Capítulo: 42

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Ruby
Alguns dias depois...

Em uma sala Ruby aguarda sua vez para ser chamada e realizar o procedimento abortivo, por conta de alguns trâmites legais sua gravidez seguiu e há dois meses carregava em seu ventre o fruto da violência, as únicas duas calças que tinha já estavam justas na cintura e ela fazia muito esforço para usá-las. Odiava se olhar no espelho.
Mitchel pagou pelo procedimento sem pedir nada em troca e a aguardava em outra sala.
Ruby se levanta impaciente, no dia que foi pedir ajuda a Mitchel e desmaiou, ao fazerem exames confirmaram a gravidez de quatro semanas, um mês se passou e ela ainda continuava com aquilo no ventre, mesmo tendo tomado remédios para evitar a gravidez ainda no hospital, não foi o suficiente para evitar tal transtorno, Mitchel desconfiou que o fato dela fazer uso de drogas pode ter cortado o efeito dos contraceptivos.
Ruby ficou na casa de Mitchel por uma semana, dias depois conseguiu alugar um quarto com banheiro e pagava lavando pratos em uma lanchonete, não tinha nada nem eletricidade, vivia a base de luz de velas e tomava banho frio, dormia no chão em um colchão que achou nas ruas e levou para o quartinho, comia na lanchonete e assim vivia sua vida.
Não voltou a fazer programas nem mesmo com mulheres, tinha nojo do próprio corpo e traumas terríveis.
Andou de um lado pro outro impaciente e resolveu ir ao banheiro, não sentia mais dores para fazer as necessidades fisiológicas, enquanto fazia xixi ouviu seu nome na sala e se apressou.

– Eu já vou!
– Srta. Olsen vista a camisola verde eu vou deixar aqui no sofá.
– Ok.

Ruby levanta, dá descarga e lava as mãos três vezes, ao sair tira a roupa a dobra e coloca no sofá, ao se olhar no espelho percebe os sinais da gravidez indesejada, seus seios estavam um pouco maiores, sua cintura perdera um pouco da forma esguia que tinha e as tatuagens que tinha nas laterais da cintura estavam levemente deformadas, a barriga começava a se formar e o aspecto chapado de outrora dava espaço para uma barriga um pouco arredondada no centro. Aborrecida, dá vários socos na própria barriga e grita. Nunca tivera o desejo de ter um filho ainda mais da forma que foi gerado.
Colocando a camisola e a touca na cabeça se dirige até a porta e chama pela enfermeira em poucos minutos o ser indesejado que se desenvolvia em seu ventre seria removido.

****

Mitchel observa Ruby dormindo, ela não havia voltado ainda da anestesia mas o aborto tinha sido bem sucedido, era uma mulher jovem e até mesmo saudável apesar de usar drogas.
O médico sabia que era o correto a se fazer, o bebê podia vir com sequelas relacionadas às drogas que a mãe consumia, sem contar que não seria amado por ela e Luther provavelmente não daria suporte nenhum, o agora ex-amigo era um ser desprezível que ele odiava com todas as forças. Mitchel fez questão de levar o processo pra frente e Luther amargaria 20 anos na prisão além de ter perdido o direito de exercer medicina, uma investigação interna no hospital descobriu que o médico desviava medicamentos de uso restrito e os vendia no mercado clandestino. Apesar de Ruby não colaborar, o promotor aceitou a denúncia e mediante a depoimentos de profissionais que a atenderam, ele foi condenado, funcionários que trabalhavam no edifício que Luther morava, também deram depoimentos sobre o dia fatídico.
Ainda que ela estivesse na casa dele para fazer programas, o promotor e a juíza entenderam que ele agiu com más intenções, em casos assim não há um júri popular e Mitchel deu graças por isso, seu advogado lhe disse que as pessoas poderiam julgar a vítima por seu passado sem terem empatia nenhuma pelo sofrimento dela. A juíza por sua vez  ficou horrorizada ao ver algumas fotos de quando Ruby recebeu os primeiros atendimentos, questionou Luther e esse dava sorrisos cínicos e diabólicos, seu advogado usou a técnica de descredibilizar a vítima mas mesmo assim seu cliente foi condenado não só pelo abuso sexual como por roubar e vender medicação restrita.
Mitchel arruma a mecha de cabelo de Ruby que cobria parcialmente seus olhos, notou que o corpo dela não estava mais esguio como antes, em dois meses de gestação ela ganhou quatro quilos, ela já tinha um apetite admirável mas a gestação com certeza contribuiu ainda mais. Mesmo assim ainda era linda aos seus olhos.

– Você é tão linda, queria ser capaz de tirar a dor da sua vida.

Ruby continua a dormir alheia a declaração do jovem médico, Mitchel pega em sua mão e acaricia os dedos dela, a garota tatuou nos dedos da mão direita a palavra LOVE e na mão esquerda no dedo indicador um coração e no anelar uma rosa preta, Mitchel pensou no que poderia significar, ela não era romântica dissera a ele uma vez que amor era perda de tempo.
Ruby suspira e desperta e sente um peso na barriga e sua mão é segurada por alguém. Ao olhar para baixo encontra Mitchel deitado em seu ventre e sem aviso prévio o empurra.

– O que pensa que está fazendo seu idiota?

O médico se assusta com o empurrão e cai no chão, Ruby já era uma mulher difícil depois do abuso ficou pior. Levantando do chão e se recompondo do susto o médico fala:

– Ah que bom que acordou! Estava cuidando de você.
– Eu quero ir embora.
– Bom eu acho que você já pode, a anestesia já está passando, mas tenho que falar com a médica que realizou o procedimento, aliás, ela disse que você poderá ter filhos um dia ainda se quiser.
– Mitchel eu sou lésbica, pra que vou querer uma criança?
– Muitos casais gays têm filhos, sabia?
– Nossa! Sério? Me conte alguma novidade, gênio.
– Ok, eu quero que fique na minha casa por essa noite para observação.
– Não.

Ruby levanta da cama e começa a colocar sua roupa, não liga por Mitchel estar ali, o médico já vira diversas vezes seu corpo nu. Joga longe a camisola e tira o soro, observada por ele que suspira pela recusa dela, era inútil tentar convencê-la, a garota recusou também a carona que ele ofereceu, só queria virar essa página de sua vida.

Flashback Off

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