79. Um Homem Inteligente

10 2 4
                                    

ANNA

Eu estava em choque. Enquanto meu pai seguia para longe de todos, eu fiquei parada em cima do palco sem saber como reagir àquilo.

— O que fizemos? — disse meu tio.

— Matamos milhares de pessoas — falei.

— Não, ele fez isso. Ele sabia o que iria gerar, devia ter assinado.

— Eu achei que ele assinaria.

— Vamos voltar para o palácio agora mesmo — disse meu tio.

Meu irmão se aproximou.

— Anna, temos que sair daqui agora — falou. — Vem, papai já deve estar voltando para o palácio.

— Ele não vai querer ir comigo.

— Pegamos outro avião, vamos, rápido.

— João. Cadê o João?

— Está com Thomas, ele está nos esperando na saída.

Thomas sabia que aquilo ia acontecer?

Caminhei apressada no meio da multidão enquanto os guardas me ajudavam. Quando cheguei à porta da escola, Thomas estava ali com Giselle e João.

— Venham comigo, por favor — eu chamei. — Acho que vou surtar em alguns minutos.

— Já estava esperando o convite — disse Giselle.

Nós seguimos para o aeroporto. Quando cheguei, meu pai já estava partindo com minha mãe, meu avô e meus tios. Havia outro preparado para mim, no qual eu entrei com João, Thomas e Giselle.

Sentamos todos para aguardar a decolagem. Eu via meu peito subir e descer rápido.

— Mamãe — disse João me olhando preocupado.

Não respondi.

— Anna — chamou Giselle.

— Não sou ansiosa.

— Tudo bem, mas você está ansiosa.

Apareceu a permissão para tirar o cinto e eu corri para o banheiro. Quando voltei, Thomas jogava cartas com João.

— Você sabia? — perguntei a Thomas.

— Sim.

— Sabia que meu pai faria isso?

— Sim.

— Por que não me impediu?

— Não ia acreditar em mim.

— Por que acha isso?

— Porque agora você não é capaz de entender o motivo pelo qual ele fez isso.

— Vamos entrar em guerra, James vai vir.

— Anna, se isso não acontecesse, alguma outra coisa aconteceria, pode ter certeza — disse Giselle. — A Campanha estava se armando para isso. Eles deveriam ter um plano B.

— É, eles de fato estão dispostos a tudo.

— Não pense nisso agora.

— Acha que não consigo pensar em outra coisa. Meu pai nunca vai me perdoar.

— Anna, você sabia que ele iria considerar isso uma traição com ou sem a guerra.

— Quando chegar no palácio, vai se preocupar com tudo que há para se preocupar, mas por agora, sente aqui e jogue cartas comigo e com seu filho. Tente se acalmar para evitar maiores estresses quando chegarmos ao palácio.

E assim eu tentei fazer, por mais que não tenha dado muito certo, eu ainda estava nervosa quando passei pelo portão do palácio. Meu tio vinha pelo corredor.

— Não adianta. Ele disse que hoje quer distância de todos, principalmente de nós dois. Está em reunião com a equipe de estratégias. Vai até o raiar do sol.

— Tio, não podemos voltar atrás?

— Mesmo que pudéssemos, não se trata disso. O rei mostrou o que está disposto a fazer e voltar atrás só vai perder força. Por causa da ameaça tiranica nos próximos dias a Campanha vai ganhar cada vez mais massa, a ponto de se equiparar com nossas principais tropas, o que também não fará diferença, porque eles não precisam de muitos, já que Hemero está batendo à porta e patrocinando todo o lado rebelde. E isso não é o pior, porque o outro lado é comandado por um filho da mãe inteligente, e o nosso filho da mãe inteligente é um foragido do trono. Se o rei não tomar as decisões mais corretas agora, vamos ter perdido antes sequer que a guerra comece. Só que Augusto se recusa a me ouvir e está tomando decisões apenas por seu próprio achismo.

— Meu pai é um homem inteligente.

— É um homem inteligente, mas que não está perto de ter a estabilidade emocional nesse momento necessária para a ocasião.

— E o que o senhor sugere que façamos?

— Algo que ele não vai gostar nem um pouco. Sugiro que achemos o nosso filho da mãe inteligente.

Um guarda se aproximou e sussurrou algo no ouvido do meu tio. Ele sorriu e deu uma ordem para o guarda.

— Mande-o trazer para a prisão do palácio. — Ele virou para mim. — Deus atendeu minhas preces. Ele acabou de se entregar à polícia.

— O quê? — exclamei.

Flor De Um Reinado: O Homem e a FlorOnde histórias criam vida. Descubra agora