Final - Parte 1

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Sofia narrando- eu não sei bem se eu nasci, para ser do crime, eu cresci no meio do movimento, sou filha do crime, sou "cria" como diz a maioria, eu sei como isso tudo funciona, eu sei também o preço caro que se paga para viver do tráfico. Eu decidi ficar a frente do morro, por amor, eu sabia que o Gael, não ia conseguir cuidar do Rick, e ficar na frente do morro dos prazeres.

Porquê meu coração tá assim encolhido? Como se quisesse se esconder de uma verdade que eu e ele já sabemos, uma verdade que tentamos por anos suportar, só eu e esse meu coração bobo sabe. O Gael não se sente em casa aqui no morro, e ficou aqui pelo pai dele, não foi por mim. Desde o dia do velório do pai dele, que ele tá estranho, mal fala comigo.

Subo para a lage da boca, para ficar um tempo sozinha,e olhar a favela daqui de cima. Olha e não ver as pessoas que faziam eu me sentir viva, que me faziam sentir em casa, não tenho mais ninguém, me apaguei a uma esperança que eu sei que pode se apagar,assim que o Gael quiser voltar para o lugar onde ele se sente em casa.

O Rádio barulha, é o segurança avisando que o Samuel tá subindo, disfarço as lágrimas e levanto, não quero que ele veja que sou fraca, que tô aqui feito uma idiota chorando por macho como ele mesmo diz.

Não dá tempo de descer, ele subiu antes. Antes que alguma palavra saia da minha boca ele me abraça.

Samuel- Lembra quando minha mãe queria colocar você de castigo, e você vinha correndo pra cá e meu pai te escondia aqui em cima?

Meu coração disparou, eu não lembrava disso, más agora que ele falou, eu lembro do meu pai me escondendo aqui em cima, até a minha mãe se acalmar.

Samuel- você não tá curtindo essa parada de ser dona de morro né?

Soltamos o abraço, ele senta balançando as pernas olhando para o morro, sento do lado dele, deito a cabeça no ombro dele.

Sofia- essa favela parece maior, a cada vez que eu olho para ela, eu me sinto sozinha.

Samuel- você nunca vai estar sozinha, eu tô aqui, mesmo que eu esteja lá no São Carlos, é só você assobiar que eu venho correndo.

Sofia- eu sei, más é diferente, a vida de todo mundo andou, a minha não.

Samuel- e o poderoso chefinho? Vocês não estão mais juntos?

Sofia- eu não sei, depois do enterro não nos falamos, eu não sei, acho que ele só ficou aqui pelo pai, e agora nada mais prende ele aqui, e mesmo que ele tenha feito promessa e juras de amor, era porque tava fragilizado, e eu já ouvi essas promessas antes.

Samuel- ele deve tá fechado, vivendo o luto, se culpando, sei lá, ele deve tá mal.

Sofia- eu já tentei falar com ele, eu esperei anos para chegar um dia que  só eu sonhava, eu troquei o Fumaça que era uma cara legal por ele, eu fiquei na frente do morro por ele, e ele só me ignora, age como se eu não existisse.

Samuel- ele tá precisando de um tempo,só isso.

Sofia- ou decidindo voltar para a Espanha, para a vida de chefe da Máfia dele, e não sabe como dizer.

Samuel- quer que eu fale com ele? garota órfã dramática.

Sofia- pegou pesado.

Ele me fez rir.

Sofia- não precisa, se ele quiser que venha atrás de mim.

Samuel- tá bom então, eu só quero que você seja feliz, não precisa se prender ao morro, a escola de teatro, a nossa casa, isso tudo fica para trás, quando o coração resolver partir. Se ele é o homem que você ama, e se você quiser ir com ele, ser a patroa da máfia, eu vou estar do seu lado, se você tivesse ido a primeira vez que ele quis te levar, talvez não se sentisse assim agora, você não precisa ter medo, tudo o que tínhamos medo aconteceu e nós ainda estamos aqui,vivos, fortes, prontos para amar quantas vezes a vida quiser que a gente ame, porque se tem uma coisa que nunca vai nos faltar é amor.

Liberdade Condicional (cárcere 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora