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Cecília 🇧🇷

Tava conversando com o Rian sobre o quase beijo, quando o Guilherme me ligou, dizendo que precisava de ajuda com a Jade e que ele tinha levado ela pra casa dele.

Fiquei sem entender, mas fui na mesma hora, eu e o Rian só passamos pela rua de trás e chegamos, já que nossas casas eram próximas.

Assim que eu entrei, eu vi a tia Lu entregando um copo de água pra ela, que tava com o rosto vermelho, e o tio Coringa encostado na parede, vendo de longe, mas assim que ele viu a gente, se aproximou.

Cecília : Aconteceu o que hein? -Sentei do lado dela, passando a mão no seu cabelo curto.

Guilherme : Pai dela expulsou ela de casa. -Respondeu enquanto olhava pra tela do celular e eu voltei meu olhar pra ela, que tinha os seus olhos direcionados ao chão, evitando esboçar qualquer reação.

Luiza : Rian, dorme na sala hoje e deixa a Jade ficar no seu quarto. -Falou e ele olhou pra ela.

Rian : Pô Jadezinha, só porque eu te quero muito como minha cunhada em, no papo. -Guilherme deu um tapa na nuca dele. -Se liga cabeça de rola. -Devolveu o tapa e eu neguei com a cabeça.

Cecília : Pode se abrir comigo, eu tô aqui. -Falei só pra ela ouvir, que se mostrou desconfortável e eu deixei quieto, só apoiei a cabeça dela no meu ombro.

Coringa : Cuida bem dela, garota da uma assistência da hora pra Cecília. -Falou baixo pra tia Lu e ela concordou. -Vou ir tomar banho, qualquer lance me fala.

Ele saiu da sala e chamou o Guilherme com a mão, Rian ficou sentado e ela continuou quieta.

Luiza : Jade, vem, vou te mostrar o quarto. -Segurou na mão dela pra ela levantar e fez sinal pra eu esperar.

Jade 🧿

Ela subiu comigo e trancou a porta, o quarto estava bem arrumado e cheiroso, ela só colocou umas cobertas dobradas na cama e deu dois toques, pra eu sentar, e assim eu fiz, e ela sentou também.

Luiza : Quando eu tinha meus dezenove anos, eu fui estrupada. -Falou baixo e eu segui meu olhar pro dela. -É uma dor muito forte, né? No coração, fora do nosso alcance...a gente se culpa, se nega a aceitar que é culpa de outra pessoa, e não nossa.

Eu desabei a chorar, chorar mesmo, ela me abraçou, passando a mão no meu cabelo e encostou na parede, me deixando apoiadas no peito dela.

Jade : Como você sabe? -Perguntei com a voz falha ainda e ela deu um riso, triste de lado, limpando o meu rosto.

Luiza : Sentir no seu olhar, medo, receio. Não foi hoje, né? -Eu neguei, limpando o meu rosto. -Conversa comigo, deixa eu te ajudar.

Jade : É complicado. -Murmurei. -Foi o meu pai, foi ele. -Ela me olhou sem reação nenhuma, só soube me apertar com força, como se quisesse me proteger de qualquer mal que pudesse me atingir.

E era até surpreendente, porque ela tava chorando também, enquanto se concentrava em fazer carinho pelo meu corpo.

Bateram na porta e era o pai dos meninos, pela voz, eu confirmei com a cabeça, e ela levantou pra abrir e eu continuei la, ele fechou a porta, me olhou, e tava com um prato na mão, com um sanduíche.

Coringa : Pô linda, não é dos melhores, mas é de coração. -Ele me entregou o prato e eu agradeci com um sorriso, limpando o rosto. -Qual foi, ta rolando o que? -Olhou pra ela, que secava o rosto.

A Luiza me olhou, como se realmente não quisesse entrar em detalhes sobre nada daquilo, e realmente, não era a minha vontade também, mas ainda sim, tinha um problema imenso naquela situação toda, então eu acenei com a cabeça pra ela, em tom de concordância e ela respirou fundo.

Luiza : Meu bem, é complicado, ela foi abusada pelo pai e...

Coringa : Papo reto? -Me olhou sem acreditar e eu só olhei pra baixo, tentando controlar minha respiração. -Pô, eu posso? -Abriu os braços se aproximando e eu só olhei pra ele, confirmei e ele me abraçou, da forma que deu. -Eu sinto muito, queria que fosse diferente.

Jade : Ta tudo bem. -Me separei dele, que sentou ali e ficou encarando pro prato como se tivesse esperando eu comer.

Coringa : Se quiser explicar melhor, a gente te ajuda. -Eu confirmei, e permaneci sentada em pernas de índio, na cama, enquanto mordia o pão.

Jade : Já tem um tempinho, foi há um ano atrás mais ou menos, no dia eu fiquei péssima, morri por dentro e fui pra casa da minha vó, mas eu não tive coragem de contar pra ninguém, ele foi me buscar, manipulou a cabeça dela e eu voltei pra casa. A gente sempre brigou muito, eu tinha bastante medo dele, ele me expulsava, eu ia pra minha vó, ele me buscava e tudo voltava a ser como sempre, era um ciclo sem fim...mas dessa vez eu quis que fosse diferente, só não queria que ele me encontrasse outra vez.

Coringa : E fez certo, tinha que pedir ajuda mesmo, mas e sua mãe? Nessa situação toda? -Questionou com um pouco de receio e eu passei meu cabelo pra trás da orelha.

Jade : Foi o motivo da briga, hoje. Eu contei pra ela, pela primeira vez e ela não quis acreditar em mim, falou que eu manipulava ela, pra eles se separarem...

Coringa : Que cachorra,zé. Com todo respeito. -Me olhou de lado e eu busquei a presença da Luiza, que chorava um pouco ainda. -Mas é isso, fica suave ai, se precisar de algum lance é só acionar que a gente resolve por você, dorme que amanhã é outro dia, vamo cobrar essa situação.

Jade : Obrigada, vocês estão fazendo por mim uma coisa que nem a minha mãe fez questão de fazer, prometo que amanhã mesmo eu arrumo minha vida e do um jeito de sair daqui.

Luiza : Para, vai ficar aqui o quanto precisar. -Se aproximou e beijou minha cabeça. -De verdade, Jade, você não meteria ter passado por tudo isso sozinha, você é muito forte, tem pessoas aqui que realmente se importam com você.


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