capitulo 9

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Pov Portuga:

Tava sentado na sacada do meu quarto bebendo whisky, às vezes eu tenho dessas neuroses de não conseguir dormir e fico aqui pensando em um pá de coisas.

Vi a mina sentar lá na piscina com um violão, ela só pode estar brincando. A mina dança, bebe, cozinha, toca violão, nada mal.

Fiquei dali observando tudo, pelo visto ela não percebeu a minha presença ali, voz magnífica a dela, por mim, eu viveria só escutando sua voz, tranquila, suave, perfeita.

Lua: Eu falei que era uma questão de tempo
E tudo ia mudar, e eu lutei
Vários me disseram que eu nunca ia chegar, duvidei
Lembra da ladeira, meu?
Toda Sexta-feira meu melhor amigo é Deus e o segundo melhor sou eu...

Mancada, a mina lançou um Moleque de Vila, sorri escutando aquilo prestando atenção em cada palavra dita na música.

Lua: Eu tanto quis, tanto fiz, tanto fui feliz
Eu canto Xis, canto Péricles, canto Elis
Torcedor do Santos, desse pão e circo eu também quis
Não sei feliz, mas geral merece não ser infeliz...Prosperei com o suor do meu trabalho
Me guardei, lutei sem buscar atalho
Ou sem pisar em ninguém
Sem roubar também, então sei
Que hoje o meu nome é Foda e meu sobrenome é Pra Caralho.

Realmente, a Lua é FODA PRA CARALHO, e eu nem sei por que eu tô falando isso, Namoral. Meu corpo tomou decisão própria, e acabei indo para a piscina.

Portuga: Dorme mais não?_perguntei sério, admiro ela mas não dou ousadia.

Lua: Ah desculpa, perdi o sono, e vim pra cá, desculpa mesmo, acabei acordando você!_falou levantando.

Portuga: Regra número seis, para de abaixar a cabeça sempre, mó neurose isso aí, aprendeu a tocar com quantos anos?_sentei ao lado dela na piscina.

Lua: Eu tinha dezoito anos quando aprendi, por que? Sabe tocar também?

Portuga: Aprendeu com o seu pai?_perguntei interessado em saber mais sobre ela.

Lua: Não tenho pai, quer dizer, ter eu tenho, ele só não sabe da minha existência e nem eu sei quem é ele, aprendi com o João.

Portuga: João, João o namoradinho que você estava conversando com ele no celular mais cedo?

Lua: Ele não é o meu namorado, a gente é amigos apenas, considero como o meu irmão, eu não tinha tempo para sair, sempre saia de casa escondido da minha mãe e do meu padrasto, e ele me levava na praia com a Manu e ficávamos lá, cantando na beira do mar._riu parecia estar imaginando a cena.

Portuga: Não era melhor avisar a sua mãe que você iria sair?

Lua: Não, ela nunca foi cem porcento liberal comigo, minha rotina era da faculdade para a casa e de casa para o trabalho, sempre foi assim, bom, pelo menos era, e eu trabalhava para terminar de pagar a minha faculdade e bancar a casa, por que eles não faziam questão de trabalhar, e seu eu não fizesse nada eu apanhava, e às vezes fica sem comer por dias._explicou.

Portuga: Saquei, vida corrida a sua.

Lua: E você, como conseguiu virar dono do morro, se não for encômodo a pergunta.

Portuga: Nem era pra tá falando nada da minha vida com você, mas você falou da sua, seria injusto ignorar. O morro era do meu pai, meu sonho quando criança era ser policial, meus pais me apoiavam, mesmo tendo a vida envolvida no crime, relação saudável, certo dia teve uma invasão no morro, eu tinha se eu não me engano uns quatorze anos, novo ainda, entrando para adolescência, meu pai saiu como sempre saia quando acontecia invasão, deu um beijo na minha mãe, me abraçou e pediu para que eu cuidasse dela, e falou que nos amava, aquilo era uma despedida, só não sabíamos. E desde então tomei conta do morro, e só saio dele morto.

Lua: Nossa, sua história é bem complicada._ela não sabia o que falar, era isso.

A mesma começou a tocar, novamente, fiquei ali do lado dela, apenas aproveitando a brisa, deixei um pouco a seriedade de lado, mas não significa que eu estou dando ousadia. Descobri que a mina é batalhadora, e guerreira, quem sabe eu deixe ela terminar a tal da faculdade, terá seus poréns, mas até então nada definido, não tenho cem porcento de confiança nela.

Lua: Ela dormiu no calor dos meus braços, E eu acordei sem saber se era um sonho...

E sem contar que a mina tem um ótimo gosto para músicas, sem idéia, foda pra caralho.

Lua: Há um tempo atrás pensei em te dizer
Que eu nunca caí nas suas armadilhas de amor...

Portuga: Naquele amor
A sua maneira
Perdendo o meu tempo a noite inteira_cantei junto com ela, pô, eu canto mó bem, só que não.

Lua: Não mandarei cinzas de rosas
Nem penso em contar os nossos segredos...

Não sei se era o efeito do whisky com a cerveja, mas eu me amarrei legal na voz da moça, e a mesma parecia empolgada com aquilo, sempre teve terminava uma música, começava outra.

Portuga: Vai, deixa eu tocar uma aí._me senti rendido pelo sentimento da música.

Comecei a cantar a música "Outro dia- Mazin, A Banca Records, Azzy, BLACK" e assim a noite foi rendendo, quando vi já tinha amanhecido, e ela com o sorriso bobo no rosto me acompanhando na música.

Lua: Portuga? Você pensou sobre eu poder terminar a minha faculdade?

Portuga: Não sei ainda, precisa me mostrar que é de confiança, só assim poderei te dar a resposta.

Não era egoísmo da minha parte, infelizmente na vida do crime, não podemos confiar em todos e todas, segurança sempre em primeiro lugar, meu pai morreu por confiar em pessoas que passavam as informações do morro para os inimigos, e acabou não tendo segurança o suficiente para se defender.

Fé que um dia eu deixe a mina sair por aí, até eu ter a total certeza que posso confiar nela. Peguei ela a troco de drogas, eu sei que foi errado, não pensei antes de fazer, devolver ela agora seria mancada, e eu não teria coragem, a mina não tinha vida, a mãe dela não merece nem ser chamada de mãe, talvez um dia eu libere ela daqui, não compensa fazer isso, meu pai não faria isso, fazer pessoas de mercadoria.

Me deitei pegando no sono, mesmo sabendo que tinha poucas horas para dormir, a mina também foi dormir, tem coisas que ela esconde, e que eu pretendo descobrir, eu vejo no seu olhar.

POR AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora