Pov Sorriso:
Tava nervozão, angustiado, caraca, o cara que mais me ajudou, considero um irmão, tá ali no banco de trás entre a vida e a morte.
Cheguei no hospital na rapideza que nem prestei atenção no caminho, só sei que cheguei aqui, muito rápido. O Kaio estava mais desesperado que eu, eu ainda estava sem reação, deu um frio só de pensar na notícia ruim que poderiam dar.
O Portuga tava no carro desacordado, não falava nada, e nem resmungava de dor. Eles não me deixaram acompanhar o Portuga, não entendi ao certo, mas alguma coisa relacionada com cirurgia e eu não podia assistir.
Sentei no banco do lado de fora do hospital vendo ambulâncias chegando e saindo. Minha cabeça doía, como eu iria explicar a tia Luísa se acontecer alguma coisa, eu prometi trazer e levar o Portuga com vida, e agora o cara tá no hospital, baleado.
Kaio: Aí parça. Será se ele sobrevive?_me olhou com os olhos vermelhos.
Sorriso: Não sei cara, ele não estava nem reclamando de dor no carro aquela hora. Tô com medo._fiquei olhando pro chão.
Eu sou uma pessoa que demonstra sentimento facilmente. Eu queria me manter forte, mas a preocupação me dominava. Apesar das nossas desavenças de vez e outra, eu amo aquele otário.
Bagulho foda, eu tava segurando o choro, tava com um nó na garganta, se falar comigo eu choro, papo reto.
Meu pai estacionou o carro um pouco à nossa frente, e a Lua desceu rapidamente, desesperada. Suja de sangue, alguns machucados pequenos no rosto. Apesar da blusa preta, era perceptível o seu ombro sujo de sangue, enfaixado com um pedaço de pano.
Grego: Já atenderam ele?_perguntou para o Kaio.
Eu saí dali pra não desabar na frente deles, sei lá. Qualquer reação minha ali pode desesperar ainda mais a minha irmã. Parceiro, eu jurava que eu era forte diante essas situações.
Lua: André!_me chamou e eu virei olhando para ela.
Lua: Ele vai ficar bem, não vai?_me olhou com os olhos marejados.
Porra, aquilo ali foi o ápice pra mim. As lágrimas que eu segurava segundos atrás soltou tudo. Eu não sabia se ele iria ficar bem. Eu vi ele sendo colocado na maca, imóvel, corpo gelado, não consegui sentir sua respiração.
Chorei mermo, chorei alto. Tava com um trem preso na garganta, acho que se eu não chorar vai ser pior. A Lua veio me abraçar e eu senti meus ombro molhar.
Sorriso: Eu não quero perder meu amigo Lua. Eu não quero! Eu não posso!_falei entre choro.
Falando asslm até parece que o Portuga morreu, esse é o meu medo. Os filhos dele, a Karina, a tia Luísa. Cara, eu tô sem chão.
Tô ligado que não é a primeira vez que ele para no hospital por conta de um tiro. Só que dessa vez foi diferente. Às outras vezes eles vinha xingando de dor, e ele estava calado, gelado, porra.
Lua: Ele me pediu para cuidar das crianças! Por favor, ele não pode nos deixar André. Eu ainda amo eles. Ele está lá por minha culpa, era pra ser eu no lugar dele._falou sentando na calçada.
Sorriso: Calma parceira, você sabe que ele tem essas manias de falar coisas sem sentido nenhum, ele vai se recuperar._sentei do lado dela tentando passar positividade.
Lua: Vamos rezar ?_me olhou.
Sorriso: Não sei rezar e também acho que não sou a pessoa certa para fazer essas coisas. Porra, sou todo errado, só dou desgosto pro cara lá de cima. Ele nem deve me querer lá, vai me mandar direto para o Tio Lu.
Lua: Somos pecadores, isso é fato. É só você pedir para que ele salve o Portuga. Reza um pai nosso, faz do seu jeito._me olhou esperançosa.
Não sou religioso, acredito em Deus, tô ligado que aquele cara é poderoso e sem ele eu nem existiria. Mas eu sou pecador demais, certeza que ele não vai querer escutar as preces de um cara que é traficante, que mata pessoas, que rouba, eu não sou o ser humano que vai fazer parte do céu.
Fechei os olhos tentando me concentrar. A Lua rezava baixinho ajoelhada segurando a minha mão. Ajoelhei no chão junto com ela e fechei os olhos, como eu faço isso?
Aí senhor, sei que não sou certo e nem sigo por completo os seus caminhos, mas tô aqui implorando pra ti. Melhore o meu irmão pai, faça tua obra, eu não sei rezar e nem devo pedir nada para o senhor, cara eu nem sei o que eu estou fazendo, mas poxa, o Pedro tá lá na sala de cirurgia entre a vida e a morte, estamos desamparados. As crianças precisam de um pai presente, elas precisam do Pedro, por favor...
A cada pensamento meu, uma lágrima caía. Porra, eu tô sem chão. Tô desesperado. Não sei o que fazer. Eu estou surtando.
Sorriso: Lua, vem. Você precisa cuidar desse machucado._levantei rapidamente e ela fez o mesmo.
Lua: Para ser sincera, isso aqui está doendo demais._fez uma careta.
Ela estava sorrindo ali, mas sabemos muito bem o quão confusa ela está. Sabemos que ela está com medo. Eu também tô, não tô conseguindo ser confiante como deveria estar sendo. O foda é que eu tinha que estar preparado para algo assim, porra ele é o dono do morro, mais temido e procurado.
Mas diz aí...quem vai se acostumar com a morte de alguém vivo? Não existe essa possibilidade. Isso é muito óbvio.
Nem tenho a certeza se ele morreu, tô me precipitando pra porra, a mente é o nosso pior inimigo. E esse negócio tá regaçando com o meu psicológico.
O Ld foi com os vapores levar as crianças no carro do Portuga. Até então, eu acho que ninguém sabe do que real está acontecendo. Acho que melhor assim, não sou bom em dar notícias, e se for para informar, essa pessoa não vai ser eu.
Kaio: Onde está a Lua?_me olhou.
Sorriso: Entrou lá dentro para mexer com o machucado no ombro._sentei novamente na calçada.
Kaio: E a tia Luísa?_sentou do meu lado.
Sorriso: Acho que ainda não sabe. Namoral, tô confiante que o Portuga vai sobreviver não._encostei a cabeça no meu joelho.
Kaio: Tô confuso com esse negócio ainda. Será cara?
Sorriso: Sei lá pô. Não é a primeira vez que ele leva um tiro. Das outras vezes eu trazia ele no hospital resmungando de dor, xingando tudo quanto é nome, ele tava desacordado hoje, não reagia, corpo tava gelado pra porra, no calor que está fazendo.
Kaio: Ele pediu para a Lua cuidar das crianças, cê acha que isso foi uma despedida?
Sorriso: O Portuga fode com qualquer um, que precisão tinha dele falar um trem desses porra? Agora eu vou achar real que o mané morreu.
Kaio: Algo me diz que ele não morreu, a pulsação estava bem fraca. A possibilidades dele sobreviver, e mais possibilidades ainda dele ficar com alguma sequela.
Sorriso: Pra mim eu prefiro o Portuga com sequelas e vivo, do que morto. Caralho, minha cabeça tá doendo com isso.
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POR AMOR
FanfictionSe eu errar que seja por muito, por amar demais, por me entregar demais, por ter tentado ser feliz demais. - Clarice Lispector 12/01/2022