capítulo 74

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Pov Lua:

Fiquei sozinha na mesa, o Kaio havia saído para a apresentação. Confesso que senti orgulho do Kaio quando ele ameaçou o Yan, certo que é briguinha de adolescentes, mas não é certo o preconceito, trabalhar no semáforo é um trabalho digno como todos os outros, desde que você não roube de ninguém.

A única coisa que me deixou curiosa foi quando falaram "Dona Santana" como se já me conhecessem. O Kaio é mais reservado, e não é de hoje que ele vem reclamando desse menino, até pensamos em pedir alguns vapores para dar um susto no grupinho.

Deu início a apresentação, cada um lia o seu texto e levava um presente para a mãe, tava ansiosa para saber o que o Kaio iria aprontar, um monte de gente haviam se apresentado, por último gritaram o nome do Kaio.

Kaio: boa noite!_falou no microfone, diferente de todos os outros que se apresentaram ele estava sem papel nem nada para ler.

Kaio: Não é novidade para os professores eu falar que eu não escrevi nada, o papo é que, eu nunca tive mãe, nunca senti um amor de mãe, namoral, essa é a primeira apresentação de dia das mães que eu participo, e nem é por conta das notas. O fato é que eu nunca senti falta de ter o amor de mãe, e acho que isso me fazia sofrer preconceito aqui na escola, diversos caras aí me julgando por eu trabalhar vendendo balinhas em semáforo, não ter onde morar, é preconceito em cima de preconceito. Não vou citar nomes porque não é necessário até então!_falou e passou um olhar para o Yan que estava na mesa com a sua mãe.

Kaio: Abandonado desde cedo, fiquei independente, morei um tempo no abrigo, vi o ruim e o mal, passei dias de fome porque eu não era bem tratado no abrigo, faltava dias na escola por não ter roupa adequada pra vim, pra Zé povinho ficar julgando depois, e fiquei com a mente fraca. Nossa parceiro, cheguei numa fase que eu estava desistindo de tudo, e foi aí que surgiu uma luz no fim do túnel, também conhecida como Lua Santana. Conheci a Lua no hospital, ela estava fazendo estágio, eu estava tendo uma forte crise de ansiedade e pânico, ninguém conseguia me acalmar, eu sentia falta de ar, todo tipo de agonia que vocês podem imaginar, e no momento de desespero a futura doutora Largou o seu estágio, sentou do meu lado no chão do hospital comigo sem frescura e segurou firme a minha mão._falava enquanto fazia gestos com as mãos e todo mundo ouvia atentamente.

Eu estava segurando o choro, eu sabia de tudo, menos da parte de desistir.

Kaio: Ela poderia apenas me ignorar como todos os outros médicos fizeram, simplesmente por eu ser pobre, vocês vão me desculpar pelo palavreado, mas me ignoraram por eu ser pobre, fudido da vida, sujo porque faziam uns dois dias que eu não tomava banho, roupa rasgada, situação horrível, e diferente de todos ela me acolheu, me acalmou sem precisar de medicamentos, e me ofereceu um lugar na casa dela. Além de me ajudar, ela me deu amor, me deu carinho, me deu um voto de confiança, e em troca ela só pediu notas boas, apenas isso. Não conheço a minha mãe e nem o meu pai, não tive amor de nenhum dos dois, e descobri que mãe não é ter o mesmo sangue, ter carregado por nove meses, mãe é quem cria, cuida, e a Lua é a minha mãe pô, a gente até se parece, olhem o tanto que ela é bonita e o tanto que eu sou um gostoso!_falou e todo mundo riu.

Kaio: Diferente de todos que deram presente embrulhadinho e essas regalias toda, o meu é diferenciado, meu presente é uma caneta mermo, pra dona assinar os termos de me aceitar como filho dela!_tirou a caneta do bolso.

Falou a última frase  e eu abri a boca supresa vendo ele caminhando até mim, com um papel em suas mãos. Em cima estava escrito adoção de letra maiúscula, embaixo estava escrito em letras minúsculo os termos de acordo com a lei.

Assinei o meu nome lá em baixo onde exigia a assinatura, e ele levantou o papel pro alto.

Kaio: Vocês sãos os meus testemunhas que a dona aqui aceitou ser a minha mãe e a justiça não aceita devolução!_falou rindo no microfone e logo depois virou me olhando.

Kaio: Caraca, olha, eu te amo demais, tu é foda caralho, só tenho que te agradecer mermo, me ajudou e sempre esteve do meu lado, tô prometendo aqui diante de todo mundo nunca te decepcionar, e obrigado por aceitar ser a minha mãe, sem sombras de dúvidas tu é a melhor!_falou me abraçando.

Enquanto todo mundo batia palmas eu chorava, escutando o Kaio me chamar de chorona enquanto me abraçava.

...

Foi um momento de emoção, eu estava feliz a beça, adotar um filho não estava em meus planos, mas foi a melhor escolha que eu fiz. Os meninos não olharam para a cara do Kaio o resto da noite inteira, saímos da escola e fomos direto para o baile, o Kaio estava pior que aquelas crianças birrentas querendo ir embora. 

POR AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora