Reformada

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Um mês depois...

— Nee-san! Finalmente chegou! — Inari corre até mim ao me ver entrando no hospital. 

     Estava trajando um jaleco branco por cima de uma camisa azul básica e possui um estetoscópico no pescoço. É engraçado vê-lo assim, tendo em conta que ainda é uma criança de dez anos.

     Inari tem seus um e cinquenta de altura. Engraçado, um pirralho é apenas dez centímetros mais baixo que eu. 

— Kaito-san está esperando a cirurgia na Sala 6. Deve começar daqui... — Diz olhando sua prancheta. — Meia hora. Seu jaleco e anotações estão na minha sala. Adoraria ver você em trabalho, mas tenho que atender três pacientes daqui a pouco. Quando for embora, me procura. Hoje o plantão fica com o Ryota, graças a Kami-sama. 

     Fez um sinal com a mão para que abaixasse. 

— Por que você— 

— Tchau, Nee-san. Te amo. — Interrompeu-me com um rápido beijo na bochecha e caminhou rapidamente para um corredor. 

     O vejo sumir, me questionando quando que ele ficou tão responsável assim. Penso se é bom para si ter tanto trabalho sendo tão novo. Por mais que eu saiba que Inari goste de fazer o que faz, não tenho tanta certeza se ele ficará bem quando estiver mais velho. Muito trabalho resulta em um cansaço extremo, tanto físico quanto psicológico.

     Suspiro abandonando esses pensamentos e me dirijo à sala do mais novo. 

— Ah, Cherry-sama! — Tatsuo vem até mim sorridente. Estava prestes a abrir a porta, mas dou atenção ao homem. — Quando tiver um tempinho, podemos bater um papo? 

— Claro. Tenho duas cirurgias agora, acho que após isso estou livre. 

— Ótimo! Vou te esperar na minha sala. — Fez uma pequena reverência e saiu. 

     Assim que o hospital foi inaugurado, nomeei Tatsuo como diretor do mesmo. Ele já está nesse ramo antes mesmo de eu chegar nessa vila, tem experiência e é uma pessoa honesta.

     Suspirei e entrei na sala de Inari. O cômodo é relativamente grande, papéis estavam organizados na mesa à frente de uma janela, junto a um retrato de sua mãe. Ao lado direita há uma estante com diversos livros, sendo todos de medicina. Na esquerda, uma maca, duas balanças—uma adulta e outra infantil—, uma prateleira repleta de remédios. 

     Tudo estava devidamente organizado. Peguei meu jaleco atrás da porta, juntamente com minha prancheta. 

     Olhei de relance um doce no casaco de Inari. Tenho certeza que ele não se importaria se eu devesse uma mordida. Então, retirei a embalagem e me deliciei daquele apetitoso alfajor. 

     O sabor magnífico do mel fez com que minha língua tivesse um orgasmo. A sutil essência de baunilha refrescou o céu da minha boca. O atraente doce de leite provou que aquele era o aperitivo perfeito para comer antes de uma cirurgia complexa. 

     Pela embalagem, vejo que quem fez foi Tsunami. Sem dúvidas, uma deusa da culinária. Claro que já comi muitos de seus doces, porém, esse em específico, estava perfeito.

     Sim, eu comi o alfajor completo. Aposto que esse não é o último, então, Inari com certeza não irá brigar comigo por comer um de seus doces. 

     Amarro meu cabelo em um coque e vou para a sala de cirurgia. 

     A primeira cirurgia séria que fiz em toda minha vida, foi na primeira semana em que inaugurei meu hospital.

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