capítulo 69

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dias depois

Pov Portuga:

Tá rolando entre eu e a Lua, e papo sério, tô começando a me apegar naquela desgramada. Ela é diferente das outras, ele é mulher parça, batalhadora ela é mil e um caralhos de boa, tô preso naquela mina e acho que prefiro continuar preso ali, não será necessário advogado ou juiz, pode deixar eu preso, se possível a perpétua.

Tava na boca resolvendo os problemas, essa semana teve invasão, tivemos que usar metade das nossas armas, precisava repôr tudo. E o Papagaio agora se encontra pacificado, sem dono e sem sub, aquele lugar necessita de melhorias, e por um momento eu pensei em pegar o poder, mas se um morro já é muita responsabilidade, imagina dois, cabeça dói só de pensar.

Pensei em oferecer para o Sorriso, mas ele está querendo sair fora dessas coisas, não julgo. Se pá o pai dele pega essa responsabilidade, todos nós sabemos que o poder daquele morro deveria estar nas mãos da Lua, pois foi por ela que matamos o dono, mas sabemos também que ela não quer se envolver nessa vida.

Drogas chegavam, armas que chegavam, estava uma correria da porra nesse morro, deixei o Sorriso junto com o Ld tomando conta das drogas, e fui resolver o problema da arma, semana passada veio armamentos, e não veio a quantidade encomendada, é muito dinheiro investido nessa merda pra me fazerem de besta sem nenhum motivo, eles sabem com quem estão se metendo.

Pov Lua:

Estava no hospital com um rapazinho com crise de ansiedade, ninguém estava conseguindo acalmar o rapaz, estava na sala ao lado, não era a minha sessão na pediatria, mas fui até eles tentar entender a real situação.

Eles não se mostravam muito preocupados com o menino, e isso foi o mínimo para me estressar, se realmente for uma crise de ansiedade eles não podem abandonar o menino de lado totalmente vulnerável.

Fui até o menino que tremia e chorava, mas não conseguia falar nada, sentei no chão do lado dele e fiquei calada, até ele se acostumar com a minha presença, segurei firme a mão dele, e ele me olhou com os olhos vermelhos de tanto chorar.

Lua: Vai ficar tudo bem, acredite em mim!_falei baixinho e ele assentiu.

Lua: Faz o que eu fizer, tudo bem?_eke concordou comigo.

Eu respirava fundo ainda segurando na mão dele, e ele repetia a minha respiração, o primeiro passo era tentar controlar a respiração dele, para não piorar o caso e ele vir a sentir uma falta de ar. Aos poucos sua respiração foi acalmando, mas ainda suspirava por conta do choro, e tremia, pouco mas tremia.

Lua: Qual o  seu nome?

Ele precisava conversar, mesmo ainda passando pelo ataque de pânico. Ele Ficou um tempo calado, ele me olhava como se pedisse ajuda para falar, essa parte eu não fazia idéia, cada crise é diferente, a minha não era assim, mas era um surto.

***: me chamo Kaio!_falou baixo com dificuldade.

Lua: Kaio, que nome lindo, eu me chamo Lua!

Kaio: Obrigado mermo tia!

Lua: Não precisa agradecer, você tem quantos anos?_eu ainda segurava a mão dele, precisava transmitir tranquilidade para ele.

Kaio: tenho treze anos tia!

Ainda uma criança, tão novo passando por tantas coisas, ele me trás uma lembrança do meu passado.

Lua: Sua mãe ou algum famíliar seu está aqui?

Kaio: Tenho ninguém não dona, uma amiga minha insistiu para que eu viesse aqui, tava tremendo quando eu vim, depois começou o surto._soltou a minha mão e ficou olhando o chão.

Lua: Eu também era assim, às vezes eu tenho crise de ansiedade, minha vida é uma bagunça que só!_sorri.

Kaio: Mas a senhora tá aí pô, doutora, certeza que é uma das melhores desse hospital, sou um Zé ninguém tua acha mermo que eu faço alguma diferença pra alguém? Faço não pô!

Lua: Lógico que faz, deixa eu te perguntar um coisa, onde você mora Kaio?

Kaio: Ó tia, eu moro em qualquer lugar, bando de merda fala que eu sou morador de ruas e os caralhos, eu morava no abrigo da central, mas a velhas de lá me tratavam com desdém por eu ser assim, mó jeitão favelado, preconceito tá ligado, fugi de lá, hoje eu vivo em qualquer lugar, inclusive conheci a minha amiga lá no abrigo, tem um lugar próximo de lá que é abandonado e a gente fica lá, conversando e pá.

Lua: Então ninguém pensou em...

Kaio: Adotar? Não tia, ninguém adota adolescente não, papo reto, às vezes eu não faço nem questão, é eu por eu mermo tá ligado, e é isso.

O abrigo central até onde eu sei ficava próximo daqui, o Kaio não parecia ser um menino ruim, muito pelo contrário, ele parece ser um menino bom mas um menino que carrega dores e mágoas.

Lua: Então você mora na rua?

Kaio: Praticamente, às vezes eu faço uns corres, tipo, levar as compras das senhoras, varrer a calçada, botar o lixo e consigo uma grana, dá pra descolar um almoço, ou uma janta, tá dando pra viver._falou simples.

Uma idéia estava surgindo em minha mente, por mais arriscada que seja a minha decisão. O Kaio estava mais calmo, já não tremia, sua voz estava firme, e isso me aliviava.

Lua: Kaio, vamos fazer o seguinte, olha agora eu estou fazendo estágio, termino daqui meia hora, fica aqui, e assim que eu terminar eu te encontro aqui, tá bom?_me levantei junto com ele que assentiu com a cabeça.

Voltei para a sala onde eu estava e volta e meia eu fazia alguma coisa, aqui era mais prestar atenção do que qualquer outra coisa. Terminei a minha obrigação e peguei todo o meu material colocando todos na minha bolsa, me despedi da doutora e saí dali indo para o corredor onde eu iria encontrar com o Kaio.

Só que ele não estava ali, eu estava apenas tentando ajudar, de alguma forma, eu o pior é que eu nem fazia idéia de onde ele havia ido.

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POR AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora