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Cecília 🇧🇷

Quinze segundos.

Quinze segundos, era o suficiente pra eu conseguir me aproximar e dar o último abraço nele, mas eu fui falha, eu não consegui.

Revivi toda aquela cena, na minha cabeça, o meu pai, o meu melhor, o homem da minha vida, estilhaçado no chão.

Ele, que foi o meu maior parceiro. Foi pra ele que eu contei, da primeira vez que me bateram em sala de aula, foi pra ele, que eu contei sobre o meu primeiro beijo e foi no colo dele, que eu chorei por expectativas falhas.

Vê ele, ali naquele caixão, me deixava sem chão, me deixava desesperada. Minha mãe dopada, sem conseguir demonstrar emoções, a tia Lu, destruída, sem um pingo de esperança no rosto.

Passava na minha cabeça todos os nossos momentos, é como se passa-se uma linha do tempo, na minha mente, onde eu via tudo, todas as vezes que eu fui feliz com ele ao meu lado.

O padre fez a oração sobre o corpo e foi dado ao aviso, que iriam lacrar o caixão, eu neguei, gritei, implorei pra aquilo não acontecer e me aproximei, sentindo o rosto gelado dele.

Cecília : Volta, por favor! -Falei baixinho, beijando o rosto dele e os homens do necrotério se aproximarem.

Gritei e senti o Gui e o Rian me tirarem de cima dele, me levando pra parte de fora, eu sentei, passei a mão no rosto, implorando a Deus, uma última vez, e ali acabou o meu transe.

Eu vi o tio Coringa, meu padrinho Xt, o Henrique, o Heitor e outros dois homens, carregando o corpo dele no caixão, abaixei minha cabeça, sentindo toda a dor, daquele momento, todas as nossas lembranças.

"corri pela casa, escondendo dele atrás da cortina e fiquei quietinha, segurando pra não ri e coloquei a mão na minha boca"

Deco : Cadê a neguinha do pai, em? Vou te pegar. -Eu gargalhei, e senti ele me pegar, me jogando pra cima. -Te achei, sapeca. Bora lá, entregar o presente da sua mãe.

Cecília : Cadê a mamãe? -Perguntei e ele riu, cheirando meu pescoço. -Quero a mamãe.

Deco : Mas ela ta trabalhando, filha. Hoje você fica com o papai. -Sorri e ele foi me levando pro meu quarto. -Vamo fazer essas unhas?

Sorri animada, pulando na cama e ele pegou a caixinha na minha estante, sentou na minha frente e pintou tanta as minhas unhas das mãos, quanto as do pé.


Deco : Tem que pintar, pra arrasar na cara das recalcadas. -Deixou a voz fina e eu gargalhei. -Ta amo muito minha filha, muito. -Beijou minha testa e logo em seguida eu ouvi barulho da porta.

Cecília : Mamãe. -Corri pelas escadas e ela me pegou, rodando comigo no colo. -Papai comprou presente pra você, um anel lindo mamãe.

Deco : Fofoqueira. -Veio por trás e deu um beijo nela. -Era surpresa, mas pô. -Tirou do bolso e mostrou o anel de brilhantes, o olho dela brilhou igual.

Madu : Brigada amor. -Deu um selinho nele e eu abracei o pescoço dos dois, trazendo pra perto de mim.

Deco : Minhas vidas. -Beijou minha bochecha e a dela e eu sorri.

(…)

Rian : Cecília, Cecília. -Mexeu em mim. -Acorda. -Despertei e levantei rápido, me vendo sentada no sofá da casa dele. -Deu a hora do velório, quer ir mesmo?

Cecília : Vou...preciso ir. -Passei a mão no rosto, me levantando. -Eu vou no banheiro, coisa rápida.

Lavei meu rosto, respirando fundo e me olhei no espelho, vendo o inchaço de tanto chorar.

Eu sai e o Rian tava me esperando, de cabeça baixa, mas me olhou e me chamou com a mão, me aproximei e ele me abraçou de lado.

Rian : É minha parceira, é complicado, mas a gente vai dando jeito. -Ele foi me empurrando de leve e abriu a porta do carro pra mim.

Henrique tava dirigindo, mas eu nem consegui dar ideia, só apoiei minha cabeça no vidro e ele foi levando o carro pra fora do morro.

Eu desci e vi vários carros e motos estacionados, vários mesmo. Os meninos entraram comigo e eu percebi um monte de gente ficar me encarando de lado, olhei pra baixo e fui caminhando pro caixão, com o Rian e o Henrique comigo.

Vê ele ali me quebrou, por inteira. Coloquei minha mão sob a dele, e me deu um aperto muito grande no coração, vi a mulher ali do lado e pelo desespero e o olhar parecia ser a mãe dele, queria encontrar um jeito de conseguir abraçar ela.

Max foi capaz de fazer por mim o que eu nunca consegui imaginar que alguém faria.

Foi literalmente, o meu colete a prova de balas.

Eu suspirei, me abaixei perto da mãe dele e segurei as mãos dela, que me olhou, com o olhar fundo, vermelho, olhei pra baixo e neguei com a cabeça.

Cecília : Ele disse que te amava. -Minha voz saiu falha e ela desabou a chorar. -Pediu pra eu te falar, que te ama, muito. -Ela comprimiu os lábios e concordou com a cabeça.

Eu levantei, me afastei e fui indo pros fundos, acompanhando de longe, e escutando o padre falar.

O pai dele chegou depois de um tempinho, me viu e me olhou em um ódio absurdo, mas não falou nada, só foi pra perto do filho.

Eu abaixei a cabeça e fui ouvindo tudo, rezando pela vida dele, pra ele permanecer em um lugar bom, melhor que esse.

Mas de qualquer forma, minha mente ia no meu pai, pensava nele, naquela cama de hospital, sem realizar nenhum movimento. Respirando por aparelhos, depois da cirurgia.

Era um peso enorme em mim, minha mãe não saia do hospital com ele e tava uma confusão absurda no morro, mas da mesma forma, eu tava lutando, torcendo pra vê o meu pai bem!

(…)

(…)

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