Domingo

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O domingo amanheceu tranquilo, Carmem acordou e ficou olhando o buquê da Flávia que caíra em seu colo na noite anterior e agora estava num jarro em frente a cama delas. Como o destino era imprevisível mesmo. A uns meses atrás decidiu investir numa empresa praticamente falida, conheceu a mulher mais linda do mundo, se apaixonou, foi correspondida e agora estavam noivas! E de quebra ganhou mais duas filhas e uma neta a caminho. A loira não poderia estar mais feliz. Se aconchegou mais ainda nos braços da morena e voltou a dormir, com um sorriso no rosto.

Não demorou muito e logo pegou no sono novamente. Mais ao contrário do que estava sentindo, seu sonho foi inquieto, triste. Ela se via num convento, vestida de hábito e rezando na capela por um amor que a tanto perdera. A loira conseguiu ouvir algumas poucas palavras: senhor Deus, criador do universo, me leve logo por favor, não aguento mais viver sem minha Violeta. Aquelas poucas palavras fizeram o coração da mais velha bater acelerado, um medo tomou conta de seu corpo, que se debatia acordando a morena. - Amor, acorda! Você está tendo um pesadelo...coisa linda....

- Violeta...Paula....eu não vou aguentar perder você de novo! - a loira falava dormindo.

- Calma amor, eu tô aqui! - ela abraçava a mais alta.

Depois de um tempo Carmem acordou, olhou assustada para a noiva, não sabia exatamente onde estava. Ela chorou, se deixou chorar. Tinha um aperto no peito, não sabia o porque, só que precisava chorar. Lembra do nome Violeta, mais uma vez esse nome, era Paula, com certeza ela era sua amada de tantas outras vidas. - Eu sonhei com você de novo, nunca mais me deixe. Por favor! - ela chorava e abraçava a menor.

- Eu não vou te deixar nunca meu amor. - Paula tinha medo do prazo da morte, pensava em contar a verdade mais sabia que a loira não aguentaria. - Temos pelo menos 10 anos pela frente, preciso esfregar essa aliança linda ainda na cara de muita gente! - ela falava olhando para o dedo tentando tirar algum sorriso da amada. Que aos poucos ia se acalmando.

- Desculpa...foi um sonho muito real. Daqueles tipo lembrança. Doeu tanto ficar sem você, tanto! - tinha seus olhos vermelhos mergulhados nos olhos castanhos a sua frente. Com suas mãos no resto dela, a puxando pra um beijo com gosto de saudade.

Elas ficaram ainda um tempo ali, deitadas, conversando sobre o sonho, não só esse como tantos outros. O celular da morena despertou, era hora de levar a filha mais velha no aeroporto, eles passariam a lua de mel em Paris.

Foram as quarto para o aeroporto, Paula, Carmem, Ingrid e Tuninha.

- Façam uma ótima viagem! Não esquece os lugares que eu indiquei, só falar meu nome que eles resolvem tudo! - falava Carmem olhando para Guilherme.

- Pode deixar Carmem, está tudo anotado direitinho! Vamos aproveitar tudo que temos direito!

Mãe e filhas estavam abraçadas, Juca estava do lado querendo abraçar também, mais ficou sem jeito. Conhecia bem Paula, se ela não quisesse ele no abraço, certeza que o lugar ficaria pequeno para ela.

- Faça boa viagem filha! Me liga todos os dias! E se enjoar no avião, já deixei um remédio na sua bolsa ontem. Vou mandar hoje mesmo o restante das suas coisas pra sua nova casa. Ai...minha filha mal voltou pra mim e já está indo embora - a morena falava sem freio emocionada - Pegou o casaco que compramos? Meu Deus, não vai me passar frio! Cuida bem dessa barriga....

- Mãe, ta bom! Paula Terrare, chega! - Flávia ria - Cascacu, cuida bem dela pra mim esses dias heim?! - Abraçou a mais alta. Se despediu da irmã, da avó e foi falar com o pai - Ei pai, não chora porque eu tô feliz viu?! Daqui uns dias eu volto! Amo vocês! - ela e Gui deram as mãos e foram em direção ao portão de embarque.

As quatro resolveram almoçar na praia, num quiosque chamado Cavalo Marinho. Se sentaram, todos os olhares estavam voltados para o casal. Nem de longe elas estavam vestidas para aquele lugar. Carmem toda de couro e Paula, no salto agulha, toda monocromática. Mais quem ligava para os olhares, na verdade elas até gostavam.

O almoço corria animado, as quatro riam, brincavam, o clima era de família feliz. As duas estavam sempre em contato físico, ora pegando na mão, carinho na perna, mexendo nos cabelos, elas tinham essa necessidade de estar sempre se tocando.

Ingrid e a avó foram para casa, o casal preferiu ficar mais um tempo pela praia. Desde que começaram a namorar, a praia teve um significado diferente para ambas. Isso era no mínimo curioso, já que nenhuma das duas gostava antes. Tiraram os sapatos e andaram de mãos dadas na beira do mar, sentindo a areia fofa por debaixo de seus pés e a água gelada que vez ou outra batia em seus tornozelos.

- Então coisa linda, precisamos marcar a data.

- Já? Amor, por mais que eu te ame e eu amo, não precisamos correr com casamento, tamos a vida toda.

Nesse momento veio de novo a lembrança DELA e do prazo. - Esqueceu da minha linda declaração? "Não quero esperar mais um dia sem te chamar de minha esposa". - se colocando agora de frente para a mais alta.

- Isso é mesmo importante pra você?

- É! É tudo que mais quero na vida! - seus olhos já marejados pela incerteza do futuro. Ela só sabia que queria passar o máximo de tempo com ela, cada segundo que tivesse.

- Ta bom então, depois que a Flávia voltar, marcamos uma data! - elas se abraçaram ali, tendo o oceano como testemunha de seu amor.

Voltaram para casa depois disso - Pode ir tomar banho primeiro mein schatz, vou aproveitar e fazer umas pesquisas aqui da documentação que precisamos pra dar entrada no casamento.

A morena a olhou com ternura, depositou um selinho em seus lábios - Obrigada por me fazer feliz. Te amo! - e foi tomar seu banho. Demorou um bom tempo por lá, a loira até adormeceu com o celular na mão e os óculos no rosto. A mais baixa se sentou na beira da cama, se curvou e chamou a amada - Amor, acabei. Vai tomar banho. Amor! - dava beijinhos pela face da maior que já estava acordada, mas aproveitava um pouco mais os carinhos da menor.

Ingrid saiu com o namorado, Tuninha também. Tiinham a casa só pra elas. Enquanto Carmem tomava seu banho, Paula pediu uma pizza, que não tardou a chegar. Colocou na mesa de centro da sala, junto de uma garrafa de vinho e duas taças. Assim que a loira saiu do banho, foi ao encontro da amada na sala. Elas se sentaram de pijama no chão, tomando aquele vinho maravilhoso, dividindo a pizza entre risos, beijos, pequenas discussões...namorando felizes como sempre.

Quando Tuninha chegou, encontrou as duas dormindo abraçadas no chão. Ficou com pena de acorda-las, buscou uma manta e jogou por cima delas e foi dormir. Ali elas ficaram a noite toda, como uma só.

Outra vida, mesmo amorOnde histórias criam vida. Descubra agora