49. Éramos 3, que Éramos 2, que Éramos 1.

19 2 5
                                    

GISELLE

As pessoas demoravam a entender que qualquer relação humana que pudesse vir a ter Deus extinguía o egoísmo. Era sobre sem pensar no outro, colocar-se no lugar do outro, sobre sacrifício, sobre esquecer-se de você.

Se todos focassem na felicidade do outro, então ninguém ficaria triste, era algo que aprendi com Anna. Na verdade ela havia ensinado aquilo a todos nós, por isso estávamos ali naquela noite no jardim da escola, era tempo em que, se não podíamos fazer qualquer outra coisa, então nos restava rezar com toda a fé que havia em nós.

Thomas segurou minha mão quando chegamos no gazebo.

— Não precisa ficar preocupada — ele disse. — E, por favor, não fique chateada.

—Não estou.

— Mas parece.

— Só quero saber se vai ficar tudo bem.

— Eu não tenho resposta para isso.

— Mas tem resposta para alguma coisa.

— Giselle, se você não conseguir compreender isso, ainda vamos ter problemas pela frente.

— Está bem, está bem. Eu só estou preocupada. Eles são meus amigos, e o que Anna está fazendo é perigoso.

— Precisa confiar neles.

— Como se Anna está cega ao ponto de não nos enxergar mais como seus amigos?

Ele ficou de frente para mim.

— Meu amor, é para isso que estamos aqui hoje, vamos conversar com Deus. Vamos pedir por nossos amigos, é assim que vamos ajudá-los.

— Acha que a Caitlyn vem?

— Não sei. Ela não está bem. O pai morreu, a mãe está presa e irmão...a parte dele não é nenhuma novidade para nós.

— Não, não é. E você? Como está com tudo isso?

Ele pareceu pensar.

— Eu desejei a morte deles, durante muitos anos. Não queria ser rei, mas achei que se isso acontecesse eu poderia ter amigos, eu não estaria mais sozinho. Depois que tudo aconteceu comigo, parei de ter raiva, apenas uma tristeza, uma tristeza por eles, por nunca terem conhecido o amor. Sei que fizeram muito mal, e de certa forma devem pagar por isso, mas não acho que cabe a mim julgar ou punir. Aquilo tudo passou.

— Você realmente não tem mais raiva do seu tio? Não está aliviado que ele finalmente se foi?

— Meu tio era um homem mau, isso é fato, um homem cruel. Fez coisas comigo que mais ninguém da família sabe. Ele matou a minha mãe. Mas agora que ele se foi, é apenas um alma perdida. Deus se entristece com todas as almas que se perdem. Não poderia ficar feliz com algo que deixa Deus triste.

— Acho que não consigo ter esse seu jeito de pensar. Nem passei por tudo que passou, e já estou satisfeita que não vai ter mais que encontrar esse homem.

— Também não julgo você por pensar assim. O que me deixa mais triste nessa situação é que Anna e João presenciaram tudo.

— Meu Deus, o João viu? Ele é só uma criança.

— É, e infelizmente não é a primeira vez que presencia algo assim.

— Como você sabe que eles viram?

— Porque eu também vi.

— O quê? Não viu não, foi ontem, estávamos aqui.

— Estávamos — concordei e ela me olhou confusa. Eu sorri. — Achei que já soubesse que as coisas vão muito além do que podemos enxergar apenas com os olhos. Estou com Anna o tempo todo. Ela é minha família. Eu nunca a deixaria sozinha em um momento como esse.

Flor De Um Reinado: O Homem e a FlorOnde histórias criam vida. Descubra agora