81. Não Precisa Mais Chorar

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ANNA


Aquela carta passou o dia todo nas minhas mãos, eu devia nunca ter aberto. Devia manter sempre Dominique o mais distante possível de mim. Agora que meu pai havia o perdoado e eu não tinha mais que me preocupar com isso, deveria tirá-lo da minha vida de uma vez por porto.

Eu não devia ter aberto a carta.

João acordou no meio da noite e eu precisava ficar sozinha, por isso fui para o jardim. Naquele papel não está escrito nada que eu não conhecesse, era a letra da música que ele cantou quando me pediu em casamento. Aquele tinha sido um dos dias mais especiais e felizes da minha vida. Por isso eu nunca quis pensar nele, nunca quis lembrar dele, justamente porque temia o que aconteceu naquela dia. Quando abri a carta, olhei para aquele dia e o vi como uma mentira, e aquilo doeu fundo em mim.

Eu queria ter o poder de arrancar aquele sentimento do peito, eu nem conseguia mais orar. Aquela dor física veio outra vez. Dominique, por que fez isso? Por que me deixei enganar? Por que não conseguia parar de chorar? Estava sozinha no jardim e chorava tanto que meu corpo doía, que parecia que algo ia explodir dentro de mim. Eu estava tão cansada de sofrer, tudo que construí como felicidade era uma mentira, as pessoas simplesmente me odiavam e eu nem podia mais orar.

Já tinham passado muitas horas quando consegui me acalmar, o dia já estava perto de amanhecer, então resolvi voltar para o quarto. Tomei um susto quando abri a porta e não o vi na cama, mas sim no chão na varanda desacordado.

Corri até ele.

 — João — eu o ergui. — João, acorda! — falei aflita, mas suspirei de alívio quando ele abriu os olhos.

— Oi, mamãe.

— O que aconteceu? Você está bem?

— Eu caí da cadeira.

— Por que subiu na cadeira?

— Eu fui orar.

Eu O abracei.
 
—Não faça mais isso, vamos na enfermaria.

Fiquei de pé e o ajudei a se levantar.

— Não, não, espera — ele segurou minha mão. — Mãe, vamos sentar ali antes, é muito importante. Senta na sua cama.

— Tudo bem, mas seja rápido.

— Eu vou.

Sentei na cama. Ele pegou o papel em cima da mesa e veio sentar de frente para mim.

— Mamãe, tudo que o papai colocou aqui é verdade.

— João...

— Espere, eu estive conversando com Jesus noite passada. Ele veio aqui, sentamos ali na varanda.

— Acho que você bateu a cabeça, é melhor irmos logo à enfermaria.

— Não, mamãe, não bati. Só machuquei o joelho, mas Ele fez parar de doer. Ele também pediu para eu dizer para a senhora que o que está escrito aqui é tudo verdade.

— Filho...

— A senhora tem que acreditar em mim. Ele disse para eu falar outras coisas também, vou falar tudo.

— João, não quero ouvir mais nada disso.

— Ele disse que a senhora ia dizer isso, mas que eu deveria continuar mesmo assim. Não sei por que a senhora está chateada, mas Ele queria que a senhora soubesse que um dia meu pai estava num lugar rodeado de homens maus, eu estava lá também. Nesse dia ele falou coisas más, mas não era ele. Antes de fazer isso, ele me abraçou e disse que aquele não era ele, que ia falar algumas coisas ruins, mas não era ele, mamãe, não era.

Flor De Um Reinado: O Homem e a FlorOnde histórias criam vida. Descubra agora