56. Tudo Seria Diferente

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DOMINIQUE

— Dom, ele precisa de você — disse minha mãe no telefone.

— Está me ligando para isso? Falei que não deveria me ligar, eu sei que ele precisa de mim, mas não posso ir para Camellia.

— Ele não está bem, ele está tão calado. Tem pesadelos quase todas as noites, não consegue fica sozinho por 2 minutos. Ele parece assustado, com medo de tudo e de todos. E sei que só sua presença vai acalmá-lo.

Fechei os olhos.

— Da outra vez, eu o escolhi, eu o salvei, porque era ele quem corria mais perigo, mas agora é a Anna, mãe, e não posso sair daqui. Faça alguma coisa para distraí-lo. Leia um livro, brinquem de algo.

— Ele não quer fazer nada. A única coisa que aceita é rezar, talvez fosse melhor se ele ficasse com você.

— É claro que não, é perigoso. Eu preciso desligar agora, mãe, já deu nosso tempo de conversa segura.

— Está bem — ela disse desistindo.

— Dá um abraço por mim no João, e fica bem.

— Você também, filho.

Desliguei a chamada e quebrei o celular. Depois entrei naquela igreja, não era tão grande, mas também não tão pequena. Eu queria falar com Deus. Queria um lugar que pudesse me dá alguma resposta, porque eu não conseguia acreditar que minhas orações estavam sendo ouvidas.

Sentei em um dos bancos da igreja vazia, mirando a cruz na minha frente com a imagem de Cristo, percebi que não costumava falar com a pessoa de Jesus.

— Acho que nos últimos tempos tenho falado mais com Seu Pai, com... Nosso Pai. Mas o Senhor já apareceu para mim uma vez, tenho certeza. Sei que às vezes, mesmo no sofrimento, há a Sua vontade acontecendo, mas... Ela está sofrendo tanto, e a culpa é minha, não preciso tê-la de volta, eu só quero que ela O tenha de volta. Ela precisa do Senhor. Jesus, ela precisa de Ti. Ajude-me a ajudá-la, ou ao menos, ajude-me a tirá-la de lá, das mãos dele, ela já passou por muita coisa nessa vida. Se não puder me dar a resposta que eu quero, me dê ao menos a que eu preciso. Porque eu preciso de uma resposta.

Continuei a olhar em silêncio para uma vela acesa que estava ali. Senti uma mão no meu ombro e me assustei, virei rápido e notei que era um padre.

— Veio se confessar, filho?

— Não, ou... Acho que pode ser. Não sei me confessar. As últimas vezes que fiz acho que errei tudo.

— Não tem problema. Você acredita que precisa se confessar?

Pensei sobre aquilo.

— Desejar a morte de alguém e não se arrepender é pecado?

— Depende dos seus motivos e as duas ações, depende do seu coração. Mas, ainda assim, para uma boa confissão é necessário o arrependimento.

— Então acho que não posso me confessar.

— Você é Daniel Castro, não é? O noivo da princesa Anna.

— Ex noivo — corrigi.

— É verdade, sinto muito. Eu sou o padre Howard, você gostaria de conversar comigo? Parece acalentado.

Dei de ombros e ele sentou ao meu lado.

— Eu sou novo nisso — falei. — Em ser católico. Minha mãe me batizou quando criança, mas foi só. Nunca comunguei, já me confessei algumas vezes, mas acho que ainda não sei fazer isso.

Flor De Um Reinado: O Homem e a FlorOnde histórias criam vida. Descubra agora