Liberdade Condicional (cárcere 2)

Sepultamento

Elisa narrando- queria por um minuto abrir os olhos e ver que tudo que aconteceu foi um pesadelo, sinto o peso do mundo caindo sobre mim e tá pesado demais para segurar, tudo é dor e mágoa, o coração tá encolhido de tanta tristeza, eu não tenho mais forças para sobreviver a isso tudo.

Meu pai adormeceu no sofá, fiquei com dó de acordar ele, cobri ele e fiquei olhando ele dormir, quem vê ele assim tatuado, cara de mau, armado, bandido, não é capaz de imaginar o coração lindo que ele tem e o quanto a vida também foi ruim com ele, que por trás dessa marra tem um homem incrível que merece ser feliz de verdade, sendo ele mesmo.

Passei a mão no cabelo dele.

Elisa- eu nunca vou deixar você pai, nunca, por você eu movo esse mundo inteiro.

Fui na cozinha tomar água, decidi dormir aqui, amanhã vai ser um dia difícil, para muita gente. Subi as escadas, olhei de cima do último degrau, me bateu uma tristeza, um vazio, fecho os olhos e consigo ouvir a voz da minha mãe cantando os pagodes dela enquanto faz a janta, consigo sentir o tapa no ombro que o Fábio dava toda que passava por mim só pra implicar comigo, nem tudo era ruim, tivemos lembranças felizes também.

Entrei no quarto da minha mãe, olhei as roupas dela, os perfumes, fotos, tudo tão arrumado do jeito dela, fiquei triste ao olhar para a cama dela e lembrar de quando ela me pediu perdão e como me senti segura nos braços dela, talvez essa também foi a segurança que o Fábio sentiu, que enquanto ela tivesse com ele nada de ruim poderia acontecer com ele.

Depois de pensar em um milhão de coisas ao mesmo tempo eu consegui dormir, sonhei com o Kauã, em um jardim lindo com flores de todas as cores, o sol brilhando o vento suave, ele tava lindo vestido com uma roupa branca, sorrindo pra mim, corri para ele com tanta força e o mais rápido que pude, abracei ele e senti uma paz tão grande, ele beijou meu rosto, eu chorei más não sei qual era o motivo, as pontas dos dedos dele brilhavam, ele enxugou minhas lágrimas, e falou olhando para mim.

Kauã(off)- você é mais forte do que imagina, e vai precisar ser, eu vou tá com você, você só vai precisar fechar os olhos e vai ver que eu sempre estive aqui, eu te amo!

Ele colocou a mão na minha barriga, me olhou e se foi com o vento, gritei o nome dele, no meio das flores, más ele não voltou, me ajoelhei ,chorei tanto que acordei chorando e com o peito doendo de saudades.

Diferente de outros sonhos eu lembro de cada detalhe, consigo sentir o cheiro das flores, a voz dele, tudo pareceu tão real.

Eu não sou forte, eu sou uma menina de 17 anos que acabou de descobrir que tá grávida de um homem que não quer o filho, que daqui a pouco vai enterrar a mãe e o irmão, que não sabe como lidar com a dor do pai, que não consegue chorar pela morte da mãe, que acabou de descobrir o amor verdadeiro e não pode viver esse amor, que tá com medo de perder esse amor, eu não tenho de onde tirar mais forças.

Levantei tomei banho, me arrumei e desci, meu pai já acordou, está vestido de preto segurando a aliança dourada, com o nome da minha mãe gravado nela, olhando para aliança perdido, procurando respostas, tentando entender alguma coisa.

Sentei do lado dele, beijei o rosto dele.

MB- Bom dia meu amor.

Elisa- acho que esse vai ser um dos piores das nossas vidas pai.

MB- vai sim!

Elisa- eu te amo!

MB- o iml confirmou a identificação dos corpos.

Saiu estranhamente rápido a análise dos corpos, não sei se o meu pai pagou pra isso, ou como foi feito com tanta rapidez.

Elisa- acho que podemos ir então.