A noite

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Dorotéia montou uma cama no chão para Violeta, mais não pretendia que a namorada dormisse alí! Era apenas para despistar a mãe. - Ei, onde pensa que a senhorita vai? - perguntava ela para a menor que estava se deitando na cama improvisada.

- Não é aqui que eu devo dormir? - falou rindo já sabendo a resposta.

- Você acha que eu perderia essa oportunidade de  dormir com você? É  a primeira vez...vem! - falava dando batidinhas no colchão, indicando o local para a amada.

Violeta riu e foi ao encontro dela. Deitaram abraçadas, a menor com a cabeça em seu peito, recebendo afagos nos longos cabelos.

Adormeceram ali, até durante a madrugada onde Violeta acordou e ficou admirando a mais velha dormir. Ficou um tempo fitando o semblante calmo da amada adormecida. Passeava pelos desenhos de seu rosto fazendo carinho, mexia em seus cabelo...até colar seus lábios no dela, que acordou na hora com um largo sorriso.

A luz da lua deixava o quarto com uma atmosfera mística, a lua brilhava cheia e imponente no céu, como um convite para o amor.

- Olha amor, que linda a lua! Parece que está olhando pra gente agora.  O que será que ela quer dizer? - Perguntava Dory com a amada em seus braços.

- Ela está dizendo que nosso amor é para sempre! - Beijando a namorada com beijos quentes, carregados de desejo. E ali, naquela noite, elas deixaram seus corpos a guiarem por uma linda noite de descobertas e sensações. Elas se amavam e agora faziam parte uma da outra, uma era da outra de uma forma que ninguém jamais poderia separa-las.

Na manha seguinte, Dona Emília entra no quarto onde as meninas dormiam, preocupada com o adiantado da hora e se depara com a imagem que nunca pudera imaginar. As duas estavam dormindo juntas, abraçadas, com seus corpos nus! - O QUE SIGINIFICA ISSO? EU SABIA! NÃO PODIA SER NORMAL ESSA AMIZADE TODA! IMUNDAS!! - a mãe da mais velha gritava, tirando a filha da cama puxando pelos cabelos - VOCÊ VAI HOJE MESMO PARA O CONVENTO! NÃO ADMITO FILHA MINHA COM ESSA....ESSA....VIDA! O QUE EU FIZ PARA MERECER ISSO DEUS?

As meninas choravam, foram pegas no flagra, todos seus planos tinham acabado de morrer! - E VOCÊ MENINA, TRATE DE SAIR DA MINHA CASA IMEDIATAMENTE E NUNCA MAIS VOLTE SIQUER A PISAR NA MINHA CALÇADA! NÃO QUERO NUNCA MAIS OUVIR FALAR O NOME DA SUA FAMÍLIA!

Violeta voltou para casa, devastada! Mais não contou nada para a mãe, que vendo ela chegar naquele estado, ficou preocupada. - Se ela for mesmo para um convento? Nunca mais a verei? - ela pensava triste, chorando em sua janela que dava para ver a casa dela.

Algumas horas se passaram e ela viu movimento na casa de Dorotéia. Mãe e filha saiam apressadas, com um grande baú onde certamente estariam as roupas de sua amada. Dona Emília cumpriria a promessa feita, levaria seu amor para o convento. Isso era demais para o pobre coração delas. A menina pode ver, quando se esquivando da mãe, a mais velha olhou para trás, procurando por sua janela, a avistando. Soltou um sorriso e um dolorido EU TE AMO! Aquela fora a última vez que seus olhos se encontraram.

A mais nova tentou de todas as formas descobrir qual o convento que a amada havia sido trancada, precisava ao menos escrever-lhe. Usaria um pseudónimo se fosse necessário.

Depois de muitos dias, Dona Jussara conseguira o tão esperado endereço. Sem saber o real motivo da briga entre as famílias, ela entrega o endereço a menina, radiante com a conquista.

Essa por sua vez, resolve o que fazer. Não poderia viver sem a amada, principalmente depois de todos os momentos. A mais nova pegou um pedaço de papel e começou a escrever para a amada..

Essa não é uma carta de amor, e tentarei não ser clichê e nem tão dramática, por mais que isso faça parte de mim, e acredito que essa não seja uma carta tão comum, e na verdade nem de despedida, te escrevo uma carta de até logo. Por que me despedir de você me dói tanto, dói porque nossas almas estão ligadas.

Hoje, eu só queria poder me perder nos teus braços e viajar em um mundo só meu e seu, que só existe quando estou com você, até seu beijo me trazer de volta e eu me reencontrar no seu olhar.

Acredito que talvez tenhamos vivido mil vidas antes desta e em cada vida que passamos aqui na terra nos encontramos novamente, mas por um motivo que desconheço nunca terminamos juntas.

Uma ironia do destino tão cruel, trama o nosso reencontro, mas não nos dá a graça de nos unirmos carnalmente.

Vivemos sempre um déjà vu, eternas lembranças que se repetem em tantas vidas, um ciclo maldito que parece nunca ter fim.

Buscando sempre por você, assim renasço a cada novo ciclo do destino, mas nunca consegui concretizar o final dessa história de amor impossível e irreal.

O meu grito de basta é ecoado pelo universo durante séculos, mas o destino insiste em repetir a história que não tem fim, se vangloria de minha tristeza e solidão, e isto me faz pensar quem será o autor deste destino, quem manipula os acontecimentos que ainda estão por vir.

Eu só quero por um minuto ser dona de meu destino, então o universo presenciará a união definitiva de nossas almas. O destino mudará a história e a nossa saga em buscar uma pela outra terminará.

Te espero meu amor, o tempo que for, no tempo que for. Sempre te amarei!

-Olavo-

Violeta abriu então seu caderno de desenhos e retirou de dentro dele uma margarida já seca, uma das tantas flores que havia colocado nos cabelos da amada durante aquela tarde feliz. Tarde essa que deixou eternizada num quadro que pintara. Dobrou a carta, com a delicada flor dentro, selou o envelope e assinou com um pseudônimos que somente Dorotéia entenderia '' Olavo''. Com lágrimas nos olhos, ela beija a carta e pega uma nova folha de papel. Escrevendo agora uma carta endereçada a sua mãe:

Eu nem sei como começar isso, mas quero pedir perdão, perdão por ter feito isso, perdão por não ter sido forte o suficiente perdão pelo que vai acontecer, eu já tomei minha decisão, sei que não é algo fácil de aceitar muito menos de entender, mas infelizmente eu não aguento mais, viver sem a Dorotéia ao meu lado....

Eu estou perdida, isso é um fato, qualquer pessoa que tenha um olhar mais aguçado pode notar isso, eu simplesmente não sei o que estou fazendo aqui, esse não é mais o meu lugar, eu não sei viver assim, passo meus dias existindo, existindo de uma forma errada, eu quero viver, sempre tive vontade de sentir o sabor da vida, vontade de agarrar o mundo com as pernas, mas isso me foge tão rapidamente quanto surge.

Eu sempre fui muito sozinha, nunca fui uma daquelas pessoas cheias de amigos. Hoje eu sei o porque, estava a espera dela!

Por isso minha mãe, não fique triste, saiba que eu estarei bem, a espera do meu amor, novamente em um outro tempo.

Por favor, faça com que chegue em suas mãos meu caderno de desenhos, é muito importante para mim.

Desculpe mais uma vez mamãe, a minha intenção não era de te deixar triste, só de acabar com essa dor dentro de mim.

Eu te amo!

Sua querida filha, Violeta.

A moça pega um novo envelope, colocando a carta dentro, escrito no verso ''Mamãe'', sai do quarto com as duas cartas na mão. Para nos aposentos da mãe, e repousa sobre a cama o envelope, com o dizer para cima, em seguida vai em direção a cozinha, encontrando Dona Jussara.

- Você poderia pedir que entregassem essa correspondência o mais breve possível por favor? - entregando a carta para a empregada.

- Logico menina! No fim do dia sua carta já estará no seu destino. - a menina já saíra da cozinha, deixando a empregada sem entender o nome do remetente Olavo, mas achou que era mais uma brincadeira das amigas.

Outra vida, mesmo amorOnde histórias criam vida. Descubra agora