Capitulo: 04

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Ruby

Era a enésima vez que Ruby ligava para sua mãe, faltava apenas uma semana pra sair e não tinha para onde ir.
Elizabeth sabia que era a filha e não atendia o telefone, foi morar nos Estados Unidos dois anos depois que Ruby foi com a avó, tinham uma relação complicada, tentou fazer com que a filha andasse na linha mas sem sucesso. Sua mãe Leonora sempre passara a mão na cabeça da neta, as brigas eram constantes e quando Ruby se assumiu lésbica piorou tudo. Elizabeth não aceitava de jeito nenhum, achava um desperdício ter uma filha tão bonita e desvirtuada. A avó de Ruby por outro lado sempre aceitou a neta, morreu achando que era só uma fase.
Com o som do telefone que não parava resolveu atender. Após a breve mensagem gravada que perguntava se ela aceitava a ligação da penitenciária, Elizabeth revira os olhos ao ouvir a voz da filha.

– Oi e aí?
– O que você quer Ruby? Sabe que não tenho dinheiro pra te mandar.
– Não é isso, eu vou sair daqui uns dias. Preciso de um lugar pra ficar.
– Hum e acha que aqui é hotel?
– Mãe, por favor, eu vou estar em condicional.
– Se tivesse aprendido na adolescência, não estaria nessa situação agora. Não quero você na minha casa.
– Porra!
– E não ligue mais.

Elizabeth desliga e enxuga uma das lágrimas, sua filha foi fruto de uma noitada. O pai de Ruby nunca quis conhecê-la e tampouco ajudou com algo, a menina foi criada pela mãe e a avó com muitas dificuldades. Passaram fome algumas vezes e viviam da caridade alheia. Elizabeth tentava em vão esquecer os anos terríveis que teve, não era só a fome que as acometia mas também o fato de não terem um lugar decente pra morar, viviam em lugares pequenos e insalubres e muitas vezes por não ter dinheiro para arcar com o aluguel ficavam alguns dias na rua ou em abrigos até serem acolhidas por alguma igreja.
Ruby bufa ao ouvir o som do telefone desligado. A policial Taylor lhe chama:

– Olsen venha quero lhe dar algo.

A contragosto Ruby a acompanha, entra em um quartinho que geralmente eram guardados produtos e objetos para limpeza da prisão, mas que algumas detentas usavam para outros fins.

– Que pena que não estará mais aqui, vou sentir sua falta Australiana.

Taylor passa uma das mãos no cabelo de Ruby, que segura quando a policial tenta algo mais íntimo.

– Não disse que tinha algo pra me dar?
– Sim.
– Então anda, não tenho o dia todo.
– Você anda muito malcriada. Acho que está precisando de uns dias na solitária.
– Não fode Taylor, no meu cubículo deixo você dar as ordens, mas sabe bem quem manda.

Taylor assente, Ruby apesar de não entrar em confusão, era protegida por uma das gangues da prisão. Não usava muito seu poder em cima dela, para não lidar com retaliações depois.
A policial coloca um envelope pequeno no bolso de trás da calça da jovem.

– Tem $150 dólares aí, dá pra você se virar por pelo menos uma semana até achar um lugar pra ficar.

Ruby pega o envelope e conta as notas, arqueia uma sobrancelha e pragueja.

– Sério!? Eu preciso de mais.
– Eu não tenho, acha que eu ganho rios de dinheiro?
– Não, mas eu vou fazer o que só com essa mixaria?
– Você é uma mal agradecida, não tem onde cair morta. Te ofereci minha casa e você negou.

Ruby se encosta em um dos carrinhos de limpeza e olha para a policial e não se abala nem um pouco com o comentário dela.

– Quer ser demitida e presa Taylor? Estou te fazendo um favor. E outra coisa eu não vou ficar em Los Angeles, vou para Nova Iorque.
– Pode ficar por aqui, eu posso te ajudar.
– Não! Se você já acabou eu preciso ir.

Taylor segura a mão de Ruby e lhe pede um beijo que lhe nega e sai logo em seguida.
A policial se entristece, não tentaria atrapalhar a condicional dela, por mais que a quisesse por perto, sabia que a garota poderia ter um futuro longe das pessoas que a cercavam.

****

Louise ajuda Ruby a arrumar a caixa de sapatos com alguns de seus pertences, como não tinha muita coisa levaria tudo sem deixar nada para as colegas. Era comum na prisão que as detentas deixassem seus pertences de uso comum para as colegas, como produtos de higiene ou até comida, as detentas chamavam de herança ou legado.

– Vou sentir sua falta Australiana.
– Vai nada, finalmente vai ficar outra vez  sozinha.
– Hahaha verdade, mas por pouco tempo, até chegar outra.
– Pelo menos agora você não tem mais medo de sapatão.

Louise cai na gargalhada, Ruby sempre lhe respeitou, mas sabia também que não fazia o tipo dela.
A garota gostava de mulheres mais femininas e vaidosas, exceto pela policial Taylor todas que ela deu um malho se arrumavam como podiam dentro da prisão. Louise nunca vira Ruby maquiada, mas desconfiava que a amiga pararia o quarteirão ainda mais se tivesse condições de se cuidar. Não era muito vaidosa exceto pelo banho, tomava vários por dia, Louise achava que ela tinha TOC, sua cama e roupas sempre estavam impecáveis.

– Aquele senhor vai vir hoje também?
– Vai.
– Fala pra ele que você não tem para onde ir.
– Não, eu vou ficar em um abrigo, e depois alugo um quarto sei lá.
– Rubs, você não trabalha, como vai se sustentar?
– O velhote disse que vai conseguir algo pra mim.
– Tomara que não seja como garota de programa hahahaha.
– Você é muito engraçadinha.

Louise percebe que a amiga ficou aborrecida mas sem saber o porquê. Antes de começar a falsificar documentos, Ruby precisou de dinheiro para ajudar no tratamento de saúde da avó, fez alguns programas em troca de dinheiro. Em um desses programas foi violentada por um médico e engravidou, interrompeu a gravidez semanas depois. Ficou com diversos traumas e dificilmente confiava em homens.

– Desculpe, eu não quis te aborrecer.
– De boa.

Um dos policiais que ficava na cabine monitorando as detentas manda Ruby ir até a sala de visitas através de um dos auto falantes.
A garota para o que estava fazendo e vai ao encontro da visita, no caminho pensa em como resolver sua vida fora da prisão.

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