35. Felizes os Que Choram

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ANNA

Os policiais e guardas fora do hotel estavam muito ocupados tentando conter o que estava acontecendo. Então ninguém me notou correndo atrás de garotinho que disparava em direção ao perigo. Aquilo era uma grande manifestação sendo contida por militares, não era perigoso para quem estava dentro do hotel, mas muito perigoso para quem estava ali no meio.

Meus guardas tentavam me alcançar, mas tinha sido tudo muito rápido, quando vi já estava no meio de tudo aquilo. Eu não tinha pensado direito, só segui o garotinho, tentando impedir que entrasse ali. Só vinha João na minha mente, e se fosse ele com certeza teria entrado dentro daquela berlinda, e Emanuel era ainda mais novo, devia ter uns 3 ou 4 anos.

Ali no meio da rua, era impossível encontrar alguém ou chegar até alguém, tinha muito empurra-empurra. Notei várias pessoas caídas no chão, tropecei em algumas deles. Meus guardas não conseguiam chegar até mim, mas eu também não conseguia chegar até Emanuel, já tinha o perdido de vista, e meus olhos ardiam por causa do gás, mas não parei de correr, se meus guardas me alcançassem não poderia mais achar Emanuel.

Então corri no meio daquelas pessoas, mesmo carregando no peito um pequeno cilindro de oxigênio, cilindro que perdi na hora em que alguém me derrubou no chão e derrubei o respirador, tentei pegar de volta, mas comecei a ser pisoteada, e minha visão já não estava muito boa. Foi aí, então, que o notei caído ali perto de mim, desmaiado, alguém o havia machucado, cheguei até ele e o trouxe para o meu braço, levantei novamente com ele e corri no meio daquelas pessoas, sem direção, mas tendo certeza que alguma hora eu iria sair dali.

E foi o que aconteceu. Dobrei em umas duas ou três ruas quando a movimentação abaixou, entrei em um beco e deitei o menino no chão. Sentei também, sem conseguir respirar, aquela agonia me vindo, eu estava sozinha, mas se não tivesse tirado Emanuel de lá, ele seria muito mais pisoteado, ninguém o notou ali.

— Não — sussurrei — Droga.

Encostei na parede.

— Vamos lá, Anna, respira, respira — tentei por mais um tempo, sentia entrar pequenas frechas de ar, mas muito pouco, pouco o suficiente para meu peito doer como se levasse vários socos. — Seu pulmão está bom, respira.

Não adiantava, eu não conseguia, e comecei a me sentir cada vez mais fraca.

— Anna — ouvi alguém exclamar e notei ser o amigo de Dominique, Jonas. — Graças a Deus, te encontrei.

— Aqui — ele tinha um cilindro pequeno com ele e dei graças a Deus. — Respira.

Eu o coloquei e comecei a tentar respirar normalmente.

Olhei para ele confusa.

— Protocolo de segurança, princesa, Dominique fez todos nós andarmos com um desses dentro do casaco. Não é tão eficiente quanto o outro, mas quebra um galho. Seu noivo é um gênio.

Eu apenas assenti tentando não gastar oxigênio.

— O garotinho se machucou? — ele notou. Deu um rápida examinada nele. — Acho que bateu a cabeça. Eis o que vamos fazer. Voltar por onde eu vim não é seguro. Os manifestantes estão se dispersando nessa direção, então vamos tentar ir por trás de forma discreta, certo? Com fé em Deus, não terão rebeldes por aqui e vai ficar tudo bem.

Ele pegou o garoto e o segurou por cima do ombro, a outra mão segurava a arma.

— Consegue andar?

O ar ainda me parecia rarefeito, mas estava melhor do que antes, então concordei. Ele ligou o comunicador.

Flor De Um Reinado: O Homem e a FlorOnde histórias criam vida. Descubra agora