53. Ela Me Amava

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NATACHA

Todos ainda demorariam muito para acreditar, e eu ainda demoraria muito para revelar, mas muita coisa havia mudado desde que deixei a escola. Muita mesmo. Entre elas, o fato de que eu não queria mais destruir Anna, queria, na verdade, ajudá-la.

Tudo começou no dia que eu deixei a escola, fiquei em um hotel que Vladimir estava pagando para mim. Eu tinha deixado escutas em vários lugares e logo quis começar a ouvir, eu estava desesperada para encontrar uma prova de que minha motivação era real, de que Anna não era quem dizia ser, queria encontrar qualquer coisa. E como tinha deixado escutas no escritório de Dominique e no quarto de Anna achei que não demoraria muito até algo aparecer.

E apareceu, mas não o que eu esperava. Naquela noite, a primeira desde a minha tentativa de assassinatosm, Anna estava no seu quarto colocando João para dormir quando ele parou a história e disse:

— Tia Anna. Como a senhora se machucou?

— Por que está perguntando isso?

— Perguntei aos seus amigos, mas me disseram para perguntar à senhora. Sr.Martins disse que a senhora caiu, mas não acredito.

— Tudo bem. Natacha tentou me machucar, mas está tudo bem.

— Eu pensei que vocês eram amigas.

— Às vezes é necessário que sejamos amigos de uma pessoa que não é nossa amiga.

— Por que as pessoas querem fazer mal às outras?

— As pessoas sofrem, e às vezes acabam tomando decisões ruins por causa da dor que sentem.

— Isso acontece com a senhora também?

— Muita vezes. Por isso não posso julgar quando acontece com os outros.

— Mas por que ela quis lhe machucar? A senhora machucou ela?

— De alguma forma, devo ter feito.

— Que bom que ela foi embora, então.

— Não, não deve pensar assim. Eu ainda a queria aqui, perto de mim.

— Por quê? A senhora não tem medo? Ela pode querer lhe machucar de novo.

— Às vezes é bom a gente se machucar pelos outros. Natacha é alguém especial para mim, João, é alguém que eu amo. Por essas pessoas vale a pena se machucar um pouco.

— Por que não diz isso para ela? Aí ela volta.

— Você tem razão, se algum dia tiver oportunidade, vou dizer.

— Se ela está sofrendo, deveríamos rezar por ela, não é?

Eu já tinha lágrimas nos olhos

— É uma excelente ideia, João. Comece você.

— Papai do céu, cuida da amiga da tia Anna, para que ela não sofra mais. Agora é a senhora.

— Pai, traz a Natacha de volta para mim, para o César. Faça com que ela O veja.

— Isso é muito bom, princesa. Se ela O ver, Ele vai dizer para ela voltar na hora.

— Tomara, João. Tomara.

Ela cantou uma música para ele, e logo o quarto fez silêncio, o que significava que os dois haviam dormido. Ou ao menos era o que eu pensava. Ainda pude ouvir Anna falando sozinha. Ela dizia:

Flor De Um Reinado: O Homem e a FlorOnde histórias criam vida. Descubra agora