𝐁𝐀𝐒𝐓𝐈𝐃𝐎𝐑𝐄𝐒

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Vocês não se gostam nenhum pouco, mas fazem par romântico em um filme.

━━━━━━ S/N ━━━━━━

Ouço o diretor dizer "corta" e desmancho meu sorriso que estava direcionado ao moreno distante que também fez o mesmo com seu sorriso de canto. Caminho em direção a cadeira que tinha o nome da minha personagem e começo a dar uma leve reforçada na maquiagem natural.

O garoto senta-se ao meu lado, pois essa era a sua cadeira, e a maquiadora vem em direção a ele, já que a próxima cena seria um pouco mais trabalhosa para o menino e a produção geral.

A cena da chuva com toda a certeza é a cena mais odiada por mim em todo o filme. Eu terei que fingir que amo o Miguel, que amo em um nível que não posso descrever em palavras; e isso causa-me náuseas.

Eu não tinha nada contra o garoto, gostei da sua atuação ao lado do meu amigo em O Telefone Preto, contudo, o garoto mostrou-se ser uma pessoa totalmente diferente com as câmeras desligadas, ele é extremamente ignorante e isso é algo pessoal, pois somente comigo ele tem esse tipo de comportamento.

Nunca pensei que um ser humano seria capaz de despertar o pior que há de mim, porém, Miguel Cazarez Mora provou ser digno do meu total desprezo.

— Estamos fazendo um filme de romance ou do Batman? — pergunta o mesmo e abaixo o espelho encarando o menino — Acho que o coringa seria perfeito para você, olha só, nem precisa mais se maquiar.

Reviro meus olhos enquanto vejo um sorriso se formar em seus finos lábios. A maquiadora já havia se distanciado do garoto e apenas arrumava o set para a cena da chuva, então, não daria trabalho algum por meu pequeno e improvisado plano em prática.

Pego meu estojo e vejo um batom vermelho líquido que tinha ali, efeito Matte, isso que estava escrito na embalagem, garanto que, isso não irá sair com facilidade. Abro o produto e passo no rosto do menino quando levanto-me, deixando uma listra vermelha de sua bochecha para a outra, ele encara-me indignado.

— VOCÊ É LOUCA!? — pergunta e passa sua mão para tentar tirar, contudo, isso espalha ainda mais o produto.

— Alguém avisa o Batman que o Coringa tá a solta! — falo rindo alto e isso chama atenção da produção, que observam Miguel com o rosto manchado.

Helena, uma mulher que cuida para que os atores sintam-se cada vez mais confortáveis e que tem um grande vínculo comigo e com o moreno, aproxima-se da gente brava. A mais velha manda Miguel ir até o seu camarim para tentar tirar a listra em seu rosto, depois encara-me furiosa.

Desvio meu olhar da mesma e comento sobre o set quase pronto, mas isso não foi o suficiente para ela mudar o seu foco.

— Entendo que não gosta do menino! Mas precisa aprender a trabalhar com ele! — fala e reviro meus olhos — Estou falando com você, respeite os mais velhos!

Entendo que isso pode atrapalhar nas gravações, contudo, esse garoto está tornando meus dias aqui cada vez mais insuportáveis. Seu sorriso, seu jeito, sua presença... Absolutamente tudo irrita-me!

— Helena! Entendo, mas não posso fingir que nada está acontecendo; esse garoto simplesmente vive para me provocar! — digo e ela concorda hesitante. Antes dela poder falar novamente comigo, todos do set terminam de montar o cenário simples e perguntam se os outros já estavam prontos.

Miguel aparece com seu rosto completamente limpo e um sorriso cínico formado em seus lábios direcionados a mim, poderia ter focado muito tempo nisso, se a maquiadora não estivesse me encarando brava, pois fiz a mesma ter mais trabalho — o que não era a primeira vez.

— Helena! Faça eles se entenderem, por favor! — diz a ruiva e caminha rapidamente para sua cadeira arrumando seu estojo.

A mais velha olha-me obvia e suspira fundo caminhando em direção ao set montado. Miguel está em frente a cerca e conversa rindo com o cinegrafista, caminho em direção ao moreno e paro em frente ao menino.

— Tudo bem... — o diretor fala — Acionem as mangueiras, por favor! — pede e sinto as gotas caírem em meu figurino, começando a encharcar nós dois — Ok... Prontos?... Ação!

— Que droga, Lilith! Você é tão... Tão estúpida! E completamente infantil! — o garoto fala e seus olhos encara-me, e por algum motivo, acabam tornam-se profundos e intensos demais.

Um estranho sentimento me toma ao encarar o menino por segundos. Miguel aproxima-se de mim e desvio rapidamente o olhar, mas logo volto o meu foco nos olhos do menino. Deus, sinto o ar escapar dos meus pulmões.

— Sério... Eu acho que não demora perceber quando alguém gosta de você, gosta tanto de você que esse sentimento sufoca! Esse sentimento faz você fazer coisas estúpidas e burras! Faz você querer chamar a atenção dessa pessoa de qualquer forma, mesmo que seja falando coisas que não são verdadeiras! Dizendo que seu cabelo está péssimo, quando ele simplesmente está perfeito; dizendo que ela não é boa no que faz sendo que ela poderia dar aulas; cara... Eu não entendo como você não percebe... Como você não percebe que eu... Eu te amo muito?

Encaro o menino desconfiada e vejo ele suspirar profundamente, depois passando a mão em seu rosto. Ouço palmas vindas do diretor e o homem elogia diversas vezes a improvisação do menino, e pega a toalha nos entregando.

— Isso... Isso foi... — as palavras se perderam em minha cabeça enquanto o garoto apenas encarava o chão — O que foi isso? — perguntei por fim.

— É o que deveria parecer ser — responde e sorri cínico — Vamos continuar a fingir nos odiar, até você assumir que me ama — fala e saí falando com o outro ator que assistia a gravação.

O que acabou de acontecer aqui?...

•━━━━━━ END ━━━━━━

𝐈𝐌𝐀𝐆𝐈𝐍𝐄𝐒 ᵐⁱᵍᵘᵉˡ ᶜᵃᶻᵃʳᵉᶻ/ʳᵒᵇⁱⁿ ᵃʳᵉˡˡᵃⁿᵒOnde histórias criam vida. Descubra agora