22. Eu Quis Ser Cego

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CÉSAR

Eu ainda tentava aceitar tudo aquilo, aceitar que Laura na verdade era Natacha, e eu era um idiota, um completo idiota. Os guardas a soltaram e ela saiu do quarto, quase correndo, eu a segui.

Ela saiu para os jardins, chovia lá fora e eu a segui. Ela estava parada no meio do jardim, sabia que eu estava ali, sabia que eu tinha coisas a dizer, mas não virou para mim, eu via seu corpo tremer.

— Eu vi... tantos sinais. Mas me deixei ser enganado, eu quis ser cego, porque não queria acreditar que isso fosse verdade. E o pior é que você nem disfarçava. No fim das contas eu fui um idiota, você deve ter rido muito de mim pelas minhas costas, não é? Eu tento não... Tento não me surpreender mais, isso já aconteceu tantas vezes, só que dessa vez eu... — ri da minha própria mediocridade. — Eu fantasiei algo que não era real. Deve ter sido muito divertido para você brincar comigo enquanto planejava matar a pessoa que eu mais amo no mundo. Imagino que o incêndio tenha sido você também, não é? Natacha. Esse é o seu nome. Imagino que deve ter sentido muito prazer com o sofrimento dela.

Ela virou para mim e vi raiva nos seus olhos.

— É sempre tudo sobre a Anna, não é? Todos caem aos pés dela. Eu já cansei de ver isso acontecer.

— De que droga você está falando?

— Estou falando que para vocês todos os outros parecem insignificantes perto dela. No Natal, no Natal você me pediu que não falasse o que tinha acontecido. Eu quase fui morta e a sua única preocupação era ela. E aí você fala de se doar a mim? Achou mesmo que eu iria cair nessa enganação? Eu sou uma rebelde, sim, e minha tarefa é destruir Anna, minha tarefa é impedi-la de subir ao poder, mesmo que isso signifique sua e a minha morte. Não me importo quem ela é para você ou para Dominique, nada vai me impedir de executar meu plano, posso não ter conseguido hoje, mas não vou parar, nunca vou parar.

Balancei a cabeça.

— Tudo bem, tudo bem, você odeia Anna. Mas então me responda: por que diabos me beijou? Eu não menti para você, eu fui totalmente sincero com você, mas hoje antes de ir tentar matar a Anna você me beijou. Você me beijou, depois de fugir de mim ontem. Não pensou, por um segundo, que isso talvez fosse ser um pouco cruel demais? O que eu fiz para você me odiar tanto assim?

Ela começou a chorar.

— Nada. Você não fez nada. Você foi o único que me deu algo de verdade. Você me deu um sonho.

— Do que diabos você está falando?

— Eu beijei você porque sabia que a partir de hoje você nunca mais ia querer saber de mim. Beijei você porque essa era minha última oportunidade de sentir... De sentir... Alguma coisa. Você me tinha em tão alta conta, eu nunca tive algo assim.

— Então é isso, era para satisfazer seu ego? Você ia matar a pessoa que eu mais amo no mundo, mas antes decidiu fazer uma brincadeira com idiota que é apaixonado por você?

— Não, não foi isso que eu quis dizer, eu juro...

— Eu não acredito em mais merda nenhuma que você falar!

— César, escute, eu sei que você está com raiva de mim, mas queria que soubesse que não quis brincar com você, eu só não consigo acreditar em tudo que fala. E... Eu tenho essa sensação de preciso de você, de que algo em você faz parte de mim, e foi por isso que eu te beijei, porque gosto de você.

— Não, não gosta. Quem gosta de mim não tenta matar minha princesa.

— Tem razão, eu não sei fazer isso, eu não sei gostar de ninguém, mas se pudesse escolher, eu escolheria não magoar você.

Flor De Um Reinado: O Homem e a FlorOnde histórias criam vida. Descubra agora