Inferno

450 45 32
                                    

Bella narrando- não tenho mais lágrimas para chorar, escuto vozes, gritos, sinto mãos passeando pelo meu corpo, não sei mais o que é real e o que não é, meu corpo formiga , minha boca tá seca, minha cabeça dói, não sei mais se  é dia ou  é noite, o tempo tá me deixando maluca.

XXX- acorda vadia.

Abri o olho, olhei o teto branco com a luz forte, minha barriga tá doendo, tô com fome, com sede, com dor, essa criança tá crescendo em mim não vai resistir a esse sofrimento todo.

Uma voz grossa e forte despertou meus pensamentos, o agente que tá me vigiando.

XXX- senta vadia, é hora de comer pra ir pra casa.

Casa? eu tinha uma casa, uma família, que não era perfeita más era a minha casa, pensei na minha cama confortável, nas minhas roupas caras, na geladeira cheia, lembrei do meu filho sentado no sofá, do MB chegando em casa, da Elisa eu não tava lá para ela, eu tinha tudo e transformei em nada, perdi tudo, achando que podia ter mais.

Sentei com dificuldade, as costas dói onde o Samuel acertou o tiro, será que ele me mataria? Meu coração dói por prnsar nisso. A mão algemada  presa na maca não me deixa me posicionar direito, uma bandeja é colocada em cima das minhas pernas, talheres descartáveis, comi o arroz papado, a carne cozida , dura e salgada, um purê aguado, comida gelada e um copo de água.

XXX- faz cara feia não porra, perto da comida da cadeia isso ai é manjar. 

Não respondi, continuei comendo. Ouvi a voz do Fábio e ignorei, vi um vulto passando e sorrindo, fechei os olhos, acho que tô ficando maluca ou é o efeito dos remédios ou da fome. O agente ficou na porta me olhando comer.

XXX- como que uma mulher tão linda como você pode ser uma criminosa da pior espécie,e olha que eu já vi muito bandido ruim nessa vida, más igual a você, nunca!

Não me importo com o que ele fala, não me importo com ninguém. Entrou dois agentes, enormes, acompanhados de um médico.

Médico- você tá de alta.

ele entregou um papel para o agente.

Agente- vamos tirar as algemas, não tenta nenhuma gracinha.

Enquanto um deles aponta a arma na minha cara, o outro abre a algema, e já me vira de uma vez prendendo as duas mãos para trás, gemi quando ele puxou minha mão com força.

XXX- chora não porra!

Ele me puxou pelo braço me fazendo pular maca para o chão, senti uma pontada forte no ferimento do tiro, más me segurei para não gemer, nem chorar, ou fazer barulho. Arrastada pelo corredor do hospital , de cabeça baixa eu vou caminhando, jogada dentro de uma viatura, uma policial mulher, com a cara fechada, me olha.

XXX- essa dai é aquela que matou o filho?

Matei meu filho, de todos os feitos da minha vida esse foi o pior deles vai sangrar enquanto eu viver, sofrimento nenhum na minha vida vai ser pior do que a dor ter tirado a vida do meu filho.

Encaminhada para uma audiência de custódia só para ouvir que a prisão preventiva foi decretada, me jogaram uma roupa branca para vestir, os protocolos realizados todos dentro da lei que eu conheço bem.

XXX- Deu sorte tem curso superior, vai para cela especial vadia, seguro pra você como exige o estado, e seu advogado foi ligeiro.

Advogado? Que advogado? A defensoria pública não seria tão rápida. A agente penitenciária me levou até a cela especial e segura segundo ela, as presas em outras celas  fazem um barulho insuportável a cada passo que eu dou, elas batem objetos na cela e gritam sem parar, elas me olham como se quisessem me devorar, matar o próprio filho para a sociedade é um crime bárbaro, e para mães como a maioria aqui é inaceitável.

Liberdade Condicional (cárcere 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora