Capítulo 67

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1 ANO E 5 MESES ANTES


Eu estava deitada dentro da segurança de uma banheira vazia no meu quarto de hotel, grande demais para uma só pessoa e ainda usando as mesmas roupas do meu show daquela noite. Essa era a pior parte, depois que a adrenalina de subir em cima do palco passa e a realidade bate, depois de estar cercada de pessoas e finalmente estar sozinha, essa sim é a pior parte. É a hora que você realmente se sente sozinha. Pressionando meu celular contra a orelha e ouvindo a chamada tocar, tocar e tocar até cair na caixa de mensagem, como de costume. A voz da mensagem familiar pedindo para deixar um recado.

- Oi, sou eu. - Falei e suspirei, fazendo uma pausa para dar um trago no cigarro preso entre meus dedos. - Eu sei que disse que não ia ligar mais mas eu to pensando em você, fumando um cigarro em uma banheira vazia em um hotel caro. 

Dei uma risada sem humor.

- Sinceramente, eu to cansada.

É exatamente assim que eu me sentia, a sensação de um relacionamento maravilhoso entrando em colapso é exatamente igual ao de um quarto de hotel caro. Um lugar que deveria ser luxuoso e bonito se torna apenas grande e vazio e sem graça, onde uma única pessoa fica sozinha presa ali dentro sentindo tudo. Eu estava realmente cansada de carregar essa culpa sozinha, como se fosse apenas minha que a gente acabou.

- Eu não sei o que eu fiz pra merecer essa distância, Malu. Mas isso tem que parar. - Deixei a mensagem para ela. - Te amar desse jeito não me faz bem. Essa é minha última mensagem pra você, eu só queria dizer que...

Mas o bipe informando que o tempo da mensagem já havia dado me cortou. Olhei pro meu celular e desliguei a chamada, levando o cigarro aos meus lábios de novo. Abri o contato com o nome dela no meu celular e deslizei o dedo pela tela, pressionando Apagar Contato destacado em vermelho.


DIAS ATUAIS


Me lembrando daqueles dias eu sentia a raiva tomar conta de mim, me fazendo acertar os socos cada vez mais fortes contra as luvas de aparador do Xamã, sentindo o suor escorrer pelo meu rosto.

- Au! - Ele gemeu e deu um passo para trás. - Vamo dar um tempinho aí, Jackie Chan! Preciso deixar o sangue circular nos meus braços.

Olhei pra ele irritada e ofegante, comecei a tirar as luvas de luta das minhas mãos e fui pegar uma garrafa de água enquanto ele tirou suas luvas também. Já faziam alguns dias desde o que aconteceu na festa, eu não tive mais contato ou notícias da Maria Luz e nem queria, mas eu continuava irritada. 

- O que você vai fazer nesse final de semana? - Ele me perguntou.

- Trabalhar. - Falei. 

- É seu primeiro final de semana livre e tu vai trabalhar?

- Tenho uma sensação no estúdio com o Doggie e o Baco amanhã, tenho que aproveitar que to inspirada. Vou almoçar com a Lud e a Bru hoje na casa nova delas, faz tempo que não vejo elas.

- Pelo menos tá canalizando sua raiva em música e não em me bater.

- Pois é! - Sorri pra ele.

- Não teve mais sinais da Malu?

- Não e nem quero. 

- Você vai ver a Lud e a Brunna, elas com certeza viram ela. 

- Provavelmente mas e daí? Tenho que lidar com isso, infelizmente temos os mesmos amigos e ninguém é obrigado a ficar tomando lados porque eu namorei quem não deveria.

era uma vez // LUÍSA SONZAOnde histórias criam vida. Descubra agora