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Cecília 🇧🇷

Com o meu pai em coma no hospital, nossa vida mudou por completo. Minha mãe parou de tatuar porque ta dedicada exclusivamente a ele no hospital.

Dinheiro não falta, pra nada, até porque a gente sempre foi bem controlado, mas o tio Coringa e meu padrinho pegaram a responsabilidade de pagar meus cursos, pra eu continuar me ocupando.

Geralmente no meu horário de almoço, entre a escola e o cursinho, eu ia no hospital, via ele, ficava com a minha mãe, e voltava pro compromisso, mesmo com a cabeça longe.

Jade ta sendo uma parceira do caralho, eu nunca imaginei, mas ela sempre passa o dia comigo depois do curso de maquiagem, me leva pra dormir na casa dela ou sobe e fica comigo.

Se solidarizou mesmo, dias que eu tô muito ocupada pelo acompanhamento escolar, ela vai pro hospital, ajuda minha mãe e me trás notícias.

E hoje, não foi diferente. Minha mãe se recusou a dormir em casa e meu cursinho do acompanhamento terminou as dez da noite, porém, eu desci do prédio com a Agata, sabendo que ou o Heitor, ou meu padrinho estaria aqui pra me levar.

Assim que eu sai, vi o Heitor sentado na moto, com o celular na mão e os capacetes apoiados, ele olhou na minha direção, mas nem deu ideia, foi logo reparar na Agata, que percebeu e ficou até sem graça, porque ele tava encarando legal.

Cecília : Quer que eu espere seu motorista chegar, aqui com você? -Perguntei e ela negou prontamente.

Agata : Chegou ali já. -Apontou pra jaguar e eu concordei. -Mas obrigada, até amanhã. -Dei um beijo nela, que saiu andando sem dar ideia pro Heitor, que continuava olhando pra garota.

No papo, Agata era gente boa, inteligente, gata, mas estilo de vida dela é altíssimo, loira do olho caro, filha de médica e engenheiro, pique paty mesmo, sabe.

Gosto dela, mas é seletiva a beça, gosta de aprender, isso eu já percebi, mas nem todo mundo tá disposto a ensinar.

Heitor : Que amiga metidinha a riquinha tu foi arrumar em, ah, porque meu motorista ta ali. -Falou fazendo voz fina e eu ri, jogando a cabeça pra trás.

Cecília : Ta bom ô garoto pobre que morou a vida toda na Barra, só estudou em colégio caro, ta bom. -Peguei o capacete. -Ta nessa porque ela não te deu mole.

Heitor : Caô. -Subi me ajeitando e ele deu partida, a gente subiu direto e ele parou no bar do tio Zé, os meninos estavam todos sentados comendo uma pizza, meu olhar foi logo no Henrique.

Cecília : Vou subir pra casa, obrigada, como sempre. -Dei um beijo na bochecha dele, que segurou meu braço.

Heitor : Vou te falar uma parada agora como o seu tio. -Eu ri no deboche. -É sério feia, o lance com o Henrique foi foda pra caralho, ta na tua razão e eu não tiro ela de você. Mas é complicado, tu deixar de ir nos lugares por ele estar e essas fitas, se for pra ser assim é melhor perdoar e ficar de boa, mesmo que se afastem. Sei que teu coração, diz uma coisa completamente diferente do que seu racional diz, mas lembra, perdão é pra encher isso aqui ó. -Bateu no coração dele. -Não fica alimentando ódio não, faz mal.

Respirei fundo e ele me puxou, atravessei a rua com ele e dei um beijo nos meninos, pulando o Henrique, não tem como fingir que tá tudo bem também né, não tá.

Tentei me distrair ali com eles, que tentavam me deixar longe da situação do meu pai e assim que eu terminei de comer, fui no banheiro.

Ia sair, pelo corredor que ligava o banheiro tanto masculino quanto o feminino e o Henrique entrou, e eu bati de frente com ele, fui tentar passar pelo outro lado, mas ele segurou o meu braço, e eu senti a respiração dele na minha direção.

Henrique : Me escuta, na moral. -Falou com a voz mais carregada que o normal e eu neguei com a cabeça.

Cecília : Não quero ouvir nada. -Fui passar por ele de novo, que dessa vez colocou as duas mãos na minha cintura e me encostou na parede, continuou com elas ali, e ficou olhando na minha direção, com os olhos meio vermelhos.

Henrique : Fui um cuzão do caralho por ter te tratado daquela forma, não merecia e eu me arrependo pra caralho por isso, me atormenta todo dia saber que eu fui responsável por isso e eu não me orgulho, tô me abrindo no papo contigo e eu sei que nada justifica...

Cecília : Não mesmo, te defendi tanto, corri tanto atrás da nossa amizade, pra na primeira oportunidade você fazer o que fez comigo, da forma que fez, me destratou, me fez me sentir mal, por que? A preço de que?

Henrique : Nada, né. -Falou depois de um tempo, com a voz falha. -Mas eu te garanto que o preço que eu tô pagando, é alto, não te ter comigo me faz mal. Só me perdoa, eu errei contigo, fiz a mina que eu mais amo na vida, sofrer, nunca vou me perdoar por isso.

Rosto dele se aproximou mais do meu e nossas testas se encostaram uma na outra e eu senti cheiro de maconha misturado com o malbec nele.

Veio um homem entrando e ele se afastou de mim, consertando a postura, mas as mãos na minha cintura ainda.

Cecília : Demonstra nas atitudes, me prova que mudou.

Só falei isso e saí rápido, nem dei tempo, só pedi pro Rian subir comigo e assim ele fez.

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