada de ventilação. — Thomas se escondia ali e ouvia tudo, anotava, os empregados o haviam ensinado a ler. Alguns deles foram demitidos, outros assassinados. Só que às vezes ele jantava conosco, quando tinha visitas de fora. Ele fazia questão de trombar com ela nos corredores, e logo se mostrava um menino cheio de ideias e conhecimentos, desde criança, fascinava a todos. Logo esses convidados perguntavam por ele no jantar, e meu acabava tendo que o chamar, muitas vezes, ele mesmo aparecia, e meu pai, na frente da visita, não o dispensava. Meu primo sentava à mesa, cheio de pompa, e chamava a atenção para si, era para provocar, nós sabíamos. Quase sempre que recebíamos convidados, eles se interessavam mais por ele do que por mim, ele sempre parecia saber mais, conhecer mais. E falavam: majestade, você deve estar aliviado que esse garoto é o segundo na linha de sucessão. E nada diziam sobre mim, e se diziam era como um consolo, como: claro que James também é excepcional. Isso para meu pai era uma enorme ofensa, e ele me culpava por isso, por não ser tão brilhante quanto. Ou por não fazer as pessoas me admirarem como o admiravam. Ele sempre me fazia parecer pequeno e eu sofria por isso. Ele podia ficar preso dentro do quarto, mas desde pequeno nessas noites meu pai me espancava, ou mandava seus guardas me baterem por toda a madrugada.

Flor De Um Reinado: O Homem e a FlorOnde histórias criam vida. Descubra agora