Flor De Um Reinado: O Homem e a Flor

21. Se Eu Soubesse Amar

NATACHA

    
A faca foi deixada na minha gaveta no começo daquela manhã, e eu agradeci por não ter deixado aquele beijo continuar na noite anterior. Eu não podia deixar nada atrapalhar meu plano naquele dia.

Eu andava dentro do quarto de um lado para outro. Decidi não sair dali, eu não queria cruzar com César. Não queria que nada pudesse me fazer repensar o que eu teria que fazer de noite.

Sr.Reis disse que para isso dar certo, eu tinha que querer de fato fazer isso. Então eu tinha que passar o dia me concentrando naquilo, pesquisando motivos pelos quais aquele plano deveria ir adiante. Acabar com a falsidade da princesa não era mais uma opção, eu havia prometido a minha mãe e manteria essa promessa. Era a última coisa que eu faria antes de morrer, nada mais importava.

Repassei isso várias vezes na minha cabeça, nada de pensar em César, nada de pensar em Dominique. Pensei que talvez fosse bom me distrair lá fora, executar alguma tarefa da escola, não porque era minha obrigação, aquilo não importava mais, mas porque me faria pensar menos em César. Porém a ideia me trazia a possibilidade de encontrá-lo, o que seria mil vezes pior.

Mas é claro que em algum momento meus pensamentos me trairiam, e eu lembrei da noite anterior, das coisas que ele falou, eu prometi a mim mesma que depois que dormisse aquilo ficaria para trás. Mas como poderia esquecer tudo que me disse? Ele disse tantas coisas que eu nunca tinha ouvido de ninguém. Quando me vi, estava com meu computador pesquisando uma foto dele na internet, porque eu queria vê-lo, mas não queria olhar para ele.

Vi uma foto dele bem mais novo, deveria ter acabado de ingressar no exército, estava com o uniforme militar, já desde aquela época era bem atraente. Vi outra foto dele com Anna quando ainda era bem criança. Lembrei dele dizendo que ela era sua menina, ela de fato era como uma filha para ele.

Em outra foto, era mais recente, havia um corte dele parado atrás de Anna em algum entrevista, mas na foto havia só ele, com um olha atento para algo distante. Ele era realmente bonito. Lembrei do nosso beijo. Ele era diferente de todo homem que já conheci. Fiquei toda a vida me iludindo com Dominique, e Dominique era um canalha, um idiota arrogante que só se importa em ter todos sob o seu controle. Se Anna não estivesse o enganando, ele com certeza a estava enganando.

César, não. César era um homem, tinha honra, como nunca vi ninguém ter. Ele era tudo que uma mulher poderia desejar, e era por isso que eu sabia que ele não poderia estar interessado em mim de verdade. Ou estava enganando a si mesmo, ou estava me enganando.

Eu sabia que meus pensamentos estavam me traindo por causa de toda aquela dor que eu sentia, aquela dor que parecia me apagar aos poucos, e talvez minha fuga fosse pensar que aquela noite anterior tinha sido real. Mas eu tinha que ser realista, não podia me deixar enganar. Não havia motivo para alguém se importar comigo.

Mas aquela foto, a que ele andava no bolso... Suspirei, olhando para sua foto na tela computador. Em um lapso pude ver seus lábios se moverem formando a palavra "assassina".

As lágrimas vieram, elas já eram minha velhas companheiras.

— Não consigo acreditar em você. Tudo que fala parece um mundo de ilusão. Se eu soubesse amar, eu amaria você, mas eu não sei, achei que sabia, mas na verdade nunca soube. Hoje a noite eu vou dar a você a maior da sua vida, isso de certa forma me dói também, mas não o suficiente, não o suficiente para me parar. Se eu soubesse amar, então eu amaria você, e estaria disposta a desistir, a sacrificar a única coisa que eu tenho. Mas eu estou sendo apagada, eu estou indo embora, aqui não é mais meu lugar, não faz sentido continuar resistindo. E nem você, nem ninguém pode mais me ensinar, porque o amor me dá medo. Eu sinto muito. Mas obrigada, obrigada por tentar me fazer sentir viva, não me sinto mais. E mesmo que esteja me enganando, mesmo que seja só uma ilusão, obrigada por me deixar sonhar por poucos segundos. Você foi alguém para mim aqui na terra. Você foi...