Promessas

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Kauã narrando- sair do crime é um bagulho quase impossível, sair de uma facção é pior ainda, é como trair a família, é virar as costas. Entrar para o comando é fazer um pacto de sangue, não tem saída.

Fico na base esperando o Neguim dar as caras, já perdi as contas de quantos baseados eu fumei, mandei o Fumaça dá um rolé e me deixar sozinho, sozinho com os meu pensamentos, pela minha filha vale qualquer promessa, qualquer esforço, vale a minha vida se for preciso, o Lucas entra na sala.

Lucas- e aí mano!

Kauã- e aí? Tá de boa?

Lucas- nada! Passei a noite em claro, vim trombar o MB, deixar a máquina, as paradas e falar pra ele e que vou sair da boca, cumprir a promessa que eu fiz.

Kauã- na real, eu queria que meu chefe fosse o MB, ele vai aceitar tua saída de boa, no meu lugar cumprir essa promessa aí, é mais complicado, os cara vai querer arrancar minha cabeça.

Lucas- aí mano, eu já fiz a promessa  vou cumprir minha parte, promete outra parada mano, Deus tá ligado do teu coração irmão, os cara do comando não vai abrir mão da liderança que mais rende pra eles, tu sabe que não vai.

Kauã- vou trocar ideia com o Neguim, se eu tiver pelo menos um deles do meu lado, pode dar bom.

Lucas- pode crê, qualquer parada que rolar, tu tá ligado que eu sou por tú mano.

Kauã- valeu irmão.

Ele dá um tapa no meu ombro, e sai. O Neguim entra sorrindo.

Neguim- olha ai o cara! a lenda do comando, que tira qualquer um da cadeia e tira dinheiro de onde ninguém mais tira,

Ele aperta minha mão.

Kauã- e aí foi mal , te fazer vim aqui nas tuas férias e pá!

Neguim- já viu bandido tirar férias mano? Nois é o corre e o corre é nois. Más de qual foi a fita, pela tua cara a parada é séria.

Kauã- aí mano, quero sair da facção, sair fora do crime, viver comum tá ligado?

Ele sorri , abaixa a cabeça e me olha.

Neguim- tá falando sério mano?

Kauã- tô mano,quero ter uma vida limpa.

Neguim- essa nossa sujeira não sai não irmão, é impregnado na alma, não tem como mano, não tem como alguém como nós,ter vida comum de trabalhador de boa não, alguém vai conhecer alguém, que vai lembrar de nós e do que a gente fez, pra ter essa vida aí, tu tem que pagar o que deve pra justiça, e nem se tú tiver sete vidas vai dar pra pagar.

Kauã- mando fazer identidade nova, saio daqui ,voi morar em outro lugar.

Neguim- tu pode morar é do outro lado do mundo, tua cara tá estampada na lista dos mais perigosos, dos mais caçado, do lado de terrorista, traficante de órgão, sequestrador de criança. O bandido pode até largar o crime, quero ver o crime sair de dentro do criminoso.

Kauã- eu faço meu corre depois, dou meu jeito, só preciso sair fora do bagulho.

Neguim- na moral, é o que tu quer? De verdade? Fala aí mano, tu quer ter trampo de boa, morar longe, fazer panqueca no café da manhã, molhar as plantas, lavar o carro no domingo, assistir o jogo na TV, é essa vidinha aí que tú quer?

Kauã- nem é uma parada de querer, é que eu fiz uma promessa e vou ter que cumprir, foi pra salvar a vida da minha filha.

Neguim- promessa é foda! Se é isso ai que tu quer, eu vou dar a voz, más tu tá ligado que eu sou só uma voz, os cara é mais, e tu sabe como funciona, a chance da tua filha ficar sem pai é maior, tú sabe os segredos do comando, conhece os cara tudo, de dono do morro, a dono do estado, juiz,  e a porra toda, o bagulho não vai ser fácil não pô.

Liberdade Condicional (cárcere 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora