Filme, pizza e vinho

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Estou apaixonada:
Por aquilo que és...
Por aquilo que queres ser...
Porque é alegria...
Porque és forte...
Porque um dia me mostrastes pelo teu sorriso,
pelo teu cheiro, que me persegue o dia inteiro...
Porque quando chegas tudo começa...
Porque quando vais, nada mais me interessa...
Te Amo!

Carmem declamava o pequeno poema de Sheyla Miglioli quebrando aquele silêncio que se instaurava no quarto delas, com a esposa deitada em seus braços, ambas com as feições tristes e cansadas de tanto que choraram. Pelo menos agora choraram juntas, não haviam mais segredos entre elas.

- Carmem...- a morena se ajeitava na cama pra conseguir olhar a esposa nos olhos - Vou falar só isso e depois prometo não mais tocar nesse assunto. - deu uma pausa para a esposa concordar - Se alguma coisa acontecer comigo, me prometa por favor que vai cuidar das minhas filhas, da Tuninha e lógico, da Paulinha!

- Você não precisa me pedir isso, elas são minha família. Nossas filhas e nossa neta e bem, a Tuninha é mais minha mãe qua a própria.....- agora seu rosto triste também era devido às lembranças de um passado não muito longínquo.

- Eu te amo muito, não esqueça nunca disso!

- Eu eu amo você!

Permaneceram mais um tempo ali, não tinham forças para encarar ninguém. Precisavam desse tempo pra elas, a noite já se fazia presente, deixando o quarto num escuro confortável.

Toc toc toc

- Mães? Ta tudo bem ai? Estão a horas trancadas, nem foram almoçar...- Ingrid estava do outro lado da porta preocupada com elas.

- Ta tudo bem meu amor, nós já vamos sair! - era Carmem quem respondia. - Vem amor, vamos dar um jeito nessa carinha linda, esconder que choramos o dia todo e tentar aproveitar o máximo essas duas semanas.

- Como se fossem as últimas? - as lágrimas voltaram a se formar nos olhos castanhos da menor.

- Você não vai morrer amor! Não vai! Eu quero aproveitar todos os nossos dias ao máximo porque é o tanto de amor que eu sinto por você, só isso! - beijou com ternura a testa da esposa a abraçando forte logo em seguida. A vontade de chorar era grande, mais decidiu se manter firme para ajudar a mulher amada, ela precisava ser a fortaleza, depois poderia cair, mais só depois.

Chegando à sala, com sorrisos forçados foram recebidas pelas duas meninas, que foram correndo para abraça-las - Já estava quase ligando pro Gui vir arrombar essa porta! - Flávia falava agarrada nas duas ao mesmo tempo.

- Ta tudo bem, eu e a Carmem só precisávamos de um tempo sozinhas para resolver umas coisas de casal.

- Vocês não brigaram né? Essas carinhas ai...- Tuninha agora chegava e encarava as duas.

- Na verdade não foi bem uma briga....mais agora está tudo bem. - respondeu a platinada pegando na mão da esposa e beijando seu dorso.

- Você contou tudo pra ela mãe?  - Flávia sussurrava no ouvido da mãe que concordou com a cabeça. - Entendi então essas caras...mais ta tudo bem?

- Vai ficar minha filha. Ela ficou com raiva no início mais já passou, agora só sobrou o medo mesmo. - respirou fundo - Odeio ver a minha cascacu assim filha, odeio!

- As duas ai não vão se sentar não? Eu tô com fome! - Ingrid falava já sentada em seu lugar da mesa.

- Vamos sim, mais cadê minha neta? Antes eu vou dar um beijo nela!

- Ficou em casa com o Gui mãe, eu vim correndo quando a Ingrid ligou preocupada.

- Eu só te perdoou  porque a mamãe ama vocês, mas me prometa que nunca mais você vem aqui sem a minha neta!

- Eu assino embaixo! - Carmem concordava com a esposa.

Flávia riu - Ta bom vovós, isso não voltará a acontecer! Agora vamos comer logo por favor para essa minha irmã aqui parar de me olhar de cara feia?! - apertando as bochechas da caçula.

Por um momento o casal esqueceu do motivo que as deixou trancada naquele quarto o dia todo, suas meninas falavam animadas das próximas músicas que incluiriam no show, dos planos para um clipe, dos bares novos que ficaram de conhecer e talvez começar a cantar por lá. Elas nunca agradeceram tanto por terem duas tagarelas na família.

Desde que descobrira do prazo, Carmem fez questão de fazer ainda mais as vontades da esposa, além de falar o tempo todo o quanto a amava.

- Marquei amor! - falava a mais velha do seu lado da sala que dividiam na T/W.

- Marcou oque coisa linda? - Paula perguntava sem levantar os olhos do computador, estava terminando um e-mail para Alemanha.

- Nossa consulta com a ginecologista! Precisamos ver tudo da inseminação coração, ou desistiu?

Agora sim a esposa tinha sua total atenção- Eu nunca vou desistir de ter uma filha com você meu amor. Mais não acha melhor esperar esses dias passarem? - já falavam com naturalidade sobre os próximos 13 dias. Pensavam que tratando o assunto assim, ele não teria mais o poder de assusta-las e por incrível que pareça, estava surtindo esse efeito.

- Marquei para daqui a 15 dias. A agenda estava cheia, mais prometi uns produtos para a secretária dela, logo arrumou um encaixe. - tinha um sorriso vitorioso no rosto, sabia que isso não era o certo a fazer, mais era encaixe, não havia pegado o lugar de ninguém! Ela repetia isso para sí o tempo todo.

- 15 dias....- pegava o calendário a sua frente, contando os dias e fazendo um círculo na data com o seguinte lembre: início do nosso sonho.

O restante do dia passou tranquilo, não haviam reuniões, nada muito importante para decidir, as vendas só aumentavam, a filial da Alemanha estava crescendo bem...naquele quesito também, a vida delas estava maravilhosa!

- Coisa linda! Ei! Cascacu!

Carmem estava entretida com um documento que nem reparou na esposa a seu lado já com a bolsa nas mãos, pronta para ir embora. Sem conseguir tirar a mulher do transe que se encontrava, ela delicadamente retirou o papel de sua mão e se pôs sentada em seu colo, fazendo carinho em seu pescoço e colocando a mão da mais velha em suas coxas - Agora a senhora pode prestar atenção em mim?

- Desculpa coração...é que está em Francês, como estou enferrujada, preciso me concentrar bem para entender. Mais me diga, oque minha digníssima esposa quer dessa loira aqui? - beijava seu pescoço fazendo um alto estalo com o atrito de seus lábios com a sensível e cheirosa pele.

- Vamos pra casa? Quero assistir filmes com você, nossa filha e Tuninha. Topa?

- Vai ter pizza e vinho?

- Tudo oque minha cascacu quiser!

- Então vamos agora!

Antes de se levantarem, elas se beijaram. Um beijo quente, urgente, necessário, terminando com ele mais tranquilo, saciado, gostoso. Elas sorriram entre um beijo e outro se levantando sem se desgrudarem um segundo. No elevador era um chamego só, a mais alta imprensava a mais baixa contra a prede de metal, invadindo sua boca com a língua, os beijos se intensificavam, até a porta se abrir e elas terem que se recompor.

Estavam de carro e Paula que dirigia, uma mão no volante e a outra na perna da esposa, a acariciando. A loira por sua vez, tinha os dedos entrelaçados nos fios dourados da esposa. Assim foram até em casa, trocando olhares apaixonados, juras de amor e carinhos sem fim.

Ingrid ficou responsável por escolher os filmes e Tuninha faria as pizzas, seria quase um rodízio. Ela estava animada e fizera mais de 4 sabores diferentes.

As quatro foram para a sala de tv, e ficaram por ali horas, assistindo um filme atrás do outro. Elas riam, choravam, as vezes até brigavam por discordar de alguma opinião sobre um tema abordado no filme.

Depois do 3° filme, Carmem estava adormecida no colo de Paula, que afagava seus cabelos com carinho e não se mexia com receio de acorda-la. Sua esposa ficava ainda mais linda assim, tranquila, adormecida em seus braços. No final do filme, ela chamou delicadamente a mais velha para irem ao quarto, ela foi cambaleando de sono, escovaram os dentes e se deitaram, agarradas na costumeira conchinha de amor. Mais um dia chegava ao fim e menos um dia para a conta da morte.

Outra vida, mesmo amorOnde histórias criam vida. Descubra agora