DOMINIQUE
Eu tive que voltar em embarcação clandestina para Camellia, o que fez com que passasse quase duas semanas em alto mar, o que, na verdade, me deu muito tempo para pensar, pensei sobre tudo que estava acontecendo na minha vida.
Eu percebia que não tinha mais a mesmo noção de vitória do que antes, quando se tratava de derrotar o inimigo e salvar o inocente. Não, vitória era estar naquele barco perigoso indo em direção a um país que queria me matar, com a mulher que amo passando pelo pior momento de sua vida, e ainda assim, deitado naquela rede nas frias noites, olhar para o céu e poder sorrir por saber, por sentir que Ele estava comigo, e sempre estaria.
Eu gostava daquela minha nova versão, gostava da presença Dele. Sabia que ainda viriam outros percalços, sabia que ainda erraria bastante, mas Deus na minha vida sempre seria uma verdade, e ninguém poderia mudar isso.
— Boa noite — cumprimentei Sr.Zhu, que deitava na rede ao lado. Ele era do país de Lótus, falava português, mas cheio de sotaque.
Estávamos ali há três dias, mas não nos falamos muito. Ele era bem quieto.
— Boa noite — ele respondeu.
Silêncio.
— Estamos aqui há algumas dias e o senhor nunca me deu boa noite.
— Isso é porque, para o jovem, a noite é um momento seu. Solitude.
— Como assim?
— O jovem olha para o céu e vê seu Deus, fala com Ele.
— O senhor reparou?
— Reparei, reparei. O mundo é muito moderno, as pessoas não param, elas falam, falam e andam, mas não param. É raro ver um jovem parar.— Bem, eu não tenho muita opção, não é? Estando aqui.
— Jovem deve aproveitar, é momento de paz, quando chegar lá, jovem não vai ter paz.
Pensei sobre aquilo.
— O senhor sabe quem eu sou?
— Sim, sim. Todo mundo aqui sabe. Eles se perguntam por que o jovem volta para um país que lhe caça.
— Oh, bem...
— Eu sei. O seu tesouro está lá.
— É, é isso. Sr.Zhu? O senhor acredita em Deus? O nosso Deus? Do ocidente? Que é trino? Que é pai de Cristo?
Ele assentiu.
— Então talvez possa me responder uma pergunta? Por que Deus ainda opera coisas tão grandes em pessoas que estão tão sujas? Ele fez algo por mim, algo que... Sei que não mereço.
— Você tem filho?
— Tenho. Um.
— Ele errar faz você amá-lo menos?
— Não, não faz.
— E se tivesse dois filhos? Iria se entregar como pai ao que mais lhe agradasse?
— Entregaria tudo ao dois.
— Então o jovem entende.
— O senhor sabe por que estou nesse barco. Seria muito invasivo lhe perguntar o mesmo?
— Vim ver minha filha.
— Sua filha? Mas... Por que não pode vir normalmente?
— Porque sou um sobrevivente.
— Sobrevivente?
— Do grupo 1.
Eu o encarei.
— O quê?
— É, deve estar surpreso. Eu era menino, menino burro.
— Mas então você sabe sobre a rainha...
— Sei, sei mais do que muitos. A coitada foi trancafiada dentro de um cativeiro para conhecer o próprio diabo.
— Foi isso que aconteceu no período vacante?
— Foi sim. Por isso ela matou todos.
— Até inocentes.
— É, mas ninguém pode lhe culpar por sua loucura, não é?
— E o senhor?
— Eu sai de lá assim que vi aquilo. Mas minha família foi caçada da mesma forma. Meu pai me mandou embora.
— Mas a sua filha...
— Ela é Camellina, mas não foi lá que eu a fiz.
Aquilo era muita informação.
— Espere. Esta dizendo que o que aconteceu com Anna também aconteceu a rainha Maria?
— Não sei se foi a mesma coisa. Princesa Anna nunca relatou o que aconteceu com ela bem, mas o que aconteceu com rainha Maria foi sem igual.
— E por causa disso, ela resolveu se vingar?
— Foi.
Aquilo era o que Anna tanto queria saber, era o que estava no segundo diário.
Continuei conversando com o Sr.Zhu durante os dias que se seguiram, e acabei descobrindo muitas coisas sobre o antigo grupo 1 e tudo que havia acontecido com a rainha Maria.
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Flor De Um Reinado: O Homem e a Flor
RomanceLIVRO 3 FLOR DE UM REINADO acontece em um mundo paralelo ao nosso, onde não há república, ou seja, o regime de governo de todos os países é a monarquia hereditária. A primeira protagonista é Anna Cruz, princesa de Camellia. Anna é uma menina muito...