78 - merda

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“É preciso quebrar a cara diversas vezes pra entender que deixar alguém ir embora também é uma prova de amor, não amor por quem se foi, amor por quem ficou, amor por si mesmo. Em algum momento da vida você entenderá que é melhor deixar partir, do que ser partido.”
tumblr — Sean Wilhelm.

° T A V I N °

07/07/2021
Dez meses após a partida de Luana para a Europa.


— Sei lá cara, esse beat não tá encaixando Ciro. - resmungo, passando a mão no meu cabelo curto.

— Você tá enjoado mais que o normal cara. - brincou, tentando me animar. Sei que concordava comigo, a letra ficou uma porcaria nessa produção.

       O beat tem que entrar em conexão com a letra, porra. Se não, não me agrada!

— Só meio zoado da cabeça. - disse, espreguiçando na cadeira. Ele continua seu trabalho apesar da conversa.

— Tem a ver com ela?

       A pergunta fez com que eu desviasse os olhos, inquieto. Fui chicoteado com inúmeras lembranças com Luana.
       Quando a vi ir embora naquele dia no aeroporto, a gente falava um com o outro pelo celular, não era a mesma coisa depois de um mês há quilômetros de distância. A tentativa foi pelo amor que sentimos um pelo outro, por cuidado, respeito.
Depois de cinco meses, me liguei que aquilo ia acabar com a gente, e decidi que o melhor seria nos afastar de vez. A dor nos faz tomar decisões difíceis. E o amor também.

— Não.

— Mente demais mano! - riu, negando com a cabeça. — Habla comigo Tavin, o dia hoje marcou alguma parada importante?

— Todo dia com a Luana, era importante meu mano. Isso que é foda. - coloco meus óculos de grau, para descansar minhas vistas. — É só que a falta castiga mais em algumas paradas. Em alguns dias.

— Tô ligado... E como tá a mãe dela?

— A última vez que perguntei a Lívia, ela tava melhorando pacas do tratamento - sorri, sabendo como tudo mexeu muito com ela. Luana sofria e sofre junto com a mãe. — espero que ela melhore.

— Amém. Não pensa em voltar falar com ela? Pelo o que você conta, ela te fazia bem demais...

— Não sei se consigo. Não sei se consigo ser só amigo dela e não acredito em relacionamento a distância. - explico, sentindo que se continuasse naquela conversa... Começaria a chorar. — Afinal, seguimos nossas vidas...

     Ao escutar minhas palavras saírem da minha boca em tom de dúvida, me fez bufar. Mas que merda, Lua.

       Ciro ficou em silêncio, e agradeci mentalmente por isso. Fecho os olhos, ultimamente minha mente está mais inquieta que o normal e a porra da internet tá me adoecendo! O medo vívido de terem colocado a obrigação e responsabilidade de sustentar um único público nas minhas costas, é um fardo pesado. Tenho vontade de experimentar parada de música nova. Diferente. Mas ainda sou eu, ainda é o rap.

— Se liga nisso aqui, rei. - Ciro puxou minha cadeira, nos fazemos rir. E quando minha voz soou junto com o beat da música. Sorri de verdade, pela primeira vez no dia.

— É isso que eu tava procurando, meu mano!

[...]

— E quem disse que isso é problema meu? - cheguei xingando Lívia, que de dentro do carro reclamava do meu atraso. Se não a considerasse tanto, a mandaria para o inferno.

— Idai, que estamos atrasados porra! - exclamou irritada. Entro no banco ao seu lado, fechando a porta.

    Desde quando Lívia tirou a carteira, coloco o cinto por proteção. Essa mulher é maluca.

— Os cara pode esperar, mas que cacete! - joguei plástico de balinha em seus cabelos volumosos, cheios cachos.

Vê se larga de ser chata.

     Batia oito e meia da noite no meu relógio, e tava exausto querendo minha cama. Minha presença na resenha é por finalmente Thiago, Krawk e Leozin conseguiram se organizaram para um rolê nosso. Os de sempre, mas como tem sido há quase um ano, sem Nicole, Luana e Jade. Fiz uma careta, sentindo aquela dor no peito ao lembrar de minha melhor amiga. Merda.

— Leozin não veio contigo?

— Foi buscar Thiago e Krawk.  - explicou, acelerando. — Porra, as três fazem falta. - suspirou.

        Limitei em apenas concordar com a cabeça, e de forma esquisita, não teve implicância de nenhuma parte de nós ao longo do caminho até a casa do meu amigo. Nossas mentes estavam na falta que elas faziam.

       Olho o movimento das ruas, cansado e de certa forma triste. Triste por muita merda. Triste comigo mesmo. Sempre soube que o mundo é uma privada, só fingia não notar o quanto ele poderia feder e cagar na minha cabeça. Porra.

— Tavin, chegamos. - a voz de Lívia tira minha mente de uma puta viagem, e me retiro do carro batendo a porta. — Tem geladeira não, otário?

— Às vezes tenho vontade de te jogar de um penhasco. - sorri sarcástico para ela, que mandou um gesto obsceno em resposta.

     Encarei meus pés, e ao andar em direção a área de lazer da família de Leozin, me dei conta que não queria estar aqui. Não por culpa deles, mas por minha culpa. Tem certas noites que prefiro ficar jogando no silêncio do meu quarto. Ergo meu olhar, e travo.

Nem fodendo. Lívia fica atônita ao meu lado ao encarar ela, junto comigo.

Lua?

       Lívia chama paralisada, e sinto o bile subir na minha garganta. Ela continua a mesma, mas a mesma de forma diferente. Ela sorri em nossa direção, mas seu olhar está focado somente em mim. Luana abre os braços para receber a amiga, e eu continuo parado no mesmo lugar, sentindo meu coração me trair ao bater mais forte como da primeira vez que me apaixonei pela menina que retribuía o aperto de Lívia na mesma intensidade, rindo. E chorando ao mesmo tempo, como ainda me lembro.

ᕙ[・۝・]ᕗ

estamos de volta.
a nova fase vai esquentar.
dez meses
muda
muita
coisa.

o tempo é a nossa direção e perdição aqui.

   

Conexão || Tavin McOnde histórias criam vida. Descubra agora