75. Ela Não É Minha Mãe

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ANNA

Quando chegou a quinta- feira daquela semana, tudo estava pronto. Havia passado os últimos dias indo às aulas normalmente, para tentar disfarçar. Enquanto isso, eu e meu tio realizamos negociações. Acabei descobrindo que, para muitas pessoas do conselho, não era questão de opinião, mas de molhar a mão. Eles não deixavam de aproveitar uma oportunidade. Tio Álvaro foi essencial para aquilo tudo. Ele enganou meu pai enquanto íamos conversando com os conselheiros. Ao fim, consegui as 22 assinaturas e providenciei a carta de renúncia, que já estava assinada por mim, faltava apenas a assinatura do meu pai.

Na sexta, haveria a festa da independência, com todo o conselho, autoridades de Camellia e outros países, e tudo televisionado. Era tradição haver o discurso do rei e do herdeiro durante o jantar. Eu nunca havia feito, papai achava um evento perigoso demais para eu estar, mamãe também nunca vinha. Mas naquele ano, como eu já estava na escola, todos aguardavam meu pronunciamento, e seria nesse momento em que eu iria anunciar e renúncia, a votação do conselho, a carta e a cláusula. Papai não teria outra opção que não assinar e tudo estaria acabado. Sem guerra, sem rebeldes, sem mortes.

Minha família veio do palácio na quinta de manhã, viriam todos da família real, além de Thomas e Caitlyn.

— Mamãe — João correu na minha direção, no enorme corredor do hall de entrada da escola.

— João — eu o abracei. Não conseguia mais passar tanto tempo longe dele sem morrer de saudade. — Eu estava louca para te ver. Se divertiu no palácio com seu tio?

— Muito. Ele é muito divertido. Mas eu estava morrendo de saudade da senhora.

— Filha — meu pai me cumprimentou. — Como tem estado? Soube da sua amiga.

— Sim, a Cris, ela era cozinheira do palácio, noiva do Jacob.

— Eu sinto muito.

— Eu vou caminhar um pouco no jardim com João. Vejo vocês no almoço.

Confirmei e saí dali o mais rápido que pude. Não conseguia olhar por muito tempo para meu pai, tinha medo de acabar desistindo.

Andando no jardim, enquanto ensinava sobre as flores para o João, o diretor apareceu. Ele vinha "viajando" desde que cheguei ali. Voltou apenas para a festa da independência.

— Diretor — cumprimentei.

— Alteza — ele disse.

Não sabia o que o 18 andava fazendo nos últimos tempos, sempre quem me atualizava dessa coisas eram meu guardas ou Marco e Sebastian, mas eu havia demitido todos.

— Gostaria que fosse ao meu escritório essa noite.

— Da última vez que fui lá, as coisas não acabaram muito bem.

— Da última vez, eu te ajudei a descobrir a verdade, e é para isso peço que vá até lá essa noite também.

— A verdade sobre o quê? — perguntei.

— Sobre toda a sua vida. Tem vivido uma mentira desde que nasceu, princesa. Não gostaria de finalmente saber o que sua família tanto esconde de você?

E com isso, ele voltou seu caminho, deixando-me extremamente confusa.

— Ele é do bem ou do mal, mamãe? — João perguntou.

— Do mal, filho. Mas ninguém pode saber.

— Por quê?

— Porque coisas ruins aconteceriam a ele.

— Mas ele não é do mal?

— Mas isso não quer dizer que possamos fazer mal a ele. Ou então não seríamos diferentes.

Flor De Um Reinado: O Homem e a FlorOnde histórias criam vida. Descubra agora