55. Eu Deveria Morrer

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ANNA

Os meus dias tinham se tornado miseráveis, de uma forma que antes eu não poderia imaginar que se tornaria. Viver naquele palácio sozinha e com James era como entrar cada vez mais fundo em uma escuridão que eu não tinha a menor ideia de como sair.

James havia sido coroado rei, não tinha feito uma grande cerimônia, estava de "luto". Fez algo mais discreto, e eu estava lá, participando de tudo, vendo tudo. Era só nessas ocasiões que eu saia do meu quarto, para estar com ele. Para jantar com ele, para satisfazê-lo.

Sem João ali, o pensamento da morte era muito meu companheiro diário. Muitas vezes eu planejava como faria. Ter uma faca na minha mão durante as refeições havia se tornado muito perigoso. E eu não conseguia evitar pensar: por que eu estava fazendo aquilo por alguém que me odeia? Por que não deixava aquilo tudo para trás?

Eu sabia que ainda sentia algo por ele, mas não queria sentir, não queria. Queria apagar aquilo tudo, queria não me importar com ele. Era por causa dele que eu estava presa ali, não deveria estar. Comecei a sentir ainda mais raiva de Dominique. Eu estava colocando minha nação em perigo, meu pai nunca me perdoaria, mas eu não me via simplesmente abrindo mão da chantagem de James. Eu não podia vê-lo morrer.

Aqueles dias passaram como um mês inteiro, eu sofria, ele me machucava, ele me humilhava e eu não sabia até quando suportaria. Eu queria poder voltar para minha perfeita ilusão, onde tudo era lindo, onde não importava o que acontecesse, eu seria feliz. Eu queria conseguir acreditar em Deus outra vez, mas não conseguia. Não conseguia, aquilo tudo havia ficado para trás, e eu não podia mais voltar.

— Anna, onde você está? — perguntou James durante o jantar. — Deixei você sair do quarto hoje, deveria estar contente.

— Pare de falar besteiras, James — falei. — Ficar no quarto tornou-se a parte boa do meu dia.

— Au — ele riu. — Não seja tão rude. O jantar está muito bom, não está?

— Está — respondi.

— Faltam 5 dias — ele sorriu para mim e segurou minha mão. Não puxei, paguei caro por ter feito isso da última vez. — Faltam 5 dias para nós unirmos nossas nações, para sermos marido e mulher, para você ser minha. Tudo na igreja, como sei que você gosta.

— Não me importo mais com isso.

— Não, como bons católicos, vamos fazer tudo direito.

— Se tem algo que nós não somos, são bons católicos. E não vou contar isso a ninguém, mas faço questão que você saiba James. Para a igreja católica, casamento sob coação é nulo. À vista de todos podemos estar casados, mas na igreja nunca estaremos.

— Isso quem diz não é a igreja, sou eu. Vamos estar casados sim. O que é seu é nosso, e o que é meu e só meu mesmo. E não me importa as regras dessa igreja, apenas o que eu quero, o que eu desejo. E eu desejo criar uma família com você. Inclusive, assim que casarmos, não vou usar mais proteção, quero que nosso primeiro filho nasça logo.

A partir daquele momento, não era mais capaz de comer nada. Meu estômago embrulhou, pensando em um família com James. Era como se a vida pegasse todos os meus planos e virasse de cabeça para baixo.

— Posso voltar ao meu quarto? — pedi.

— Você pode, é claro. Mais tarde vou lá, você já sabe.

— Sei.

Voltei para o quarto acompanhada dos guardas. James parecia mais bem humorado naquele dia, então estava mais liberal comigo. Não era sempre assim.

Flor De Um Reinado: O Homem e a FlorOnde histórias criam vida. Descubra agora